Quarta-feira, 6 de Outubro de 2010

QUEM NÃO MANDUCA, NÃO TRABALHA

Mathew Carlton, John John

 

Tenho amigo que resiste à designação ‘Funcionários Públicos’. Classifica-os como ‘Colaboradores do Estado’. Fundamenta: _ “Toda a pessoa que exerce profissão em qualquer sector da actividade pública não é um servidor, nem um assalariado, nem mero funcionário pelos contributos que devem ser valorosos no serviço comandado pelo Estado a favor da sociedade.”

 

A conversa sobre o tema bailou durante jantar com seis presenças: duas crianças, um trabalhador privado, três funcionários públicos. Entre garfadas de arroz de pato à transmontana, um tinto de fazer vibrar o basalto das calçadas e petiscos mais, o bailarico/diálogo foi agitado sem que perturbasse a calma do palato e do pós-prandial.

 

O ‘privado’ lembrou as horas fiadas de labor depois de findo o horário ou falta dele – neste caso, prolongada a dedicação ao trabalho e consequente rapinice ao tempo privado da vida. Dois dos ‘públicos’ como tições pelos 5 a 10% surripiados ao vencimento mensal. Adiantou um: _ “No meu sector, é consensual diminuir o labor em percentagem semelhante à do novo rendimento. Quem não manduca, não trabalha e mais não há a dizer. Carreiras iniciadas com perspectivas que o Estado assumiu, negam fundamentais e brutais mudanças de regras indo a meio o jogo em relvado mal semeado e ralo.” O segundo concordou. Fez denúncia dos abusos das chefias, da subserviência requerida, das lutas intestinas para “o meu brilho ser maior que o teu”. O ‘privado’ não se ficou: _ “Não restrinjas ao desconsolo do teu umbigo a queixa feita. Desde há muito, conhecemos os tropeções que descreves e constam do desafio na progressão da carreira. Para nós é simples: _ És de bom para cima, ficas; és suficiente ou medíocre e segues caminho para a rua. Sem contemplações. Diz-me se no público é assim.”

 

O ‘público’ terceiro entrou na roda. Entende razões de todos e constata falhas de sucessivos poderes que desgovernaram um caos trôpego de velho e cujo músculo cardíaco entrou em falência. Tanto se empanturrou pela satisfação de apelos/colesteróis primários, que entupiu os vasos por onde o sangue vital circula. Agora geme, respira mal, move-se com a Europa inteira em carrego nas costas. E mais se curva perante ela. Lerdo, não lobriga melhoras. Pois devia – mudar radicalmente de cima para baixo, explicar segundo a regra do espelho, constituir exemplo coerente sempre convenceu.

 

Terminou o repasto e o serão em gargalhadas apetitosas. Português é assim: da desgraça faz graçola.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

Cortesia de Anónimo

 

publicado por Maria Brojo às 07:37
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9 comentários:
De -pirata-vermelho- a 6 de Outubro de 2010
Dá licença que sublinhe?
('brigado)
" Lerdo, não lobriga melhoras. Pois devia – mudar radicalmente de cima para baixo(...).

Terminou o repasto e o serão em gargalhadas apetitosas. [O]Português é assim: da desgraça faz graçola" e não projecta no futuro o peso desse bem-estar fictício.

Dez séculos nos contempélam... e não há diferença estrutural os públicos e os privados - todos se permitem discutir e telefonar e saír e entrar quando deviam estar a trabalhar; em não é uma questão de respeitar o horário!
É mais uma questão de ter necessidade de fazer em vez de necessidade de beber (ontem...!)

Ainda me lembro de ver bailarinas da Comp Gulbenkian gordas e a desequilibrar-se no palco; dos bailarinos nem falo...
e depois 'aqui d'el rei!' que a Admin fechou o regabofe e foi tudo dançar para o Camões.


Beijos
De Maria Brojo a 6 de Outubro de 2010
Pirata-Vermelho - das gordas da Companhia da Gulbenkian nã m'alembro. Anorécticas sim. Contudo, antes meia dúzia de bailados da Gulbenkian do que um da Companhia Nacional de Bailado. Nesta, pontificava tragédia para quem não resiste à dança bem coreografada, com técnica e sensibilidade.

Antes de extinta, a Companhia de bailado da Gulbenkian ia de mal a pior. Da outra nem falo. Porém, ficámos sem nada e importamos espectáculos de russas e satélites com estrelinhas caindo literal e metaforicamente. Um horror. Um atentado a quem nosso e de e por fora viu o muito bom.

Que raio de país é este que ir adiante não consegue por via do 'nacional contentismo' e do 'trabalha tu q'eu vejo'?

Beijinhos
De -pirata-vermelho- a 6 de Outubro de 2010
Lá está você a proteger o mau com o também mau...



Assim eterniza-se, não é?
De Anónimo a 6 de Outubro de 2010
Quer dizer que só faltam ali as duas (inocentes) crianças?

Que já foram sendo (?) bem doutrinadas...

Também viria à baila a elevada condição de aposentados e jubilados, pois reformados são os outros... que não contribuem em nada para o bem da sociedade (só pagando alguns impostos?).

