Domingo, 25 de Agosto de 2013

LOGO APÓS ONDE O SUL COMEÇA

 

 

Deixando Lisboa, a ponte é o “lugar onde o Sul começa” jura amigo desde há par de décadas. É dado às letras, às pedras, à água no seu brincar, às madeiras que mima e restaura com saber, ao canto, à música que escuta e improvisa até com passos ritmados no cascalho. Coincide neste particular com Adriano Correia de Oliveira que conta ter sido este mesmo som vindo de bando de gentes que inspirou ao Zeca a cadência da “Grândola, Vila Morena”.

 

Porque não nos víamos há uma dezena de anos, combinado encontro para um domingo ainda Agosto estava antes do meio. A fala que um ao outro contou as novas pessoais e familiares foi sorriso multiplicado na descoberta de lugares e revisitação dos mais amados.

 

Para quem entra no Castelo de São Filipe, virando as costas à luz em frente, pedras e cerâmicas vetustas protegem o silêncio.

 

 

Encarando o azul certeza, outro arco e outra porta ancha.

 

 

Na subida da escadaria gasta pelos séculos, jogos de sombra e luz, ferros.

 

 

Quase a medo de rever o deslumbre dos horizontes longe e próximo, queda-se o olhar. 

 

 

 

Apetecem novos testemunhos de presença no belo ancestral.

 

 

 

 

É tempo do adeus à baía talvez mais linda de Portugal.

 

 

O mesmo oceano, o mesmo maciço da Arrábida, o mesmo azul, outro castelo - o de Palmela.

 

 

As serras do Louro e de São Luís sugerem enrugamento da Arrábida. A estrada da Cobra serpenteia entre elas.

 

 

CAFÉ DA MANHÃ

  

publicado por Maria Brojo às 09:49
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Quinta-feira, 25 de Abril de 2013

FOI E É

 

Darren Rice

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 07:22
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Segunda-feira, 12 de Setembro de 2011

DE ANTEONTEM PARA HOJE

William Henry Chandler

 

Isento de suspeição o acordar pelas sete habituais que voz querida sabia e, por isso, marcou número. Desafio irresistível _ “ Pelas dez, estou aí. Enfia trapos e precisões numa mala que seguimos por aí acima até o Prado nos ver.” Estremunhada, ainda balbuciou objecção de porcelana para, logo, assentir _ Pois se era o que mais desejava e só a rodilha do sono a impediu da normal lucidez no querer… Uma volta pelo AKI para compra de tintas e pincéis e mais instrumentos e produtos desconhecidos para no Prado continuar o restauro. Até Junho, antes da obstinação de recuperar onze divisões maltratadas por duas décadas e picos de abandono, o sítio metia dó a quem lhe conhecera o esplendor.

 

A subida da Grande Alface até às faldas montanhesas pareceu tiro sem dano no espírito aventureiro e no corpo de quem usa mãos e braços para outros delicados e prazenteiros fins. Chegando, troca de roupa citadina por outra adaptada a diluentes e martelos e sprays milagrosos capazes de fazerem rodar pinchos, dobradiças, torneiras de segurança teimosas em saírem da imobilidade/rotina solitária de quem há muito não sente afagos e se esqueceu do que são. A montanha iluminada por entardecer hesitando entre o soalheiro e o nublado acrescia mistério e bem-aventurança aos que desfrutavam o titubear experimentando ‘sangue de boi’ no ferro duma janela das águas-furtadas. Foi rejeitado por unanimidade. Aprovado sem abstenções em vez de cinza claro nas paredes, branco puro, janelas cinza em mistura com laivos de azul goteado, ferros exteriores, esses sim, no tal vermelho sanguíneo no ponto de secar. Por dentro, brancura, portas e aros e arcos e tectos de madeira sã pintada em cinza igual ao das janelas. Enceradas e luzentes as tábuas do soalho. Móveis restaurados ou disfarçados ou trocados por outros que esperam utilidade no sótão de casa outra. O descrito é futuro esperançado. O presente é composto de lixo, terra infiltrada, madeiras saudáveis cobertas pela mistela, janelas descascadas, vidros partidos, nogueira cujos frutos foram roubados, uvas moscatel como vestígio resistente. Afortunado.

 

Hoje ficou limpo o balcão das silvas enroladas na glicínia outrora pujante, agora seca até ao âmago, retirados «sacões» de inutilidades dos muitos baús e das paredes e dos móveis, descobertos tesouros, decidido o que fazer do espaço reservado à antiga capela, uma casa de banho mereceu diagnóstico do necessário, cirurgia no premente. Resultou. Amanhã muito haverá para fazer e dele retirar prazer.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 16:18
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Segunda-feira, 22 de Agosto de 2011

MARIA EMÍLIA MANTA E MARIA DO CÉU FERREIRA DE JESUS (II)

Jim Todd

 

Maria do Céu prosseguiu o relato. “O Estatuto do Trabalho Nacional em 1933 introduziu mudanças pesadas – os sindicatos deixaram de ser por classe e passaram a corporativos. Em Gouveia, surgiriam em 1939. Direcções fantoches nomeadas pelo governo. Através de esbirros sindicais, todo o ocorrido entre operários era comunicado ao patrão.

 

Novidade se interpôs a meio dos sessenta: abertura do turno da noite na Escola Industrial que sublinhou a atávica rivalidade entre Seia e Gouveia por, então, ambas as vilas concorrentes em importância desejarem também neste particular a primazia. Na última, o domínio económico e político repartia-se entre Bellinos e Frades (estes, donos das Amarantes). Em degrau seguinte de importância, a família Leitão, também distinta por incentivar a formação dos operários. Facto é os patrões dos lanifícios em Gouveia seleccionarem os funcionários candidatos ao ensino nocturno: aos preferidos - ‘bem comportados’ (?) - pagavam custas do bilhete de identidade e propinas. Fui preterida. Não desisti: paguei o necessário do meu bolso e, curiosidade, fui a única que terminou o curso com êxito. A entidade patronal não facilitava a vida dos trabalhadores/estudantes - horário por turnos igual ao de sempre. Valeu-me a mãe que trabalhava na mesma fábrica e fazia as noites enquanto eu libertava tempo para as aulas ao trabalhar apenas de dia.

 

Ainda na década de sessenta, a maciça emigração essencialmente para França. Os homens partiam, as mulheres ficavam, algumas até o marido conseguir lá fora sustento e abrigo. Aumentou, em consequência, a mão-de-obra feminina e operária, nomeadamente na secção de ‘estambre’ tradicionalmente masculina; razão para serem diminuídos os salários.”

 

A Milita recordou que a vida na fábrica lhe lembrava o filme “O Grande Ditador”. Risível e dramático. Havia saído do Patronato para a “Formação Feminina” na Escola Industrial com equivalência ao quinto ano do liceu. À mãe foi proposto que a jovem integrasse o quadro técnico do laboratório da “Sociedade Industrial”. A jovem aceitou com entusiasmo pois aplicaria alguns dos conhecimentos da Química aprendida. Ela empregada, a Maria do Céu operária. E se eram marcantes as diferenças! A mais ligeira, conquanto não despicienda, era a de existirem duas portas de acesso à fábrica consoante a categoria dos trabalhadores – empregados por uma, a que o patrão utilizava, operários por outra. Nos dias imediatos ao 25 de Abril, seria a última definitivamente encerrada.

 

A Maria do Céu desfiou, ordenada e objectiva, mais memórias. “ Na Primavera Marcelista foi dada a possibilidade a movimentos de cidadãos de se candidatarem em listas para a direcção dos sindicatos. Nos anteriores, pelo descrédito associado, ficaram vagas chefias. Possível, doravante, eleições sem o crivo do Ministro das Corporações. Fui dirigente sindical. À época, na fábrica, a minha categoria era de ‘quadro intermédio’. Ora, tendo concluído o curso industrial e sido alargados os quadros técnicos, indaguei ao patrão, o Engenheiro Frade, porque não fora abrangida. Resposta:

_ Sabe, é solteira, não tem família a seu cargo, et caetera e tal.

Desculpas em farrapos. O cerne estava na minha função sindicalista.

