Luis Royo, Anthony Christian
Adormeci tranquila. Suportei, ora enfadada, ora irritada, ora indiferente, os dislates e a desavergonhada campanha eleitoral. Campanha de vizinhos ressabiados pelas malfeitorias que uns aos outros atribuem: _ estacionaste no lugar que todos sabem ser meu; dispondo-me a dormir, grita música na tua casa ou gritas tu e a tua rameira pelas marteladas na cama quando a minha senhora está aferrolhada na flanela do pijama e ronca, benza-a Deus!, que já me chega a Cidália dos Olivais; acordas-me quando bates com estrondo a porta ao saíres às sete; interrompes-me o jantar ao entrares em escandalosa risada com as tipas que engatas e tenho de espreitar pelo ralo, não hajas, por acaso, feito cerco nos Olivais.
Atingido o apogeu com a vitória da abstenção e os mais de vinte por cento conquistados por candidatos sem partidos com andores para o transporte «campanheiro» ou elevados por andas até à escolha (im)popular, surgiu a boa nova: a partir de ontem, tenho Provedor do Povo disponível para acudir aos expulsos de sobrevivência digna. Não deu o endereço do escritório em Belém, mas chega a Roma quem pergunta. Vítimas de injustiças sociais poupem cobres para papel, envelopes e selos. Doravante, confessionário aberto nas horas de expediente. Não vale com as queixas fazer aviões de papel e apontar para a marquise mais conhecida do país. Essas, leva-as o vento. As outras caem em saco roto, mas para o caso e função dá no mesmo – importa é desabafar com o passado e novo ‘garante da estabilidade nacional’.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros