Meio-dia cerca, início da romaria. Câmara no bolso, a repórter, pretensiosa pela habilidade que não tem nos enquadramentos e domínio da luz esgueirada pela objectiva, olha o redor. São gentes, Senhor, são gentes que lhe motivam o disparo/«clic». Música na rua, Gershwin na Rhapsody in Blue, malabaristas, a idosa que se arrasta e arrasta alfaces e batatas no carro de mão. Realidades dali, de cá, de muitos lugares. Não se lhes vê obsessão pela crise da travessia, mas vozes políticas lembram-na diariamente. As mesmas explicam medidas, como faseiam os 67 anos previstos para a idade da reforma sem defraudar os que estão para lá do meio da carreira contributiva. Diferença substantiva com o nosso passado recente ao prejudicar quem mais cedo iniciou a vida activa.
Mais diferenças existem: arte nas ruas, deleitam olhares novos no lugar. Gravuras no mármore do chão homenageiam dramaturgos, escritores outros, cinema e música. Nem um graffiti ou lixo contaminam a beleza do memorial. Civilidade, apreço cultural constam nos transportes, nas ruas, nos recantos esconsos que também os há.
Depois, há «loisas» que interrompem as passadas. Dissonantes, é impressão primeira. Negativo – alegria é presença, humor faz-lhe companhia. E a afabilidade das gentes? A generosidade para estrangeiros que buscam informação? Não se lhes dá afastarem-se do caminho até à certeza do perguntador em bom recato. Diferença sedutora. Paixão à vista.
A liberdade nas atitudes das mulheres que pelas ruas caminham é comum na Europa de cima. Por cá, esparsos arremedos. Mas ali, região conservadora, foram surpresa os comportamentos femininos – sozinhas ou a pares tomam assento nas esplanadas e bebericam um copo. Sem mais. Sem almoço acompanhante. Avó, filha e neta frente a taças de vinho tinto. Ao lado, duas mulheres belíssimas desfrutam martinis. Casais com alguma idade fazem o mesmo, sós ou reunidos com amigos. E não interessa a hora da jornada. Nas faces, estampado o prazer do momento. Gentes que da vida fazem hino sem a modorra da casa.
Obrigado por esta crónica. Talvez agora alguns entendam a diferença abissal que separam dois povos com a mesma raiz., Uns progrediram e civilizaram-se,são cultos,têm orgulho em ser o que são e de onde são. Aqui somos como somos,vaidosos,preconceituosos,invejosos,uns cagõezitos,credulos na padeira de Aljubarrota que aceitam com passivadade gente valdevina para os governar.
diferenças que haja, como não?, são porventura mais atribuíveis a feitios, regionalismos e culturas, que a supostos (e até perigosos) "avanços civilizacionais"
certo que tem muito de verdade, o bom de lá e o mau de cá
mas já ouvi o mesmo, lá!!
é assim em toda a parte, invertem-se os qualificativos, o que importa relativizar e, sobretudo, atender às circunstâncias
passe alguma arrogância, afinal tão defensiva, nuestros hermanos admiram-nos a disponibilidade, a afabilidade e a força inventiva, além de uma genuinidade, afectuosidade e adaptabilidade que tem pouco paralelo mundo fora
em hospitalidade estamos quites, temos do bom e do mau, cá e lá
mas concordo com quem sustenta que a Galiza começa no Porto ou mesmo a sul - na base, estão os mesmos povos
escritas no cartório as fronteiras, que não no sangue, prosseguiram povos irmanados
e o que nos aproxima continua a ser o mais importante!!!
também entre nós se empurram alfaces vida fora, dignamente - às vezes vale a pena fazer de turista cá dentro, passeando um pouco à semana, a horas laboriosas, por Santo Estêvão e outras alfamidades ou pela Esperança ou Madragoa (de Benfica, São Domingos, Carnide, Telheiras, estamos conversados, tem o SPNI provas dadas, embora mais à quietude do fim de semana) e Castelo e Marvila e Boavista e Lumiar e ...
quanto à partilha dessa atenção às gentes & coisas, mil estrelas, feliz hora da leve pressão disparadora a captar o instante, o lugar, a expressão, o enfeite, a arte em toda a parte ;_)))
espera-se mais, please please please
e sobre os anjos, magníficos, posso assegurar que desceram a Lisboa, que tem anjos, que têm Lisboa
António - será da febre, pois então!, que não pára de subir. Não recalcitro: no comentário a razão cabe-lhe inteira. Nem a desculpa tenho de marinheira na viagem primeira...
Assim debele a bicharada, a obra da Paula Cabral é visita obrigatória.