Sábado, 26 de Junho de 2010

NO EMBALO DA SURPRESA

Luis Castellanos

 

As melhores casas do mundo não precisam de figurar nas revistas como exemplo de boa arquitectura e melhor recheio. As melhores casas do mundo estão forradas com a música dos afectos que tocam harpa ou jazz na pele. As da família, dos amigos, aquela onde vemos diariamente os «repolhos» ou os repolhos plantados em frente das janelas. Onde acordamos, pacíficos, em harmonia com a persona, a pessoa, as pessoas que sentem os acordes de um saxofone dançando com o piano de cada dia e de todos.  

 

Podia viver sem jazz no corpo? Resposta banal:

_ Podia, mas não seria a mesma coisa.

No ritmo sem partitura, há improvisação e alma. Há a do músico e as dos outros que o acompanham na partilha. O dedilhar e o sopro no clarinete, no saxo, o baile dos dedos no contrabaixo ou na guitarra. O embalo da surpresa por cada nota suspensa no ar.

 

E vem ao caso poema de Adolfo Casais Monteiro aqui trazido por alguém que a memória não identifica. Com gosto o li, com gosto o deixo.

 

Jazz

                                      

Numa cadência de enigma

entrecortada de espasmos

saltos berros mil ruídos

o jazz canta a saudade

dum sonho que não se sabe.

Chora o jazz a velha perda

dum paraíso qualquer

deixado em longes de sombra.

E no seu ritmo diverso

langoroso e crepitante

martelado e insistente

triste e cheio de alegria

do que há muito está perdido

 

 “Presença nº 19”, Adolfo Casais Monteiro

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 11:01
link | Veneno ou Açúcar? | favorito
9 comentários:
De Veneno C. a 26 de Junho de 2010
Melaço - As melhores casas do mundo.
Casas ou não casas?
É lá com ela... (http://video.google.com/videoplay?docid=8250255047956481627#)
De Maria Brojo a 28 de Junho de 2010
Veneno C. - aprendi as «vertentes». Ouvi, vi e repeti. Jacinta '4ever'! Thanks.
De António a 26 de Junho de 2010
casas outras, não as sei...!

Jacinta ok, forever!!

mas há anos, décadas, num "Caldeirão" da nossa Lagos dos bares de A a Z, aprendi a respeitar o palco do jazz, do sentimento vertido em improvisos sabiamente estudados e ensaiados, onde regresso no Onda Jazz de Alfama em noites inesquecíveis de ruelas partilhadas com o fado e uma ambiência tão portuguesa e lisboeta que nos põe de volta à grande alface mesmo nas Yorques das blue notes!!!

;_)))



De Maria Brojo a 28 de Junho de 2010
António - porque será que as 'blues notes', apetitosas em qualquer lugar, sabem melhor na Yorque? Será pela skyline, pelo temperamento da cidade, de Harlem, dos recantos soltos que apetece peregrinar?
De luis eme a 26 de Junho de 2010
sim, o jazz é muito a música dos "perdidos"...

daqueles que fazem equilibrio na "corda bamba" da vida...
De Veneno C. a 26 de Junho de 2010
Perdidos & Achadas (http://www.youtube.com/watch?v=R7Nb9UPdx4g&feature=related)
De Acúçar C. a 27 de Junho de 2010
Cerejas - Agora que a época está quase no fim, há que as aproveitar e deixar-se arrastar por elas, comme d'habitude , entrar no manicómio do outro e sentir-lhe as diferenças. De Durban ao Porto, Passando por Lisboa (http://www.fpessoa.com.ar/carta.asp)

PS- Engraçado, como numa versão argentina um beirão é um habitante das Beiras lisboetas. Mais seria se lhes chamassem Bordas ;-)
De Maria Brojo a 28 de Junho de 2010
Acúcar C. - "(Interrompo. Não estou doido nem bêbado. Estou, porém, escrevendo directamente, tão depressa quanto a máquina mo permite, e vou-me servindo das expressões que me ocorrem, sem olhar a que literatura haja nelas. Suponha – e fará bem em supor, porque é verdade – que estou simplesmente falando consigo.).

Maravilha como mote do pensar. Obrigada.

A sua última frase é preciosa.

De Maria Brojo a 28 de Junho de 2010
Luis Eme - perdida me confesso, conquanto não me 'veja' assim.

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