Silva Palmeira
L. M., bom amigo, propunha-se ler, calmamente, a revista do semanário, refastelado no altar da «casinha». A meio do alívio, abonou-se de papel, largado, após, na cova do altar. Continuada a leitura enquanto mais não chegava, ao desfolhar o papel, fez golpe no dedo. Hipocondríaco, alcançou álcool e algodão, não entrasse “microbicharada” na ferida, talvez infectando, depois, causa duma septicemia mortal. Tratado o golpe, o algodão fez companhia do papel e aos despojos. Aceso um cigarro, continuou a leitura. Lançou a beata para a cova. Deu pela coisa quando traseiro e apêndices passaram de quentinhos a pasto de chama. Levanta-se de supetão agarrado ao essencial, desequilibra-se, bate com o cocuruto na esquina da bancada. INEM, hospital, pudendas queimadas e cabeça rachada. The End.
Livre-arbítrio: “possibilidade de decidir, escolher em função da própria vontade, isenta de qualquer condicionamento, motivo ou causa determinante.” Agimos isentos de condicionantes? Determinismo ou liberdade nas escolhas? Neste particular, há muito que a Filosofia anda às turras. Facto é as sociedades resultarem do passado, do presente, de cada um e todos se defrontarem com os resultados das acções.
Defuntos e vivos são culpados da miséria, desemprego, violência. Esta realidade permite a milhões o livre-arbítrio? Por tudo ganha terreno a concepção determinista: todos os acontecimentos resultam de circunstâncias anteriores. Mas não foi o L.M. que decidiu desinfectar a ferida? E fumar? E ler o jornal na «casinha»? Porém, existiu mando interior que não envolveu decidir. É hipocondríaco sem ter escolhido a mania num amanhecer rezingão.
Neste tempo, vinga o “livre-arbítrio compatibilista” (paridade do determinismo com a liberdade de escolhas). E trago uma estória de Voltaire sobre o passarinhar no mundo de um sujeito chamado Cândido incapaz de optar.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros