Quinta-feira, 30 de Setembro de 2010

CASADOS HÁ UM ANO E PÓS DE OUTRO

Antonella Cinelli, Liza Hirst

 

Ela tem vinte e nove, ele, trinta. Estão casados há um ano e pós de outro. Sem filhos. Ignoro antecedentes do par constituído, a posteriori, oficialmente – se houve o possível conhecimento mútuo, convivência íntima regular como a idade dos intervenientes indicia, se esporádica e superficial, portanto, insuficiente, se ela valoriza a passividade ou é crente no ‘ele muda’.

 

O caso tem quê de raro como queixa feminina motivadora de divórcio. Ela afirma-se incapaz de copular satisfatoriamente com o marido pela necessidade sistemática dele utilizar dose massiva e costumada de vernáculo inabitual durando o acto. No quotidiano, polido e terno. Na cama, transfigurado em papagaio. Quem lhe partilha o sexo, duma vez, vê todas. A continuidade é prova. E ela rejeita. Mal começa o débito, perde o estímulo. O acto sexual de potencialmente gratificante passa a fita gasta. Fosse ele mais contido no verbo, e tudo iria bem, afirma.

 

Não constando a obsessão contada das parafilias conhecidas, junto-a a outra também sem designação constante dos desvios sexuais – para acto satisfatório, engendrar, verbalizar, forçar anuência a fantasias de ménages a trois ou a muitos.

 

Voltando ao reconto vero. Perante a queixa e atitude desvalida, a pergunta foi óbvia: _ Porque não conversas com ele? Manifestas o teu desagrado, ouves, argumentas, colocas dúvidas não sendo clara a razão da persistência. Resposta: _ Não sou capaz. Jamais poderia ter a iniciativa de um diálogo sobre isto. Não consigo; apenas a ideia me viola.

 

A perplexidade da interlocutora é visível quando ela diz doer-lhe acabar o casamento por razão esta. Insiste: _ Já pensaste como a tua atitude é passiva? Que um casamento constrói-se fincado no diálogo tranquilo? Que numa relação afectuosa não há limites para a sexualidade, salvo estando em causa o desgosto do outro? Tens um desgosto. Conta-lho.

 

Sendo o (des)caso de hoje e não de quarenta anos recuados, como entender a incapacidade de comunicação? Reservas que Freud explicou ou tentou ou devia? Subterfúgio para razões outras e decisivas?

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

Cortesia de Veneno C.

 

publicado por Maria Brojo às 09:41
link | Veneno ou Açúcar? | favorito
10 comentários:
De perseu a 30 de Setembro de 2010
Um modus vivendi muito frequente.
Parecem-me ser irrelevantes as razões invocadas para um divórcio.
A ser verdade sem duvida que o homem só deve ter tido contacto,em solteiro,com sexo pago,ou filmes porno.
Tambem pode ser uma tára.
No entanto o relato da mulher deixa-me serias duvidas.

Pessoas com boa vontade SIM,anjos NÃO,desculpas mal amanhadas JAMAIS.
De Corrector Ortográfico a 2 de Outubro de 2010
Um modus vivendi muito frequente.
Parecem-me ser irrelevantes as razões invocadas para um divórcio.
A ser verdade sem dúvida que o homem só deve ter tido contacto, em solteiro, com sexo pago, ou filmes porno.
Também pode ser uma tara.
No entanto o relato da mulher deixa-me sérias dúvidas.

Pessoas com boa vontade Sim, anjos Não, desculpam mal amanhadas JAMAIS.
De Maria Brojo a 3 de Outubro de 2010
Perseu - compreendo-o. Uma de muitas hipóteses posssíveis.

Também eu desconfio da alegação feminina. Tem o seu quê de estapafúrdio. Dissimulação?
De António a 30 de Setembro de 2010
[...]

pronto, voto no subterfúgio para razões outras e decisivas

ah... filias e parafilias mil espreitam a cada esquina, digo, a cada alma, porém trata-se ou tenta-se, né?

pode é ser outro enredo...

