Pululam exposições. Se raramente os horários permitem disponibilidade para figurar na inauguração, tempo sobra para visita posterior. À razão de uma por semana, procuro estar em dia com aquelas que a minha subjectividade elege. Nem sempre, digo escasseiam, as valentes que arrasam a mulher pela beleza e novidade. Normalmente, inesperadas. Mas insisto e avanço de mostra em mostra.
No sábado, deambulei pelos Muros de Abrigo na Gulbenkian, Centro de Arte Moderna. Como abracadabra, 4 euros por cabeça que legitimam entrada em todas as exposições cobertas pela Fundação – roubo/logro porque metade, no mínimo, dos lisboetas atentos a estas voltas já as conhecem. Visitantes pasmam e pagam devido ao habitual ‘dá-me o teu e toma lá pouco’ somado ao uso tão português do não tujas nem mujas. Custo escandaloso para um povo com salário mínimo que mais mínimo não pode ser. Haja réstia de decoro num país dito desenvolvido, conquanto cravado de dívidas e à beira de despejo por incumprimento da renda mensal. E admiram-se alguns, e troçam e fazem anedotário dos concidadãos que passeiam em fato de treino nos centros comerciais. Pudera! Antes alimentar ‘fantasias só de ver’ que cultura de luxo e elitismo podre. Houvesse exposições, eventos de teatro ou concertos de rua, a conversa mudaria. Mas não! Por ausência de hábitos culturais, atávicos, pessoas inteligentes vagueiam sem horizontes nos centros de consumo. O fato de treino é fuga prática e confortável à farda semanal. Sem razão para maldizeres.
A exposição da Ana Vieira é um desastre. Bem tentam figurões críticos de arte e guias mandados enaltecer e explicar o inexplicável num lugar como o CAM. O conjunto é démodé, cristalizado nos anos cinquenta, sessenta por condescendência. Cópia infeliz e inferior de correntes ultrapassadas de que, na altura devida, foi pioneiro o Victor Belém. Exposição assente em instalações, fotografia pintada, rebuscada com papel/lixo para encher o olho a desprevenidos, onde a humidade criou bolor por acervo descuidado. Pontificam flores em honesto plástico chinês, enfiadas em pontas entre redes sarapintadas. Rococós em todo o esplendor. De todo o visto, duas em madeira recortada e de branco pintadas requereram tripla atenção. O resto? _ Sofrimento!
Como memórias ou olhares que deviam restar privados, entendo. Como crítica ou retrato social é pobre e puro desgosto. Como criação é coisa qualquer.
Teresa- O que posso eu dizer? Estou de papo cheio com o escrito e com o irlandês da música. Bem haja. Infelizmente e para que conste aqui no Algarve a oferta cultural não é boa nem má ... não existe. De vez em quando subo a Lx.para desopilar e procurar por ex o Bairro Alto e seus amores tão delicados mas também parecem ter partido para parte incerta.Para beirão a viver no sul a cafetaria da Goulbenkian é quase N.Y.Se houver música e visita ao jardim é quase o delírio. Vejam bem a miséria... Have a nice day. You deserve it!
Aqui a pergunta é: na inauguração a dimensão estética da obra -exposição propriamente dita, como obra e cada obra exposta de per si- altera-se no dia da inauguração ou trata-se da tal questão da nobreza das ocorrências?
Pirata-Vermelho - esqueceu que não conhecendo o artista, e se da conversa mantida resulta informação!, as ‘vernissages’ para quem prescinde dos plásticos comes e bebes e do 'socializar' têm a vantagem mencionada. E não é despicienda.
Quem estabelece um preço é que sabe o porquê. Não há roubo/logro.
Os hábitos culturais não são atávicos. Criam-se. As pessoas não são inteligentes por isso, nem por isso deixam de o ser. Ou são?
