Karin Jurick
Neste mundo caraterizado por guerras imbecis, pela humilhação dos outros, por enganos que de ledos nada têm, por conjugações exploradoras dos cidadãos, das novas que o percorrem à velocidade das luzes, o acontecido quando é já foi – a viagem dos fotões, pelas idas aos longínquos satélites e regresso aos meios divulgadores, não apaga fósforo em menos de um sopro. E se a informação está democratizada, de tamanha ser apetece dispensá-la, alargar as grades que aprisionam múltiplos de gigabits e respirar ideias pessoais.
Ignoro se a algum observador especializado em comportamentos e pensares humanos já ocorreu teoria assim batizada. Todos experimentámos ideias que batem à porta dos meandros cerebrais e não os largam até adquirirem consistência mínima – ‘ponta por onde pegar’, soe dizer. Ora, aconteceu. Nem foi precisado extenso matutar. Questão e resposta simples: omitir crítica azeda e substituí-la por elogio vero do que de bom existe em cada um. Sai valorizado o outro, refreamos instintos primários - de malvadez todos temos um pouco.
Elogio pragmático aliado à tolerância apela ao melhor do que possuímos. Indo do pequeno ao infinitamente grande, se tem êxito nas relações interpessoais, por restritas que sejam, quais as consequências a nível planetário? Pranto dúvidas que o mundo continuasse igual.
CAFÉ DA MANHÃ
Passou com braçada de rosmaninho silvestre. Ela perdurou nele o olhar. Qual o destino dos roxos cheirosos? Lembrou a alfazema colhida na quinta chegado Agosto. O isentar dos cachos floridos de caules e folhas esguias. Depois, enchimento das saquetas de linho bordado com iniciais dos ocupantes de cada quarto. Penduradas nos roupeiros, dentro dos gavetões onde lençóis e fronhas aguardam camas feitas para quem chega. Amores, todos, pelos enleios familiares ou afectos amigos dos amigos e da família que afectos são.
Levantou-se do assento. Perseguiu o rumo do aroma. Quis saber. Precisava de saber. A distância prudente, não invadisse ainda mais a privacidade do homem que na cidade passeava rosmaninho, viu-o entrar na agência bancária. A dela, também. Segundos depois, comandou a célula fotoeléctrica pela interposição do corpo entre ondas de luz, abracadabra costumado. Levantou dinheiro que não carecia. E viu _ o homem alquebrado depositou no balcão a braçada de campo na cidade; ofertou-a à funcionária que, presumiu a voyeur, o atendia e acarinhava e bem tratava há muito. Ela, surpresa. Ele, emocionado. Num ramo, ponte-quebra solidão e ternura.
Saiu antes dele. Não quis mais ver. Rejeitou, sem culpa, a intrusa _ o acontecido fora parte maior da beleza do dia porque condimento de amor na ráfia presa ao rosmaninho.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros