Rafal Olbinski
Ouvinte de silêncios. Como submarino imóvel que escapa ao radar do espírito interlocutor. O calado traduzo em fala, enganadora talvez. Não me arrogo acutilância ou dons divinatórios, todavia é a palavra suspensa que julgo entender melhor. Ou gestos por concretizar. Ou emoções pairando em limbo de reflexão.
Códigos tradicionais conheço alguns matemático, social, físico, português - do literário, do vernáculo e do rural gostaria saber mais - , um par e meio de línguas alheias, arranho o código económico, o químico trato por tu. Apaixonam-me uns, outros uso com indiferença; de todos recolho vantagens como a de rir com gosto da resposta à pergunta Porque se dissolve o urso branco na água? - Porque é polar. Piada seca? - Nem um pouco para quem das partículas ultramicroscópicas conhece a estrutura. A gestão dos silêncios funciona como impressão digital: é exclusiva de um indivíduo. E se as curvas celulares da pele fazem parte do código genético que ignoro e, por isso, pouco me dizem, já as pontes e os fossos dos silêncios são delatores.
Na condição de submarino não me incluo nos atómicos que podem esperar anos por reabastecimento de combustível e serem armas letais - preciso de renovado fluido emotivo, de gestos mansos, da âncora da confiança. Sem lua que ao oceano dos sentimentos determine marés vazas e cheias definha o apelo do entendimento. Serão mudos os silêncios. Náufrago o outro. Eu insuflo o salva-vidas e aproveito a praia-mar.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros