Greg Hildebrandt
Tenho remoído a pouca representação feminina nos diversos governos, as quotas em que nos perfilam, e o Dia da Mulher sem equivalente masculino. Como gota de água, vem a Clara Ferreira Alves realçar o nosso desalinho com os números, resumindo corrosiva: “continuamos a ter um problema. Somos mais estúpidas que os homens.” Do primeiro ao último facto, tudo me encaminha para a conclusão de néon - podemos trabalhar como condenadas, sermos independentes, dispensarmos o homem portas adentro, que são eles a dar cartas e a deliberar sobre as benesses que nos concedem. Assim seja!
Tempo atrás peroraria empenhada. Não deixaria cair argumentos, encadeá-los-ia tentando levar ao tapete os ditames masculinos. Agora, não. Cansei, fartei, que se dane! Cada mulher que se vire e trate de si. Teimo no olhar solidário para a afirmação feminina, enquanto confio na realidade, por aí já descarada, para a impor. Contra factos, argumentar é ocioso.
Não tenciono prescindir do cavalheirismo masculino, do dia da Mulher e de todos os dias que tenham por intenção mimar-me. Mais declaro: nunca me importei, nem importo, que o condutor me abra a porta do automóvel sim, sei que há fecho centralizado e comando, mas o simbólico conta, e muito! -, que convivas masculinos simulem levantar-se se sou obrigada a sair da mesa a meio de um jantar ou de uma reunião formal, que me sirvam o vinho. Não rejeito bouquets, presentes, mimos ou ajuda. De resto, adoro retribuir em profusão. Não me abespinho por um qualquer gentil homem mudar o pneu quando este ousa o furo. Acontecendo ficar um amigo sem o botão do casaco, não hesitarei no socorro, dando préstimo à agulha e linha. Aprovo a compreensão policial ao deparar-se com as minhas ingénuas(?) prevaricações e o sorriso cúmplice isento de multa: - “Não repita!” Chamem-lhe vícios ou maus hábitos. Entre tantos que somo, mais um, menos um, que importa?
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros