Estudos internacionais provam duas características fundamentais dos portugueses: péssima relação com o tempo e com o sentimento de culpa. O ‘agora’ traduzimos por ‘amanhã’, a culpa é enxotada para quem estiver a jeito. Ambas responsáveis pela reduzida produtividade, pelo desejo e encosto a um Estado-Providência zelador e, de todos, procurador que estenda a bandeja das necessidades satisfeitas, nos substitua no empreendedorismo, alije de cada um a culpa se o caminho entortar.
Tomemos como exemplo a falência duma empresa. No Japão, nos Estados Unidos, é tida por consequência dum erro colectivo que engloba a entidade gestora e os trabalhadores. Por todos os intervenientes é feita a análise crítica da situação. Detectadas as falhas dos diferentes sectores. Em Portugal, o culpado é o dono colectivo ou solitário coadjuvado pelas estruturas cimeiras; os assalariados com menor grau de diferenciação dizem-se vítimas, bem como os eventuais credores. Um dos vértices trágicos é, recorrentemente, estes últimos continuarem a fornecer bens ou serviços mesmo sabendo que a empresa, se nacionalizada melhor, caminha para a ruína. Confiam uns e outros no Estado-Providência que, com o suor de todos os portugueses, os indemnizará do risco voluntário. Por outro lado, a nossa gestão empresarial soe não apreciar transparência da contabilidade e das situações correntes que mantenham conscientes os trabalhadores. Prefere a ditadura do silêncio, do mistério/recurso de usos e abusos. As abissais diferenças de salários entre empregadores e empregados constituem parte dos motivos desculpabilizantes que os demasiado mal pagos alegam. Desta, com razão.
Alguém mais sabedor dos meandros labirínticos das micro e macro economias me avalie o arrazoado e aponte os logros/tropeços. Adianto: experimento sentimentos progressivamente mais reles contra as excessivas mordomias dos excessivos príncipes sociais.
1 - elevemos os sentimentos, do mesmo passo que, mesmo ante diferenças remuneratórias gritantes e outras injustiças mais ou menos evidentes, importa analisar informadamente, discutir e criticar, propondo alternativas, de preferência construtivas e exequíveis, nomeadamente que todos possam aceitar e compreender ou, no mínimo, irrefutáveis por quem não aceite ou entenda
2 - diferença fundamental na origem da vitimização de trabalhadores e outros credores em muitos casos de insolvência, face aos exemplos indicados, é a incompreensível demora do processamento judicial - se um caso de falência demorar 5 anos a resolver (todos os dias ouvimos nos media situações de adiamento de julgamentos ou audiências, por vezes com nova data para o ano que vem ou mesmo sem nova marcação - mas a realidade, que não passa nos media, chega a ser muito pior) arrastando e prejudicando tudo e todos, exaurindo o património em custas, peritagens e em créditos preferenciais, eis o desencanto justificado e a maior desconfiança quanto à "revitalização" por via falimentar
acresça, ao pandemónio, que os patrões falidos continuam a vogar de mercedão em mercedão quando não o ferrari em que o País é estranhamente campeão de vendas, e por acaso abriram outra fabriqueta ao lado, porventura com as mesmas máquinas senão mesmo com os mesmos fornecedores sem lhes pagar (porque vão buscar uns subsídios catitas) e os mesmos trabalhadores sem os indemnizar (que, em alguns casos, estão à sorrelfa a receber do desemprego...)
3 - quanto à culpa, estamos de acordo, livramos-nos dela mesmo antes de a termos, assacamos a peçonhenta aos demais e, as mais das vezes, é imputada a entidade abstracta (eles ou, de preferência, o Estado), a alguém sem nomear (quem manda ou "vocês sabem de quem estou a falar") ou ... ao morto e são raras, mesmo no mundo do jornalismo de que se esperaria muito mais, a indicação clara de factos e do nome dos envolvidos, para nosso informado julgamento, mas também das autoridades
eis a barca do sortilégio em que navegamos, se bem que a inteligência, a lucidez e alguma combatividade sejam velas capazes de bolinar
Oh mnina, a mnina parece um salta-pocinhas - elenca o agora-amanhã e a culpa-do-outro e salta para o EstadoProvidência para continuar no Japão? Só pode estar a atirar poeira p'ós olhos do leitor... ou pagam-lhe para dizer essas coisas, para lançar cortinas de fumo e a mnina não resiste a mais uns trocos?
Não se trata de uma suspeição, trata-se de chamar a atenção para mecanismos dessa natureza, conhecidos, praticados por muita gente e que assumem esta mesma forma. Se houvesse suspeição tratá-la-ia consigo directamente e nunca neste ambiente partilhado. Ou não tratava... tout court.
Pirata-Vermelho - teve 'razôncia', sim. Entre nós, desencontro com memória não existe. Mas sim, sei que se rebela quando, e tantas vezes são, sou insignificante.
Parece-me que esses estudos internacionais,mais uma vez,opinam sobre o que desconhecem:desconhecem a realidade daquilo que são 95% dos ditos empresários,desconhecem a baixa qualificação técnica do trabalhador,desconhecem que o empresário português não prima pela inteligencia nem tão pouco pelo conhecimento técnico-académico.
Neurónios muito densos não significam inteligencia. Depois não me dirigi a si ,mas à cronista,logo perdeu uma excelente oportunidade para estar calado. Favoreça-me com a sua ausencia e feche a porta por fora.
Faculdade exclusivamente psíquica e, portanto, espiritual, para compreender em evidência a ordem causal da ação ou do fato. Faculdade que conhece e identifica as formas essenciais e causais de qualquer coisa ou evento.
"Os indivíduos diferem na habilidade de entender ideias complexas, de se adaptarem com eficácia ao ambiente, de aprenderem com a experiência, de se engajarem nas várias formas de raciocínio, de superarem obstáculos mediante o pensamento. Embora tais diferenças individuais possam ser substanciais, nunca são completamente consistentes: o desempenho intelectual de uma dada pessoa vai variar em ocasiões distintas, em domínios distintos, a se julgar por critérios distintos. Os conceitos de 'inteligência' são tentativas de aclarar e organizar esse conjunto complexo de fenômenos."
Se dúvidas restassem, aqui vai uma narrativa circunstancial
Muito Denso - pejado de razão. Escrevi para mim e não para o leitor. Ora, ninguém tem obrigação de adivinhar o que pretendo comunicar. Crítica justa. Obrigada.
Quem são esses 'príncipes' sociais? E 'excessivos' como? Em quantidade? Se forem (mesmo) príncipes, não haverá que sentir relesmente por eles. Príncipes são nobres e magnânimos! Se lhe retirarmos o acento e lermos em francês, fica o problema resolvido em português: princípios sociais é o que está mesmo em causa. E não são excessivos, antes pelo contrário, estão em forte crise. E reles vai sendo a crescente indiferença com que tais 'excessivas mordomias' são consentidas na (nossa) sociedade.
Teseu - aqueles que recebem mordomias privando o povo de vida melhor; aqueles que, de cima, lhas conferem; aqueles que se tomam por elite intelectual e social, deliberadamente esquecendo que a dignidade existe. Que estão em falência sabemos nós. E é reles não questionar a existência de tanta chulice dos anónimos que oprimem.