Vem do Brasil a sugestão: “Faça uma ceia de Natal por metade do preço”. Hipóteses: saladas para encher a mesa – fazem bem a tudo e conferem apetecível colorido à refeição -, em vez de peru, frango recheado com aromas e mimos – é menos seco, demora 1/3 no forno –, panetone trocado pelo pavê – adaptado aos nossos costumes equivale à permuta do arroz doce por pudim de pão que aproveita carcaças duras ou congeladas e reduz a energia dispendida pelo fogão. Aromatizado com canela e vinho do Porto é sobremesa de truz. À nossa medida, diminuir o consumo de fritos doces - inferior sobrecarga para o colesterol malino - alivia donas e donos de casa cozinheiros; com vantagem substituídos por bandejas com fruta partida, mimosa, disposta com arte. Queijos menos, patês caseiros que demoram três suspiros, haja batedeira e picadora à mão, vinhos sensatos sem desmerecer a qualidade, chocolate quente. Ora se os brasileiros que, financeiramente, não se afundaram tanto como nós apostam em economizar, ponderosas razões temos para repensar os convívios do palato que também completam as Festas das famílias.
Dos presentes convém tratar. Imaginação, horas poucas dedicadas e paciência originam lingerie brincalhona, cartões de Natal personalizados a que as palavras dos sentimentos veros acrescem alegria e promovem o ‘diz agora quanto amas, não deixes para tarde demais’. Simbolismo nas dádivas adequadas a cada um provam ternura na escolha, afecto implícito no cuidado. Rejeitar filas de espera para embalagens a esmo é poupança de tempo e desgaste psíquico. Num serão forrado a música, melhor é obtido com papel simples, ráfia terminada em laçarotes que aperta hastes de pinheiro, galhos esbeltos, folhas de hera vivas ou de plátanos caídas sem atropelos no chão. Fotografia impresssa em casa revelando o momento da recolha dos enfeites será memória com destino mais elevado que pendurezas compradas à dúzia e que, aberto o embrulho, acabam em desperdícios rasgados no impulso curioso. Perto, livro cosido à mão que recolha pensamentos e sentires de todos. Depois, há os beijos e abraços e sorrisos pela felicidade de ‘estar com’.
Existem dificuldades que vêm por bem nos detalhes do ser. Delas fazer bom uso é passo que importa. Venha um, venham muitos.
Vezes há, muitas por sinal, que basta um telefonema, ou uma simples rosa ou.... Tudo o que se dá, deve ser feito com muito amor, e principalmente pensando em quem recebe.
de receitas ficamos aviados, acrescendo uns pasteis de massa tenra de rara confecção e, quem sabe?, um simples (!?) e prometido risoto de cogumelos
fino
a energia é maior razão e economias escalam o planeta a fumegar de frio por causa do aquecimento global, já que apesar de bonitos enfeites, as luzes levarão à falência os recursos fósseis que as acendem
mascavado
mas... de muito preço é mesmo o circuito guiado pela arte de bem presentear a toda a ráfia, powered by notável profusão de ideias e, se o fantástico percurso é bem vindo, tour de force vence mesmo é com a remissão para a fruição do momento, de estar com, de estar bem, de dar um passo e de haver muitos e muitos para dar, muito e muito para receber ... e dar
António – dar, dar, dar. Nunca demais a generosidade, conquanto a alma cheia de bem-estar possa ser forma subtil de egoísmo. Vigiar o sentido dos sentimentos é necessário.
Convenhamos que estes sentimentos convencionados por calendário já não são o que eram e estão muito longe de equivalerem ao original.
Já imaginaram o que se sentia (a dar e a receber) há uns séculos idos?
Já sentiram o encanto de acreditar que uma coisa daquelas só por milagre poderia ali aparecer?
Hoje fazemos de conta: damos o que não faz falta, damos o que todos estão fartos de ver, damos o que está convencionado.
Creio que já devíamos ter inventado algo mais autêntico, mais marcante, mais genuíno, menos obrigatório, que nos levasse (aos que recebem) a sentir que aquilo... só por milagre se podia concretizar!
Qual será a receita para aquilo? Simplicidade, autenticidade, amizade, sinceridade. Sempre.