Beijos sempre são. Confirmam amores, inauguram conhecimento pelo aflorar da face, uma atracção que do olhar foi além. Falam e contam de quem os partilha em mistura antecipada dos corpos e suas bocas. Crismam intimidades nascentes como acertadas ou equívocos e, dum modo ou doutro, concebem lembrança que num inesperado momento regressa. Talvez sorriso pintado de nostalgia acompanhe a volta do instante passado, a memória de veludo. Talvez o beijo convoque tristeza ácida se mágoas vieram depois. Mas, ainda assim, certo foi o começo iludido, a expectativa, o arrepio do novo, a fragrância desconhecida, a embriaguez que anulou o deslizar do tempo. Pode viver-se com muitas privações; sem beijos, não.
O Abelaira falava no Bosque Harmonioso de muitos beijos e bocas. Cristóvão Borralho por uma enfeitiçado haveria de, feito louco, ir de continente em continente para a reencontrar. Deu com ela, sim, muitos anos depois. A emoção da experiência prima veio intocada. Cessou a busca. Cumpriu o destino escolhido.
E se, como escreveu Gedeão, lágrima de preta está isenta de “… sinais de negro, nem vestígios de ódio. Água (quase tudo) e cloreto de sódio.”, já a beijo de mulata encerra mistérios. Germina, selvagem, nalguns quintais de Moçambique. Floresce em rosa ou lilás. Dons medicinais caracterizam-na. Misturada com folhas e ervas seleccionadas, dá provas de combater eficazmente doenças oportunistas do HIV. Hábeis nesta farmacopeia tradicional, curandeiros sábios logram êxito onde a farmácia tradicional falha. Milagres do beijo de mulata que na região de Nampula acontecem.
O termo 'oportunistas' apelou à minha intervenção. Daí esta transcrição:
«NAMPULA, 11 Agosto 2006 (PLUSNEWS) - As flores brancas, lila e rosa da planta beijo da mulata alegram os quintais da cidade de Nampula, no norte de Moçambique. E, preparadas e dosificadas por curandeiras especializadas, misturadas com outras ervas e folhas, tratam algumas doenças oportunistas devidas ao HIV.
As propriedades medicinais do beijo da mulata e de muitas outras plantas, paus, raízes e sementes, são parte da farmacopeia da medicina tradicional emakhuwa, a etnia predominante na província de Nampula.
Desde 2002, Niiwanane Whuamphula (Unidos em Nampula), uma associação, que junta curandeiras e seropositivos, pesquisa e produz medicamentos tradicionais.
Os xaropes e pomadas que resultam curam dores de cabeça, febres altas, tosse, queda de cabelo, feridas na pele e na boca, borbulhas e asma.
Oito mulheres, conhecidas como as mamãs, e dois homens, dirigem a produção e a dosagem, exploram o valor das plantas que conhecem e investigam outras nas comunidades.
A principal planta usada é o sinamomo e os seus frutos castanhos, que se diz ter propriedades de curar cerca de 50 doenças.
"Quando eu soube que era seropositiva pensei que era o fim da minha vida, mas com ajuda das mamãs, estou viva e tenho forças suficientes para trabalhar”, diz Felicidade Maria.»
Repare-se:
1- 'Beijo da mulata' não entra sozinha na dança... 2- Não fica provado que acerta onde a outra falha... 3- Foi notícia em 2006... 4- 'Beijo de mulata' ajuda a dar à luz... http://beijo-de-mulata.blogspot.com/ e então ficamos a saber mais. Pode ser 'maria-sem-vergonha' ou 'boa noite'.
Acrescente-se que a 'Maria-sem-vergonha' levou a belos tratamentos e que no final, na versão branca (com gotas de orvalho) é mesmo sinal de 'bom dia' ;-)