Blake Flynn
Abetos. Pinaceae Abies por classificação familiar. Cortado numa floresta nos arredores de Liège, um abeto vermelho abre o Natal e a noite no Vaticano iluminado por mil e quinhentas lâmpadas. Um outro espécime, primo do oferecido pelos belgas, vive numa montanha da Suécia. A contagem radioactiva atribui-lhe nove mil e quinhentos anos - o ser vivo mais idoso desta pêra bojuda a que chamamos Terra. Que terá testemunhado lá do alto? Estará cansado de vigiar o horizonte? De assistir a mudanças do clima e do contorno/fronteira que o ladeia? Sofrerá com o desentendimento de Copenhaga?
Por ora, em São Paulo, uma árvore de Natal pisca um milhão de microluzes. Engarrafa o trânsito por coisa assim jamais ter sido vista. Mas o Brasil é grande em muito. A cada dia, mais influente no mundo. Por cá, intriga a árvore de Mondim de Basto que três mil sapatos velhos enfeitam, fruto da nossa época desempregada. Pelo simples existir, denúncia. Interpela futilidades emergentes, a consciência de todos e dos mandantes.
Por entre piscar de biliões e biliões de luzes que exaurem energeticamente o património natural comum, chega o Inverno. Anuncia-se com vento, chuva, frio e neve. Entope o corre-corre quotidiano. Lembra a pequenez dos bípedes, primatas da subespécie Homo sapiens sapiens. Parte dos vivos. Pela condição, aparentados com o Pinaceae Abies. Na modéstia dos simples verdadeiramente grandes, lembra que “o tolo não vê a mesma árvore que o sábio”.
CAFÉ DA MANHÃ
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Peregrinando
Brasileiros