Segunda-feira, 18 de Outubro de 2010

COM A CABEÇA QUAL BICHO ANDA?

Jane Brewster, Pat Dugin, Graham McKean

 

Na volta, o real. Criança, uma. Idosos, quase todos. Grávidas, algumas. Pacientes oncológicos, diabéticos, menos. Sentados em cadeiras azuis ligadas por plásticos e metal. É de espera a sala para quem, papel e senha na mão desde antes das oito, é obrigado a extrair sangue e encher seringa com urina, depois entregue no gabinete de recolha. “Análises” informa a tabuleta sofisticada que da finalidade informa os utentes.

 

Assentos esgotados. Senhas divididas consoante urgência pré-determinada. Ecrãs com números sempre longínquos do obtido, menos pela inequívoca eficácia do pessoal especialista do que pela gente a mais. Mas estão e chegam conformados – sabem o seguinte por alturas outras. Casais acompanham-se mutuamente, filhos(as) fazem o mesmo com a mãe ou o pai ou a tia cuja idade e debilidade justificam cuidados - o ouvido e a visão já foram melhores, por arrasto o entendimento também, as seringas para recolha de urina na única casa de banho com fila permanente são difíceis no desenroscar da tampa por onde o líquido excretado subirá. E cresce a espera. A fome pelo jejum. E a insulina adiada. E os remédios da manhã por tomar. E a procissão além da porta.

 

No durante, há o ‘louco de Lisboa’, cinquenta e pós, limpo e cortês, que cumprimenta um a um os empilhados. Deseja bom dia. Tem laracha endereçada e assertiva para cada um. À criança pergunta: _ Qual o bicho que anda com a cabeça? O menino sorri, olha o pai e assume o não saber. O homem responde: _ o piolho que tu não tens por seres rapaz asseado. Ao menino luzem as pupilas. Adiante, indaga dum casal a mulher: _ Qual a palavra com 40 acentos/assentos? Perplexa, conferencia com o marido, reconhece a ignorância. Esclarece: _ O autocarro! Esboço de sorriso, riso mesmo, nas faces até ele tristes. À mulher mais nova recita quadra tão popular quanto romântica; sem permissão, passa, ao de leve, dedos no rosto. Inquire senhora postada no extremo da carreira: _ Numa mulher, o que mais cheira a banana? _ O nariz! Pagelas debitadas em amanheceres esgalgados. Mal acaba o périplo, a cada um: _ Pode dar-me um euro se não lhe fizer falta? Ao vê-lo, insiste: - não recebo caso lhe faça diferença.

 

Ritual/desassossego completo, os «vampirados» esticam o pescoço na cafetaria fronteira para decidir medíocre pequeno-almoço que não lhes coma euros acima de dois estando na frente a caixa de pré-pagamento, o sorriso brasileiro tão plástico como as cadeiras largadas. Talvez consulta a seguir ou volta inteira para casa. Talvez madrugada/cópia após dias ou meses medidos com a régua do desespero.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 16:16
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21 comentários:
De Anónimo a 18 de Outubro de 2010
Retoques

Na volta?

Ou serão plásticas as cadeiras?

Seringa para urina?

Filhos(as) com tias?

Nas faces até ele tristes?

Périplo?

Talvez madrugada/cópia?

Que bicho andará por essa cabeça, empolando para reinar?

http://www.youtube.com/watch?v=ZFPIIiIPxfE
De Maria Brojo a 18 de Outubro de 2010
Anónimo -

"Retoques

Na volta?

Ou serão plásticas as cadeiras?

Seringa para urina?

Filhos(as) com tias?

Nas faces até ele tristes?

Périplo?

Talvez madrugada/cópia?"

Sim a tudo. Não retiro e explicação rejeito para não menosprezar a sua, certamente muita, inteligência.

Que saiba não tenho piolhos. Bicho outro? Passou ignorado até este instante. Atentei na sugestão. Cabelo havia muito. Será...



De Anónimo a 18 de Outubro de 2010
Sim, confirma-se o empolamento (e não é da inteligência, embora seja salutar desafiá-la).

Estamos atrasados nestas bandas: vamos aguardar a chegada das tais seringas (se a crise deixar...) ou continuará o velho frasquinho conservador.

Minhocas (sem cabelo) ;-)

http://paulsanner.wordpress.com/2009/06/01/minhocas-na-cabeca/

De Maria Brojo a 18 de Outubro de 2010
Anónimo - embora desgusting, passo a explicar:
- alivia a bexiga para um copo de plástico;
- dele suga o necessário até encher a seringa;
- retira a cânula;
- coloca a tampa.

Anexo: prática comum em Portugal.