;_)))


De Maria Brojo a 3 de Outubro de 2010
António - e na concórdia vão três...
De Veneno C. a 1 de Outubro de 2010
O mais inocente aqui é o 'mojado'.
E eu sinto-me obrigado por isso.
Se isto não fosse ficcionado, acharia o tema escabroso.
Pior que o 'Sexo sim... mas com orgasmo'.
Faz-me pensar em abutres... :-(
Já aqui se defendeu o vernáculo, o selvagem, o primitivo, o garanhão.
Já se neutralizou o Freud.
As tentativas de entender o (des)caso de hoje são fantasias inconsequentes, quando confrontadas com uma evolução de quarenta anos que deveria ter eliminado os problemas da comunicação. Uma panaceia? Quem diz que não há cada vez mais problemas de comunicação? Comunicar é uma arte? Tem regras? Tem níveis? Tem. Que cada vez mais se escamoteiam.

http://www.youtube.com/watch?v=-x2ww2jQyv8
De António a 1 de Outubro de 2010
bem visto e bem dito, aliás validamente bem para além da crónica diariamente em apreço e seus (quase sempre, a grande maioria, felizmente) bem intencionados comentários

mas, além da prazenteira partilha e dos benefícios de um pretexto prazenteiro para se ler, escrever e, assim, aprender, há ou pode haver uma expectativa de evolução e aperfeiçoamento, nosso e alheio, motivo afinal bastante para dar por bem empregue o latim, o tempo e a conta da luz

prova é a vitalidade da blogosfera e o saldo francamente positivo de acrescento à sociedade, em informação e debate, em hábitos de apresentação de temas e argumentos, em exposição de ideias e riscos, em divulgação de factos, opiniões e obras técnicas ou artísticas, em sublinhados valiosos que melhoram o dia e, porque não?, o ser

e depois, decerto não por último pois falta-me o saber, é por comentários como este a que respondo, sem encómios mas surpreendido pelo substancial de que muitos se abstém, isto quando o há, que vale a pena dedicar uns minutos diários a esta janela e desfrutar a paisagem, quiçá plantar algo que a não estrague muito e alimente o que outros poderão encontrar e criticar, de preferência construtivamente e sem importar a quem

assim é o bem

;_)))
De Veneno C. a 1 de Outubro de 2010
Nada vou acrescentar, para não estragar.

O bem é contagioso, como o mal, ambos podendo tratar-se com veneno, com açúcar, com sal?

E para a autora que diariamente nos embala(*), o 'mojado' elevou-se e sente-se nos astros: virou 'satélite' ;-)

http://www.youtube.com/watch?v=Ym6A1SMsemg&feature=player_embedded

* - embalar
(latim tardio ballo, -are, dançar, bailar)

v. tr.
1. Baloiçar, no berço ou ao colo, geralmente para adormecer ou acalmar. = acalentar, ninar
2. Fazer oscilar. = balançar, baloiçar
v. tr. e intr.
3. Provocar uma sensação agradável.
4. Dar esperanças mentirosas ou ilusórias. = embair, entreter, iludir
v. tr., intr. e pron.
5. Dar ou ganhar velocidade. = acelerar
De Maria Brojo a 3 de Outubro de 2010
Veneno C. - não entendo porque considera escabroso qualquer crónica que aborde 'sexo'. Faz para da vida, não? E sabe? _ Os puros nunca somos nós.
De Veneno C. a 3 de Outubro de 2010
Não é qualquer crónica que aborde 'sexo'. É o escabroso da cena que explora o que não devia ser explorado, sem fim à vista, que não seja profanar a intimidade. No profissional, e no amigo, há o sigilo. Como na justiça. Aqui há violação... que acaba numa suposta pista, sem remissão: incapacidade de comunicação. Contradição: até comunicou. A quem não devia. Que a usou e não ajudou. Aproveitou?

Onde estão os puros? Eu revejo-me no 'mojado'. E detesto os outros papéis... que acabam em duvidosa
saída. Sem saída. Melhor seria não ter entrado?

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