Autor que não foi possível identificar e Gerald King
O Sr. e a Sr.ª Silva, durante onze anos e enquanto professores, amealharam uns trocos.
_ Que lhe fazemos, Maria?
_ Deixo contigo, Aníbal. És tu o especialista. Desde que o nosso e o futuro dos «piquenos» fique a salvo, aplica como quiseres.
E o Sr. Silva, escrupuloso em tudo, com as poupanças também, averiguou o que de melhor ofereciam os bancos. Calhou ser duma sociedade detentora do BPN a melhor oferta. Amigos de confiança garantiram a fiabilidade do investimento. Regressado a casa, diz o Sr. Silva à dona Maria:
_ Podemos continuar a dormir descansados. O que poupámos está em recato. E a bom preço, vê lá a sorte! Já agora, tens lembrança onde colocámos os outros dinheiros?
_ Eu não, marido. Dá uma volta aos papéis do escritório e junta numa só pasta esses documentos. De caminho, arruma-o e aproveito para a Joaquina fazer uma limpeza a fundo.
Anos volvidos, dá-se o caso do Sr. Silva subir a Presidente da República. Mais parecendo a gestão do banco cesto de roupa suja, no gabinete do palácio fronteiro ao Tejo chegou-lhe às narinas cheiro semelhante ao dos estrugidos queimados pela Joaquina. Matutou e decidiu, no momento, vender as acções. Corria 2009. Escreveu cartinha ao BPN, ao cuidado não é sabido de quem, solicitando que lhe arranjassem comprador digno, que as estimasse, que honrasse os sacrifícios económicos da família Silva para as obter. Na condição de Presidente amigo da transparência, deu conta na página oficial que lhe regista ditos e feitos. Suspirou - alma limpa como hóstia engolida com fervor na missa.
Na tranquila passeata para renovação do cargo em Belém, vêm à tona as referidas aplicaçõezinhas. Portas adentro, brama a família Silva contra suspeitas erguidas e aleivosias.
Lamenta-se a Sr.ª D. Maria:
_ Logo tu, marido, logo nós trabalhadores esforçados, poupados, modelo das famílias portuguesas de bem. Mas deixa que resolvo tudo: convocamos a miudagem para jantar hoje, o peixe chega para todos, e rezamos novena. A Srª de Fátima ouve-nos. Considera Belém tão no papo como a garoupa da ceia.
"Anos volvidos, corria 2009, dá-se o caso do Sr. Silva subir a Presidente da República".
Troca do 9 com o 6?
Aníbal António Cavaco Silva GCC (Boliqueime, Loulé, 15 de Julho de 1939) é um economista e político português e, desde 2006, o décimo nono Presidente da República Portuguesa.
Foi primeiro-ministro de Portugal de 6 de Novembro de 1985 a 28 de Outubro de 1995, tendo sido a pessoa que mais tempo esteve na liderança do governo do país desde o 25 de Abril. A 22 de Janeiro de 2006 foi eleito Presidente da República, tendo tomado posse em 9 de Março do mesmo ano.
As últimas sobre o caso contam que a filha do Sr. Silva ficou menos "rica" pois perdeu dinheiro....
Quando Cavaco Silva vendeu as acções por 2,40 euros, o BPN estava a vendê-las por 2,75. Ao contrário do que se pensava, Cavaco podia ter vendido melhor. Cavaco Silva vendeu as acções que detinha na Sociedade Lusa de Negócios (SLN), então proprietária do Banco Português de Negócios (BPN ), por um valor inferior ao que o presidente deste grupo, José Oliveira Costa, fixou noutras operações de compra e venda.
As acções de Cavaco - adquiridas em 2001, por um euro cada - foram compradas pela SLN, dois anos depois, pelo preço unitário de 2,40 euros, quando o preço que esta já praticava era de 2,75. Cavaco perdeu, assim, cerca de 36.682 euros: vendeu-as por 252.907 euros, quando podia ter recebido 289.789 euros, se o preço unitário fosse de 2,75 euros.
Segundo documentos a que o SOL teve acesso, no mesmo dia (17 de Novembro de 2003) em que o ex-primeiro-ministro pediu que fossem vendidas as suas 105.378 acções (que representavam 0,03% do capital da SLN), José Oliveira Costa vendeu um lote de 363.636 acções a José Procópio dos Santos, dono da cadeia de hotéis Luna, pelo valor unitário de 2,75 euros.
Mas há mais casos que demonstram que, apesar de a SLN não estar cotado na Bolsa, os 2,75 euros por acção era o valor já praticado pelo grupo e não os 2,40 aplicados a Cavaco.
Meses antes, por exemplo, Oliveira Costa autorizou a venda de outro lote de acções a Ezequiel Sequeira. O então presidente da SLN recebeu a proposta deste empresário, datada de 17 de Julho, tendo despachado no canto superior esquerdo: «Autorizo, 03.09.19, José Oliveira Costa». A operação concretizar-se-ia a 9 de Outubro.
Também Patrícia Cavaco Silva, que comprara 149.640 acções vendeu-as no mesmo dia e ao mesmo preço das do pai, tendo perdido 52.374 euros (vendeu-as por E359.136 euros, em vez de 411.510 euros se o valor unitário fosse de E2,75 euros).
Cavaco e a filha tinham comprado as acções em Abril de 2001, directamente a Oliveira Costa, pelo mesmo preço a que só este enquanto presidente da SLN podia adquirir: um euro. A venda das suas acções seria despachada também por Oliveira Costa, no canto superior das cartas que Cavaco e a filha lhe dirigiram: «Autorizo a aquisição pela SLN-Valor SGPS Lda, ao preço de 2,40 por acção. 03.11.17 José Oliveira Costa».
certo, certo, é que por passes de mágica, a família Silva negociou compra e subsequente venda ao mesmo amigo ex-governante e nesse instante arrecadou um tanto fora do alcance de muito especulador profissional, quanto mais do comum mortal...
terá feito muito bem, a família Silva, pois ganhou mesmo a tempo e assim escusa de estar a fazer manifestações à porta das delegações do BPN para reaver simples depósitos, adeus expectativas de esdrúxula remuneração
então não é que o dito conglomerado de amigos ex-governantes deu o berro ... após ter pago tão extraordinárias mais valias, não a incautos depositantes ou trabalhadores, mas, imagine-se a quem: a boas e honradas famílias, pois então!