Minhocas descabeladas? Sofre do mal?
De Anónimo a 19 de Outubro de 2010
Portugal será Lisboa? Faça uma sondagem.
Nessa não sugarás... Minhocas sem cabelo (ainda) não são um mal... é só fritar ;-)

http://www.youtube.com/watch?v=-uDbCIk6gqg&feature=related

Quanto ao anexo (são difíceis no desenroscar da tampa por onde o líquido excretado subirá) fica tudo por demonstrar... (informa a tabuleta sofisticada que da finalidade informa os utentes) e, tal como o texto, deve ser coisa rara no país profundo.

http://www.medipedia.pt/home/home.php?module=artigoEnc&id=278

http://www.mdsaude.com/2009/08/exame-de-urina.html

E no Brasil (não admira, né?)
http://www.plugbr.net/exame-de-urina-tipos-e-coleta-da-amostra/

It's my disgust, in turn
I personally reached the point of sticking with my stop loss levels when I became disgusted by large losses that ate into days' and weeks' worth of profits. Similarly, I became better at defining and acting upon my profit targets when I became disgusted with situations in which I had a nice profit in hand and let it completely reverse to breakeven. And letting winners turn into losers? That became *so* disgusting for me that I set my exits to ensure it won't happen again.

Daniel Nettle's recent book "Happiness: The Science Behind Your Smile" makes the important point that disgust is a much stronger emotion than happiness.

De Maria Brojo a 19 de Outubro de 2010
Anónimo - nos hospitais, é prática corrente. O mesmo não digo dos centros de recolha costumados. Das minhocas na cabeça nem falo por ter visto ontem. Obrigada, ainda assim.
De perseu a 18 de Outubro de 2010
Desafortunadamente é assim a realidade do ser humano.

Ai de quem já tem Tempo e sofre a erosão do oxigénio.

Não entendo a indignidade e o sofrimento que o Tempo produz no ser humano.

O Homem não merece ser sofredor.

Pois não somos nós a suprema criação da natureza?
De Maria Brojo a 18 de Outubro de 2010
Perseu - e as criações maiores dos génios resistem, incólumes, à erosão do tempo?
De perseu a 19 de Outubro de 2010
Essas são imortais!
Fazem parte da beleza do planeta.
Quiçá do sistema solar.
De Maria Brojo a 19 de Outubro de 2010
Perseu - como todos que irão perdurar na memória dos amados que os amam.
De -pirata-vermelho- a 18 de Outubro de 2010
(ganda-ideia)
Então apont'aí
(diz-se que é do Bocage... vale um euro!)

Quer seja curto ou comprido,
Quer seja fino ou mais grosso,
É um órgão muito querido,
Por não ter espinha, nem osso.

De incalculável valor,
Ninguém tem um a mais,
E desempenha no amor,
Um dos papéis principais.

Quando uma dama lhe toca,
Ei-lo a pular com fervor,
Se for um rapaz, estremece,
Se for velho, tem menos vigor.

O seu nome não é tão feio,
Pois tem sete letrinhas só,
tem um R e um A no meio,
Começa em C e acaba em O.

Nunca se encontra sozinho,
Vive sempre acompanhado,
Por outros dois orgãozinhos,
Bem junto de si, lado a lado.

O nome destes, porém,
Não gera confusões,
Tem sete letras também,
Tem L e acaba em ÕES.

O QUE É?
De Maria Brojo a 18 de Outubro de 2010
Pirata-Vermelho - estou como as gentes mudas cujos retratos acima ensaiei. Tem a fineza de me esclarecer? Óbvia a resposta não é com certeza.
De António a 18 de Outubro de 2010
caro Pirataço, magnífico respigado!

e ele há "consultórios" d'análises que também tiram trogafias dessas, sai é tudo desfocado e descorado mas ao menos abrem fechaduras

cálquer dia, 'o "louco" também pára aqui no 100 inveija, a dizer baboseiras à gusma de trocos, eh eh ...

já gora, mimosa a ditosa

;_)))


De -pirata-vermelho- a 19 de Outubro de 2010
Tenho (já deve 1 €uro !) a fineza
"Pra acabar com o embalo,
E com as más impressões,
Os órgãos de que eu falo...
São o coração e os pulmões!!"
Manel Mari B. du B. (presumivelmente)
--------------------

De Maria Brojo a 19 de Outubro de 2010
Pirata-Vermelho - sou tão burra que m'aflijo. Adorei!
De -pirata-vermelho- a 19 de Outubro de 2010
António
(idem)
é uma moeda!

De António a 19 de Outubro de 2010
devo muitas, esta não: quando se esquece a chave, abre-se a porta com a bela da radiografia, dita "micro", o "raio x" sem cores, que alguns laboratórios de análises fazem aos... pulmões!

;_)))
De -pirata-vermelho- a 19 de Outubro de 2010
Tem razôncia
(não deve nada)
já tinha dito...

ando meio vesgo, sabe?
O ruído 'político' ofusca-me.
De Maria Brojo a 19 de Outubro de 2010
António - sigo maravilhada as vossas adivinhas. Posso pedir mais?
De Veneno C. a 19 de Outubro de 2010
Não é essa pronúncia do norte, caraaaaaago ;-)

http://lmao.blogs.sapo.cv/187979.html

Ditosa pátria...

"Deus ao mar o perigo e o abismo deu
Mas foi nele que espelhou o céu!"
De Maria Brojo a 19 de Outubro de 2010
Veneno C. - adicionei aos favoritos. Castanha sã caída da rede. Obrigada.

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