«Esta exposição propõe uma releitura da obra de Ana Vieira e do seu lugar singular no contexto artístico contemporâneo. Possibilitará, também, uma merecida homenagem a Ana Vieira, passados mais de dez anos sobre a exposição antológica no Museu de Serralves, no ano em que faz 70 anos e na ilha em que cresceu - e que, como veremos e o título já indicia, inevitavelmente influenciou a sua obra. ...» http://museucarlosmachado.azores.gov.pt/exposicoes/?id=%20110
«... Muros de Abrigo, que corresponde a uma exposição antológica da obra de Ana Vieira, aberta ao público no Centro de Arte Moderna (CAM)/Fundação Calouste Gulbenkian, até ao próximo dia 27 de Março, distribui-se pelo hall e pela nave do CAM que, de acordo com o curador Paulo Pires do Vale, constituem os dois núcleos nevrálgicos da exposição, onde a composição do espaço, que precede de um centramento curatorial no muro, consiste no seguinte alinhamento: A obra de Ana Vieira vai dando passos em direcção ao branco, e parece querer desligar-nos a luz – e desliga.
Filiando-se nas linguagens artísticas e substratos abstractos de Magritte, Lourdes Castro, Noronha da Costa e de Michelangelo Pistoletto, perseguindo em tempo real uma tendência internacional dos finais da década de sessenta do século XX: (...)do esvaziamento da imagem à desmaterialização do objecto (...) , foi uma artista que ao longo do seu percurso, no panorama da arte contemporânea, teve uma aparição subtil o que, de certa forma, lhe conferiu autonomia artística e um percurso transversalmente coerente.
O momento iniciático expositivo opera-se no hall com a instalação Pronomes (2001), onde onze capotes negros se encontram suspensos e abrem no espaço a dimensão cénica e teatral inerente à produção artística de Ana Vieira, induzindo um redimensionamento da afirmação da identidade individual e colectiva e o questionamento da condição da mulher, mediante a afirmação de vocábulos que acentuam esse processo. ....» http://www.artecapital.net/criticas.php
«... No meio da exposição, uma casa feita de tecido e com os móveis pintados. No centro uma mesa posta, sem ninguém. Mas a peça tem som: ouvimos os ruídos de um grupo de pessoas a comer, os sons dos talheres, as conversas. Noutra zona há uma pequena abertura na parede. Espreitamos e vemos um casal a dançar - mas não o vemos directamente e sim pelo seu reflexo num espelho. ...» Alexandra Prado Coelho http://www.mynetpress.com/pdf/2011/janeiro/2011011423bd06.pdf (manchete-Público)
«Nasceu a 1981 em Mirandela e licenciou-se em Pintura pela Faculdade de Belas Artes do Porto em 2004. Participou em algumas exposições, das quais se destacam as de 2003:Concurso Jovem Criadores em Aveiro, 3ª Bienal de Vila Verde, III Bienal de Nazaré, Humaniarte no Porto, Bienal de Espinho; e a de 2008 no Museu da Santa Casa de Misericórdia de Mirandela. ...» http://noticiasdebustos.blogspot.com/2009/03/renascer-de-sonia-borges-na-galeria.html
o corrector lógico parece uma professora primária sempre a sublinhar e corrigir os erros ortográficos; não há pachorra! Quanto à arte, ou se gosta ou não se gosta, mas qualquer um se pode sentir roubado por lhe levarem 4 €, para ver uns mamarrachos....
Será que as professoras primárias fazem isso? Ou é primário o reparo de quem não tem mais onde pegar?
Aqui a gramática é mais da lógica e do bom senso.
Qualquer um... vírgula (não é gramática, é lógica e bom senso) é um auto-roubo para aqueles cultos que não sabem o que vão ver e chamam mamarrachos a expressões/contextos que não sabem avaliar.
Já me senti 'roubado' com caviar a 100€, mas não culpo quem o vendia...
No verão, estava eu a almoçar no Museu de Serralves, quando alguém com dois pratos na mão, empurrou a porta para o terraço e o vento levou pelos os ares duas folhas de alface. Pousaram em cima do tapete e a rapariga a olhar sem saber o que fazer. Os que vinham atrás a rir, disseram: Uaau! uma instalação! A gargalhada no terraço foi geral.