Robert Mcginnis Norman Rockwell
“Eu sou do tempo...” era começo de frase que, no «meu tempo» era exclusiva de avós e tias solteironas apoiadas em bengala encastoada com prata. À velocidade a que tudo por ora acontece, antecipada a idade para a proferir. Pela acrescida esperança de vida, muitos irão repeti-la a cada passo mais cedo.
Sou então do tempo em que as senhoras usavam combinação. Menina pequena, encantavam-me as rendas finas e os cetins brilhantes e sedosos. Lavadas com extremo cuidado numa solução de suave sabão de sedas. Tudo a rigor e com tempo. Secavam juntamente com outra roupa íntima, arredadas de olhares estranhos – não era de bom-tom exibir a olhos conspícuos tais mimos. Recato acima de tudo.
Na presença de pupilas inocentes emolduradas por caracóis presos com laços, as mães despiam-se até à combinação. Um beijo na bochecha e a sugestão com ordem implícita: “Não quer ir para o quarto brincar? A mãe vai arranjar-se para dormir.” E lá seguia eu corredor fora, interminável como ao tempo o via, cogitando na razão que me proibia vislumbrar mais pele além da que a combinação revelava.
Na combinação lia o símbolo de limites inultrapassáveis. A perceção do proibido. O corpo como mistério que não convinha desvendar. Fonte de normativos constrangedores. Sussurros findando e silêncio nascendo mal passos miúdos de criança eram ouvidos. Como se o longo fio das rendas imbricadas fosse medida da distância entre mães e filhas que só a ternura encurtava.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros