Bo Bartlett
Carolina Beatriz Ângelo a primeira mulher a exercer medicina em Portugal. Corria o ano de 1911, e o direito ao voto era concedido a poucos. A lei previa que num povo iletrado e economicamente desprotegido os votantes soubessem ler e escrever, tivessem rendimentos próprios aceitáveis e encabeçassem família. À época, a Constituição da República Portuguesa consagrava o princípio da igualdade entre homens e mulheres. Ardilosamente, pressupunha, pelos quesitos necessários ao exercício do voto, deste estarem arredadas as mulheres - não tinham independência económica ou família a cargo, a instrução era mínima ou inexistente. A viuvez e os filhos a cujas necessidades atendia, conferiam à médica o estatuto de chefe de família, que, a par da instrução elevada e vencimento próprio, legitimavam-lhe participação na vida sociopolítica através do voto. Assim o fez após sentença judicial que lhe reconheceu o direito. Votou na eleição para a Assembleia Constituinte de 28 de Maio de 1911. Após o ato isolado e audacioso no ambiente cultural reinante, o poder político decidiu em 1913 excluir expressamente as mulheres do exercício do voto.
Do arrojo dos portugueses provêm mudanças sociais que são impostas ao poder político inconsequente, cabotino ou arrogante. Esconder a cabeça na areia, chorar sobre leite derramado ou lamuriar de véspera como o peru que acaba recheado no forno diz, sensato, o povo de nada adiantar. Intervir, erguer orgulhosamente o queixo, não ceder os devidos direitos e cumprir deveres, é oleada rampa para a projeção de um povo responsável e de um país melhor. Havendo muitas Carolinas, seja seguido o exemplo da Beatriz Ângelo. Recusemos a humilhante condição de carpideiras embrulhadas em xailes negros ou de falsos gatos-pingados. Merecemos melhor - partisans que fazem a diferença.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros