Mati Klarwein
Iniciativa da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal. Patrocínio da Presidência da República. Campanha lançada ontem no Casino Estoril. Presença destacada: Cavaco e Silva. Declarou-se envergonhado pela fome que grassa país fora, nos meios urbanos em particular. Objectivo da campanha: entregar sobras dos restaurantes aos mais carenciados. Alimentos convenientemente embalados em caixas térmicas sob a supervisão da ASAE. Posteriormente entregues a instituições de acolhimento a carenciados, cada dia mais, cada dia mais envergonhados. Já tiveram quotidiano estável, mas o desemprego, o sobreendividamento ditaram (des)arrumo das vidas. Algumas paróquias, desde há meses, organizam lanches-ajantarados, ditos convívios, não se amesquinhe e fique ausente este novo grupo de pobres.
Vozes sindicais denunciaram o ‘inglês ver’ do anunciado ontem: _ empresa multinacional aderente à iniciativa, pune severamente funcionária de uma cantina por levar restos para casa onde quatro filhos a esperam. Sendo os contratos precários, despedimento à espreita, mínimo o salário ou pouco além disso, a incoerência evidencia-se.
Porque todas as ajudas são bem-vindas quando a fome prolifera como vírus andarilho contaminando famílias, porque as crianças são elo frágil nesta cadeia doentia sem vacina no horizonte, aplaudo, cautelosamente é certo: _ a corrupção existe e a ingenuidade social adquire contornos de crime/pecado contra a humanidade. E se a ASAE, vez primeira, zela a qualidade dos alimentos depois entregues, inspira simpatia o alargar das competências definidas. Vigilância e multas e são necessárias estando em risco a saúde pública; todavia, não impedem o roncar dos estômagos vazios.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros