Sábado, 11 de Dezembro de 2010

VIRÚS MALVADO E ANDARILHO

Mati Klarwein

 

Iniciativa da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal. Patrocínio da Presidência da República. Campanha lançada ontem no Casino Estoril. Presença destacada: Cavaco e Silva. Declarou-se envergonhado pela fome que grassa país fora, nos meios urbanos em particular. Objectivo da campanha: entregar sobras dos restaurantes aos mais carenciados. Alimentos convenientemente embalados em caixas térmicas sob a supervisão da ASAE. Posteriormente entregues a instituições de acolhimento a carenciados, cada dia mais, cada dia mais envergonhados. Já tiveram quotidiano estável, mas o desemprego, o sobreendividamento ditaram (des)arrumo das vidas. Algumas paróquias, desde há meses, organizam lanches-ajantarados, ditos convívios, não se amesquinhe e fique ausente este novo grupo de pobres.

 

Vozes sindicais denunciaram o ‘inglês ver’ do anunciado ontem: _ empresa multinacional aderente à iniciativa, pune severamente funcionária de uma cantina por levar restos para casa onde quatro filhos a esperam. Sendo os contratos precários, despedimento à espreita, mínimo o salário ou pouco além disso, a incoerência evidencia-se.

 

Porque todas as ajudas são bem-vindas quando a fome prolifera como vírus andarilho contaminando famílias, porque as crianças são elo frágil nesta cadeia doentia sem vacina no horizonte, aplaudo, cautelosamente é certo: _ a corrupção existe e a ingenuidade social adquire contornos de crime/pecado contra a humanidade. E se a ASAE, vez primeira, zela a qualidade dos alimentos depois entregues, inspira simpatia o alargar das competências definidas. Vigilância e multas e são necessárias estando em risco a saúde pública; todavia, não impedem o roncar dos estômagos vazios.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 10:06
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13 comentários:
De Veneno C. a 12 de Dezembro de 2010
Sem divagações, é do olho (e do rei) nu que eu falo.

A do laboratório e do track record e seus milhões é outra guerra e não deveria ser aqui chamada, como se pedindo alhos lhe trazem bogalhos.

Mais do que pressupor, julgo ter certezas, não havendo slippery slope que possa ocultar o que está à vista de todos.

Não sei se terá concluído a proposta iniciada por «antes disso, porém... » mas creio que tudo o que ali acrescentou (e bem) já é uma 'epidemia' instalada que é bem aceite (crónica, benigna) que faz parte do 'politicamente correcto'.

O maior 'empregador' do país dedica-se à solidariedade social. Cada vez há mais pobres (e carenciados) e o problema agudiza-se por haver cada vez menos financiamentos disponíveis para as estruturas envolvidas.

Vai faltando o tempo para dominar a confusão?
Ai vai? Aindanãometinhasdito... Então, reduzamos em 10% os horários de 'ocupação' e reduziremos equiparadamente as taxas de 'desocupação' e de taxação (e também, não menos evidente, de tachação).

De Veneno C. a 12 de Dezembro de 2010
Antes que apareça por aí um corrector... troco um «o» por um «u» para que fiquem bugalhos correctamente ditos ;-)
De António a 13 de Dezembro de 2010
o que se segue ao "antes porém" é alternativa quer ao degradar da situação (falta de criação de riqueza, má distribuição, etc.) quer à ruptura de consequências imprevisíveis quer à passividade acrítica tantas vezes por inércia e acomodação mas também por ensimesmamento e falta de instrução ou de consciência, senão mesmo pela pior de todas as razões: o medo

daí o apelo à lucidez activa, não complacente nem resumida ao queixume ou à culpa deitada ao abstracto, do Estado, da sociedade, dos políticos, desculpas de mau pagador para quem não assume a parte que lhe cabe na culpa

se todas as ideias são bem vindas a debate, a proposta de redução dos 10% da taxa de ocupação parece interessante, mas como se concretizaria tal? no horário (diário, semanal) laboral? no aumento das férias? na antecipação da reforma?

pode ser de concretização difícil (no que respeita à reforma a questão é mesmo a inversa, com muitos países a estudar a possibilidade da ampliação do ciclo produtivo) mas merece análise aprofundada

e há um campo onde tem certamente pernas para andar: em muitas empresas, é moda o cumprimento de horários bem para além do estabelecido na lei e nos contratos, individuais e colectivos - moderar esse abuso seria já um passo relevante

bem achado

;_)))




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