Mulher como eu atende palavras que outra alma feminina dita. Crê ser possível sorrires pela solidariedade em teu redor, terminar a violência que te vitima seja pelo companheiro, pelos filhos. Denuncia. Conta à vizinha ou à amiga/conhecida encontrada no mercado de bairro ou na leitaria, uma das tuas exíguas fugas, no Centro de Saúde onde, penosamente, te deslocas. Diz de ti. Do modo como o desemprego, as carências sociais se abateram sobre a tua vida e a família. Retrata a violência que da exclusão resulta, tua e dos que ainda assim amas sem remédio, apesar do desrespeito sentido todos os dias.
Jim Warren
Antes, eras a mulher querida, mãe melhor de todas como letras infantis escreveram nos postais que com beijos te foram oferecidos no Dia da Mãe, no Natal, no teu aniversário. Anos passados, chegaram rugas e vulnerabilidade física. Não encontras vestígios de amor e cuidados no teu marido, nas crianças hoje adultas que te agridem? Acto contra-natura, sei e sabes. Por ele choras, por todos que amas silencias a vergonha, por protecção imerecida daqueles que trouxeste à luz do dia, pelas desculpas que espontaneamente vertem do teu coração. Falsas – nada justifica seres explorada, chantageada, pontapeada no corpo e na auto-estima. Ainda que te custe romper a fidelidade que a família consubstancia, fala. Age. Foge sendo remédio único. Organizações solidárias esperam-te. Virá, devagar, a paz. Sentir-te-ás protegida. Mas conta mulher! Contacta a APAV. Informa-te. Liga. Acaba com o martírio.
Tão pertinente esta crónica. Lembrei-me logo de um episódio que se passou comigo hoje. Estava na fila do multibanco, à hora do almoço. Tinha compromissos, tinha pressa. À minha frente, na fila, uma senhora entre os 75 e os 80 anos, talvez mais. Várias contas, papéis, talões nas mãos. Os olhos e os gestos não lhe permitiam a agilidade de movimentos conforme a este tempo, impaciente, rápido e quase autista. Eu, confesso, pensei "mas por que motivo esta senhora vem a esta hora? Que falta de solidariedade por quem tem que cumprir horários." Felizmente, a lucidez voltou a tocar-me pouco depois, entendi que para estar ali, naquele momento, a senhora poderia ter que organizar-se e organizar as suas rotinas de formas bem complexas e que, eu, sim, eu, estava a ser pouco solidária no meu infantil raciocínio. Fui preconceituosa. Fui parva - felizmente foi "só" em pensamentos, não acções.
Mas esta é a minha mentalidade. Perante um abalo, a minha impaciência disparou e toma conta de mim, por alguns momentos.
A vulnerabilidade dos idosos/ as é das questões mais complexas desta vida. E agora há cada vez mais idosos. E nós revemo-nos nesses eventuais "fantasmas dos nossos natais futuros" e estremecemos, e apercebemo-nos de que um dia estaremos assim à mercê da generosidade dos outros. Que terão poder sobre nós, já que nós na nossa imensa fragilidade, teremos de ser cuidados, já que autónomos não seremos.
Também já vi nos olhares de mulheres bem mais novas, algumas mesmo muito novas, o medo. De quem tem poder sobre elas. Geralmente homens - o marido/ namorado ou o patrão/ chefe, quase sempre. Poder conferido pela força física ou pela posição económica. Ou por ambas.
Falta caminhar tanto, mas tanto. Este post demosntra-o exemplarmente.