William E. Rochfort, Robert McGinnis, autor que não foi possível identificar.
Habituados a cinema bom e mau nos canais a ele dedicados, à revisão de antiguidades cinéfilas, ao enfia no leitor de DVDs o disco ótico selecionado, ao bem-bom de satisfazer urgência e na volta conferir movimento à imagem parada, vamos perdendo a memória da sala escura, dos noventa ou mais minutos de atenção exclusiva ao ecrã impressivo, da magia envolvente. Acontece aos melhores amantes da arte numerada como sétima.
Seja pelo olhar torto de quem nos desgoverna e conduziu (em destaque, a cultura), à pelintrice ou à indigência, seja pelo custo dum bilhete nos cinemas – superior à conta de refeição em muitos restaurantes também submetidos à penúria – os potenciais espectadores acomodados no sofá puído optam por filmes à la carte tendo alguns trocos no banco. Se não, pelos impingidos. Nalguns cinemas, nalgumas horas, nem duas dezenas de cabeças.
Quem interrompe o ciclo abúlico e cai na romaria da saudade, peregrina pelos calendários das exibições. Decide. Sai do casulo. Posta-se frente à bilheteira. Calhando a opção no recente Bond devido à pertença ao clube dos entusiastas da saga, a desilusão está arredada. Alguns temperos do Skyfall são: revivalismo, atualidade, futuro. Neste agente double 0 zero, passagem de testemunho do tradicional shaken not stirred, agora visto mas impronunciado, para novos Q, M e Moneypenny.
Naomi Wolf escreveu:
“Numa estranha mas adequada coincidência, o Presidente Barack Obama e o seu adversário republicano, Mitt Romney, realizaram o seu debate final – que se centrou na política externa – exatamente no mesmo dia em que o novo filme de James Bond, Skyfall, teve a sua estreia mundial em Londres. Apesar de 007, que comemora este ano o seu 50.º aniversário, ser uma marca mundial de origem britânica, a sua influência sobre o espírito político norte-americano – e esta influência sobre Bond – é óbvia.
Na verdade, a mais recente produção é uma parceria anglo-americana e o herói violento de ação de operações especiais que Bond tem corporizado, reflete os pressupostos dos EUA sobre a política externa e o Estado de Direito. O debate presidencial apenas reforçou o enredo dominante em tempo real: assassinar pessoas (inclusive cidadãos norte-americanos) unicamente por ordem do presidente, outrora considerado um crime de guerra, transformou-se numa série de aplausos.”
CAFÉ DA MANHÃ
Autor que não foi possível identificar
Para quem vem das Amoreiras e mergulha na cidade esquecida, o cheiro a frango assado antecipa Campolide. De arquitectura pobre, comum em Portugal, a classe média que a recheava envelheceu e passou a envergonhada pelas reformas pequenas. Com a patina do tempo – visão romântica da pintura descascada que a acidez da chuva sulcou de negro – o bairro laborioso tornou-se lar de terceira idade, o apoio domiciliário substituído pelo comércio de vão de escada. O Sr. Zé, que vende frutas, legumes e básicos de sobrevivência, dá alarme se há baixas na contagem das visitas diárias. O mesmo com a Cidália que limpa as escadas de para cima de meia dúzia de prédios, ou a D. Joaquina que, atrás do balcão, bem conhece os fregueses da leitaria herdada do defunto – “Mais valia tê-la vendido quando o «chinoca» quis comprar, mas que quer?, ensimesmou que gente daquela nem vê-la e olhe no que deu!, enfiou-me neste prisão; foi-se, que Deus o tenha, meio ano depois de nada valendo a esquisitice porque o chinês abriu uma loja duas portas a seguir.”
Deslustra o bairro não ter marcha que arrebate troféu na dengosa Avenida na noite de Santo António. Merece olhar de esguelha pelo acesso directo ao humilde bairro da Liberdade prás bandas da Serafina. Falta-lhe o sortilégio do vizinho Campo de Ourique, cujo comércio a nata social (re)descobriu, ou do elitismo da Lapa. Não é uma das setes colinas engendradas pelo frade Nicolau de Oliveira à imitação de Roma - São Vicente, Santo André, Castelo, Santana, quinta S. Roque, Chagas e a sétima, a colina de Santa Catarina do Monte Sinai desdobrada em socalcos para o rio. Já bastando o bastante, viria o cheiro a frango assado desde o meio das manhãs anular os perfumes-de-sair das poucas senhoras de sobrancelhas de lápis destacadas no pó-de-arroz.
Amoreiras e Campolide extremam segmento de idiossincrasias duma cidade impiedosa no arrumo das classes sociais.
CAFÉ DA MANHÃ
Peter Kindred, Emily Zasada
A tepidez. O escuro. A lassidão do primeiro gesto. Os olhos que se entreabrem. A fímbria de luz atrevida sob a porta. Pálpebras de novo descidas. Fruir do silêncio, da maciez dos lençóis, do sereno espertar. A coluna, os membros que dilatam e, no deslizar, devolvem energia a cada músculo. O estado de vigília acentuando a respiração. Como se célula a célula o dia acordasse. A doçura tranquila que anuncia a manhã.
Aberto à luz, o espaço caseiro é cenário afectuoso. Nada diz, mas conheço-lhe a precisão de respirar. Janelas abertas, o ar limpo devolve cor e lustro ao palco da minha intimidade. Mas é para o exterior que me viro. Para a morrinha da chuva. Para os verdes mansos e perenes que o Inverno não desfolha, apenas escurece o tom. Para o horizonte amplo. Para o vigor da frescura que a face reanima. O espírito, esse, ingere suculento pequeno-almoço por via da contemplação do parque, antes, espojado a meus pés.
Um aroma forte. Um café. Chávena verde lima na mão. Vapor cheiroso que inaugura o dia. Depois, bebericar. Suspensa a chuva miúda, a luz espevita, afasta a neblina espessa e surge o azul. O sol é tímido, mas como alterou as cores! Vivificou-as, devolveu-lhes brilho e à cidade desejo de acordar. Dia sem história prometida. No anonimato dos dias nada o lembrará. Porém, hoje é mais um na minha vida. Ontem, não sabia se o veria nascer. Se dele ficar memória boa para contar, melhor.
O putativo cambalacho dos Estados Unidos ao manipularem a saúde dos representantes maiores da América Latina adoecendo-os por via do cancro espanta. Ou não. Recordo o conto(?) de já nos países abrangidos pela finada União Soviética rolar a suspeita das «secretas» utilizarem guarda-chuvas com extremos de varetas aguçadas munidas de venenos biológicos - numa picada, eliminarem a saúde escorreita das vítimas. ‘Estórias’ ou História? Facto é o crescimento médio dos países latino-americanos oscilar entre três a quatro por cento. Os «States» definham e a Europa com eles. Certo é, no imediato, os madeirenses pagarem trinta euros por uma botija de gás cujo conteúdo não vale mais que meia dúzia de euros. Perguntou amigo informado nestas coisas do «economês» e «politiquês»: _ Qual o destino da impressiva diferença entre o pago e o custo real?
Se acrescer que a família Sebastião, pais, filhos e netos, espera tolerância do governo do Canadá onde vivem há dez anos com o estatuto de clandestinos para ali permanecerem ou segue hoje, directa, para Rabo de Peixe, duvido que lembranças adoráveis marquem 29-12-2011 no meu calendário. Solidariedade íntima e militante acarreta consequências.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros