Tem telhado que encima casa e janelas. Árvore frondosa com troncos imponentes, alpino o pinheiro, cogumelos comuns em ilustrações nas histórias de encantar. Chaminé, fumo e sol. Folhas de hera, ícones/lembranças da casa beirã. Tela ingénua solicitada como presente de Natal. A janela maior retrata faces amadas, as outras, sem tabuinhas, protegidas por linhos puros terminados em rendas de algodão que dedos familiares e queridos engendraram. Destes pormenores a tela não conta, apenas lembra. Assinatura e ano estão lá; omisso o dia em que pincel elaborou registos.
A tela não surgiu por economia compatível com os tempos de mudança e poupança. Presentes existem que retratam amor de família, ternura a rodos como é privilégio dum clã enlaçado por finas sedas e cambraias. Harmónico. Para o adquirido a disponibilidade existe sem constituir o mais desejado. Fim-de-semana eufórico e feliz, porque dedos comandados pelo coração fizeram obra/herança e não esqueceu quem dele foi a protagonista rodeada por plateia ausente de rostos amados. E o Natal começa assim. E os afectos ganham território aos consumos triviais.
No cavalete secam óleos. Semana e meia, pouco mais, devem resistir ao toque, ao ver para crer. O segredo permanece até à descida dos 'Pais Natal'. Até ao regresso da Missa do Galo. Até ser impossível conter demonstrações desejadas pelos amores.
António – por tudo e por muito mais sou uma das ‘apanhadinhas’ pelo encontro dos amados no Natal. A coisa vem detrás, da infância e dos rituais calorosos. Um deles – férias, botas quentes, ir à quinta beirã cortar o pinheiro alpino que o casarão esperava.
A tela ingénua a despertar a curiosidade fez com que algo tivesse que ser espreitado, seja por trás da própria cambraia ;-)
«O tecido, foi utilizado pela primeira vez em Cambrai, na França, em 1595. O termo cambraia foi, possivelmente, uma alusão a Baptiste de Cambrai que era dono de uma fábrica de tecidos na qual eram produzidas peças leves e de superfície brilhantes.»