Ligou-lhe. Ela suspendeu o inspirar ao ver o nome inscrito no ecrã. Teclou no accept do telemóvel programado para inglês - cedilhas e acentos fora do menu. A voz, the voice, surgiu serena e colada ao ouvido. A dela contida quando lhe apetecia gritar: _ Diz tudo! Não poupes nada. Clama o temor meu e teu. Propõe. Sugere. Não marques.
Odiavam data e hora como se consulta médica fosse o tratado. Vagos. Isentaram a cama telefonada de ais e gemidos ligados por ondas que não presentes e deles. Ausente fala vernácula ou insinuada e o falo presença. Sexo no diálogo dos espíritos sentidos. Por referir o oficiosamente não-sido que foi.
Ele falou da saudade, dos sinais que reconhecia um a um. A mulher contornou as curvas conversadas. Descreveu o bem-saber da partilha corpo-a-corpo. Da esplanada/esconderijo, por opção da cumplicidade querida exclusiva. Do café, local remoto, sendo resmungona a atmosfera e pela mesma razão - a feitura do amor ocorre em qualquer lugar sem que ausência da pele nua seja empecilho. A fala e o falo falam-se em locais públicos. Sem escândalo porque íntimo o saber do par enquanto o diálogo escorre. Postura inatacável. Intimidade estreita nos lábios precisos e descolados. Húmidos. Temperados com o sal do suor invisível.
Mandado de despejo aos mandarins do mundo. Fora tu reles esnobe plebeu. E fora tu, imperialista das sucatas. Charlatão da sinceridade e tu, da juba socialista, e tu qualquer outro.
Ultimatum a todos eles e a todos que sejam como eles todos. Monte de tijolos com pretensões a casa. Inútil luxo, megalomania triunfante. E tu Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral que nem te queria descobrir. Ultimatum a vós que confundis o humano com o popular. Que confundis tudo! Vós anarquistas deveras sinceros. Socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores para quererem deixar de trabalhar. Sim, todos vos que representais o mundo, homens altos passai por baixo do meu desprezo.
Passai aristocratas de tanga de ouro. Passai frouxos. Passai radicais do pouco! Quem acredita neles? Mandem tudo isso para casa, descascar batatas simbólicas. Fechem-me isso a chave e deitem a chave fora. Sufoco de ter só isso a minha volta. Deixem-me respirar! Abram todas as janelas. Abram mais janelas do que todas as janelas que há no mundo. Nenhuma idéia grande, nenhuma corrente política que soe a uma idéia grão!
E o mundo quer a inteligência nova. O mundo tem sede de que se crie. O que aí está a apodrecer a vida, quando muito, é estrume para o futuro. O que aí está não pode durar porque não é nada. Eu, da raça dos navegadores, afirmo que não pode durar! Eu, da raça dos descobridores, desprezo o que seja menos que descobrir o mundo novo. Proclamo isso bem alto, braços erguidos, fitando o Atlântico, e saudando abstratamente o infinito.
Tantas vezes ficam assuntos arrumados mas nunca esquecidos. Quiça este caso esteja arrumado mas não esquecido. Talvez ela tenha procurado esquecer,fez comparações,hesita e um destes dias...