 

Em Dezembro de setenta e três, a ‘Direcção Sindical dos Lanifícios’ que já integrava a CGTP ainda na clandestinidade, vê-se desprovida de dois membros sem estofo para lidarem com a força dos trabalhadores. No Natal desse ano, acontece grandiosa festa destinada aos trabalhadores das ‘Amarantes’. Brinquedos para as crianças, animação, comezaina. Um ror de despesa explicado pelos números excepcionais atingidos pelas encomendas. Não fui. Recusei-me a pactuar com a injustiça patronal de que fora vítima. A 4 de Abril de 1974 fui despedida. No dia 17 do mesmo ano, ocorre nas instalações do sindicato plenário à cunha de participantes; a PIDE envia emissários. Decidido entrarem em greve os funcionários das ‘Amarantes’ e da «Belina» se eu não fosse readmitida. Marcado novo plenário para 28 do mesmo mês. Entretanto, já recebera contra-fé para me apresentar no Governo Civil da Guarda. Valeu-me estar relacionada com Juventude Operária Católica.

 

25 de Abril. Gouveia, como todo o país, em festa. A Mila lembrou que poucos dias após, juntamente com a Maria do Céu, foram convidadas para reunirem em Oliveira do Hospital com António Campos. Integrar o PS foi a proposta. A Mila recusa, a Maria do Céu aceita. Viria a fazer parte do primeiro secretariado do partido em Gouveia.

 

Continuaram as vivas lembranças da Maria do Céu. “A 28, o plenário marcado duas semanas antes foi manifestação ímpar. Exigidos aumentos de mil escudos e a minha reintegração. Decididas eleições pela vez primeira livres para a direcção do Sindicato. Luta renhida entre as duas listas concorrentes que representavam concepções diferentes da estrutura e objectivos do sindicalismo. A que encabecei ganhou, excepto na Guarda, não sem que antes do acto eleitoral tivesse pedido demissão do secretariado do PS com a finalidade de salvaguardar a minha independência política.

 

A progressiva descapitalização da Sociedade Industrial/Amarantes, também através de obras públicas inúteis e mal explicadas mas bem apadrinhadas por figurões com relevo nacional, conduziu ao encerramento da fábrica em 1981.”

 

Nota: agradeço a estas duas brilhantes e exemplares cidadãs toda a informação que, generosamente, me forneceram.

 

CAFÉ DA MANHà 

 

publicado por Maria Brojo às 07:03
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Domingo, 16 de Maio de 2010

QUANDO A LÍNGUA ENGASGA

Yonos

 

Eyjafjallajoekull. Quem pronunciar a palavra sem engasgo que se acuse. Não eu _ escrevê-la já é susto pela dezena de consoantes e quase metade em vogais. Mas é islandês e vulcão. Após sono prologado, acordou indigesto. Tem vomitado o que nas estranhas lhe interrompeu descanso. Mal disposto e rezingão, continua com soluços e gripado. Tosse e espirros constantes fundamentam o dito dos pastores islandeses: “Mais vale uma ovelha a berrar em casa do que cem a pastar perto de um vulcão.”

 

Voltando à incompreensão de línguas estranhas, ao abastardamento da oficial pela mistura com dialectos locais ou linguajares importados, lembro historieta antiga que a actualidade duma Angola pacificada e em progresso desdiz. Reza assim:

 

“Lisboa manda um telex para o Instituto de Meteorologia e Geofísica de Luanda avisando:

_ Manifestação sísmica. Stop.

_ 7 de Richter. Stop.

_ Epicentro a 3 km de Luanda. Stop.

_ Tomar precauções. Stop.

 

Dois meses passados, resposta de Luanda:

_ Obrigado meismo! Mánifestáção foi travada.

_ Liquidámos os 7 mais não apanhámo o Richter.

_ O epicentro e seus capanga estão todo nos cadeia. Vão ser fuzilado amanha.

_ Descurpa só agora nois responder mas houve aqui um terramoto quia fó*en*o esta mer*a toda.”

 

Nota: tem sido impossível ir além da leitura e do apreço aos comentários. Teresa C. está no bom caminho para desbravar dose surpresa, indigesta, de ficheiros e papel.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 10:33
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