Fica-lhes a matar o pós-prandial (elevadamente muito medicinal?) pois a plebe da privada deve contentar-se com uma vulgar digestão.

http://www.youtube.com/watch?v=c_n7k8lFZ1M&feature=related
De Maria Brojo a 6 de Outubro de 2010
Anónimo - vale que no repasto não constavam reformados, jubilados, aposentados mas 'lixados' no activo.

As inocentes crianças estiveram cuidadosamente entretidas e com mimos a rodos.
De António a 6 de Outubro de 2010
pim - começo pelo Dantas: bem lembrado e bem dito pelo Mário Viegas, renasce outra vez para o arrasarmos mil vezes - e não chega, pois falta a voz límpida que o diga e a escrita sublime, desempoeirada e modernista de quem conviveu com a implantação da república em Portugal e desancou forte e feio nos «senhores doutores» de então e noutras maleitas de que ainda nos não livrámos e nem um Eça temos para lhes zurzir as bengaladas que merecem, pim!

pam - o pleno emprego, ao que julgo, nunca existiu, senão talvez nos livros dedicados a doutas teorias conceptuais e a algumas programáticas fantasias mais que utopias; e, sobretudo, poderá desconfiar-se, com muita legitimidade, que tal objectivo retorne a cadernos autorizados em política ou em economia; neste intermédio, de nem sim nem sopas, ainda privilegiamos as medidas e incentivos à criação de emprego, a custo pesado para os países e respectivos povos ou mesmo à custa de ... desemprego; no futuro, perspectivada e teorizada a impossibilidade do pleno emprego e mesmo de sustentar o emprego artificial, ficaremos porventura libertos desse estigma e até dessa opressiva e deprimente ditadura estatística; mas enquanto não, os funcionários públicos - e muito legitimamente - detém um quadro muito favorável no que diz respeito à segurança nesse bem cada vez mais raro e valioso (bem mais do que economicamente) que é o emprego, sendo essa mais valia complementada com vários factores qualitativos muito consideráveis, como o tendencial acesso a condições de trabalho respeitadoras do essencial da moldura legal que deve proteger a parte mais fraca da relação laboral, os empregados, quadro remuneratório incluído; assim, o precioso contributo de uma parte do respectivo rendimento de trabalho para apoiar a redução da despesa é meritório e de agradecer, sendo tanto mais compreensível quanto há uma enorme pressão (provavelmente injustificada) política para a consolidação orçamental não se realizar apenas pelo aumento de impostos mas também pela redução da despesa - e neste ponto, quem está mais à mão são os funcionários públicos; mas reconheça-se que também o sector privado se viu privado de benesses e regalias, de investimentos, de salários e de emprego, o que por ora não atinge os funcionários públicos e disso todos devemos lembrar-nos, pam!!

pum - mas estamos sempre a falar de medidas de carácter orçamental, para equilibrar as contas do Estado e convém trazer à colação que a crise (e o País) é bem mais abrangente que o Estado e muito mais que os funcionários do Estado; uma coisa é o plano das medidas orçamentais outra coisa é a própria economia que tem que ser sustentável, o País tem que gerar riqueza - atenção, o País, não o Estado e muito menos o Governo; ou seja, as empresas têm que ser produtivas, inovadoras e exportadoras, as famílias tem que ser ponderadas e moderadas nos consumos, naturalmente cumprindo ao estado não gastar o que não tem, evitar a criação de défices a pagar pelas gerações vindouras - então é tempo de dizer: sim, os limites de endividamento bem poderiam estar na Constituição, senão, pum!!!



De perseu a 6 de Outubro de 2010
Sinceramente diante destes comentários,prenhes de de um sábio esgrimir da pena,mas que em meu entedimento,fraco,muito pouco ou nada têm a ver com o tema.
Que me seja,ou não,perdoado o facto de nada dizer sobre o mesmo.
Pertenço a um outro universo composto por três elementos;Precisão,Ojectividade e Concisão.
A perfeição foi assassinada há dois mil anos,e eu nasci no século XX.
Fiz-me entender?
De perseu a 6 de Outubro de 2010
RESALVO:Entendimento:-Mas que,no meu entendimento,..

Obrigado pela tolerancia.
De Acúçar C. a 6 de Outubro de 2010
Quantos grupinhos desses podemos imaginar por esse país fora?

Ainda bem... estão entretidos e convencidos, com a auto-estima em alta.

Seria desejável que alguém (muitos desses e de nós) despertasse para iniciativas criadoras de postos de trabalho (não emprego) e de riqueza. Isso é a Economia dum país.

Entretanto, os vícios (ilusões, adiamentos, alheamentos, oportunismos) continuarão e só uma calamidade maior (ou vento favorável) poderão inverter a relativa pasmaceira.

O FMI prevê uma diminuição generalizada para 2011.

Faz graçola... porque ainda faz repasto, ainda usa e abusa do automóvel e do telemóvel... ainda não se sente imóvel :-(

http://www.youtube.com/watch?v=CSRC6-XgSHo

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