Há uma tela por comprar. Sonho-a. Nela fiz esboço imaginário. Olho-a de dentro para dentro. Deteto erros e corrijo-os. É experiência nova. Amadurecida. Segue ordem diferente da habitual: apaixonar-me pelo branco esticado, pela dimensão, no instante, pensar obra, adquirir e, em casa, arrebanhar óleos, pincéis, diluentes e cavalete. Meses voaram desde que na fantasia pairam traços e cores. Alicia o perigo implícito da concretização em muito se distinguir do idealizado – são dialéticos os viveres seguintes que o ser interpelam. Paleta doce ou agreste tem a faculdade de modificar conteúdo e tons que da tela farão o que será. E, pelo “Princípio da Incerteza” da Agustina Bessa-Luís, uma certeza: pintura acordada com o acontecido e o por acontecer.
Onde houver tela, tintas, e um pouco de energia primordial, pode edificar-se uma pintura similar á exposta, mas fruirá de haver “vontade” que é a energia mais poderosa que existe e que pressinto na própria natureza.
A.Reis - Concordo em absoluto. Todavia, é necessária boa dose de estímulo natural e família que desenvolva a inclinação. Comigo, em muitos outras situações que conheço de perto aconteceu deste modo. Não raro, a necessidade de pintar surge tardiamente e com ótimos frutos como é o caso de inúmeros artistas famosos nossos ou não.
Este género de Blues entedia-me. Julgo que como expressão musical popular dos afroamericanos noutros tempos ligados á agricultura e na situação de escravatura, se assemelha no pensamento e em parte, ao fado de Lisboa mais antigo.
A.Reis - Respeito a sua opinião. É exatamente pelas origens que referiu que é muito o meu gosto por este género musical. Em Londres, nas múltiplas visitas e em diversas ruas assisti a coros de Blues fabulosos. Em Harlem, não resisti. Quedei-me por lá quase dia inteiro. Voltaria, tempo depois e deliberadamente, num domingo. É indescritível como permanece viva, entre outras, a tradição das capelines, meias brancas, roupagem e sapatos elegantes, quando as mulheres se dirigem ao culto. Numa das igrejas, assisti ao melhor concerto do género em toda a minha vida. Nem no cinema, nem em gravações jamais ouvi semelhante.
Quanto ao Fado Património da Humanidade, apenas digo que me emociona e adoro sendo, como em tudo, de qualidade.