Segunda-feira, 15 de Junho de 2015

TULIPAS DA ALMA

Mike Bougher, autor que não foi possível identificar

 

São tulipas. Num ramalhete, verdes finos, outros carnudos, tons de rosa e de roxo desmaiados - tons pastel, digo.  Oferta de gente linda que partilha comigo o trabalho/gosto. E quem não gosta de receber flores como símbolo de afectos construídos com verdade transparente nos gestos, entre eles a transmissão de saberes jamais arrogante, mas disposta a com todos aprender?

 

Porque o conhecimento não livresco é adquirido com aqueles onde descortinamos valias sábias, nos povoados grandes ou pequenos, do pastor ao idoso na fila do Centro de Saúde ou do autocarro, o segredo é conversa atenta. Quem nos outros concentra interesse, intui num ai quais as pessoas com muito para ensinar. A curiosidade encomenda o resto: entabular conversa, ouvir muito e pouco fala. E as pessoas escolhidas optam entre o silêncio e a dádiva das experiências relatadas. Também o silêncio permite aprendizagens e motiva questões: porque se recolhe no mutismo, porque alarga as fronteiras entre o ser e o dos demais. Se bem observarmos, alguns afastam-se e procuram espaço onde corpos alheios estejam afastados. Incapacidade de partilha social ou necessidade básica de preservar recolhimento individual?

 

Sou mulher viciada no perscrutar, não no estereotipado estilo da porteira ou da vizinha que o alheio vigia por detrás das cortinas. Interessam-me almas sem que me atreva a julgá-las. Entendê-las, sim. Por isto não me distraio de quem comigo se cruza ou segue ao lado ou à frente. Daqui as tulipas frescas onde o meu olhar se regala.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:00
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Domingo, 3 de Maio de 2015

“PAROLES”, MÃE

 

 

RGarrison

 

 

Era o tempo da Romy Schneider. Do cabelo liso acima dos ombros com as pontas viradas para cima. Certinhas. Das fitas largas na cabeça que lhe ficavam tão bem. Era o tempo da Maria Laforêt, do Alain Delon e da Dalida. Da saia acima do joelho que o bom senso media. O tempo do concurso da “Mulher Ideal” a que as suas amigas incentivavam a concorrer. Pelas mãos de fada, pela arte nos arranjos florais, pela perícia na economia doméstica que, com pouco, sofisticava uma refeição, pelo saber-estar social. Foi o tempo do cinema como local de encontro blasé. O tempo da meninice primeira que me soube dourar –o pé-ante-pé em camisa de dormir para a sua cama onde me abraçava, esvoaçava beijos e lia contos infantis.

 

 

 

Lembro-me de vir à sala para ser exibida no maior apuro e depois entretida algures enquanto decorriam os chás ou as reuniões Tupperware. De a olhar com o nariz espetado para cima, orgulhosa por dar a mão à senhora mais bonita da festa. De me motivar para a aprendizagem da costura, da essência do cozinhar, do gosto e feminilidade no vestir. De limitar as nossas conversas a generalidades, risos, conselhos e pouco mais -– e eu ardendo no desejo de saber o que era isso de passar de menina a mulher. Lembro vê-la sonhadora, o livro caído no regaço, enquanto ouvia “Paroles, Paroles.” De me aconselhar na escolha do vestido de noiva. De a ter ao meu lado em cada degrau da vida. De a amar, temer, admirar, amar e agora proteger - filha/mãe mimando a mãe/filha. E lembro. E vejo. Hoje e no tempo dos gira-discos e do concurso da Mulher Ideal. Ofereço-lhe a música lá em baixo, mãe. Ouça-a e descaia a revista no regaço. Trocarei as suas lágrimas por beijos meus.

 

 

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

 

publicado por Maria Brojo às 07:47
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Quinta-feira, 7 de Agosto de 2014

AMORES NO CINEMA - BARDOT E DELON

 Brigitte Bardot by Lilach Eizenberg                      Brigitte Bardot – Ilustração                                          Brigitte Bardot by Vector 

 

      

Young Brigitte Bardot – Funkpix                                                                Brigitte Bardot et Alain Delon by Raymond Marcel Depienne

 

    

Alain Delon by Shahin Gholizadeh                                                                                                            Alain Delon by Adetomir

 

No filme “Les Amours Célèbres” - película realizada por Michel Boisrond em 1961 -, foi reunido par célebre que continuaria o romance para lá do plateaux. Ambos ícones de beleza, derramavam suspiros nas espetadoras e nos expetadores.

 

Brigitte Anne-Marie Bardot (Paris, 28 de Setembro de 1934) ficou mundialmente conhecida pelas iniciais BB. Foi o grande símbolo sexual dos anos 50 e 60. Ícone de popularidade na década de 1960, foi eleita pela revista americana Time como um dos cem nomes mais influentes da história da moda. Tornou-se estrela internacional em 1957, após protagonizar o polémico filme “E Deus Criou a Mulher” produzido pelo seu então marido, Roger Vadim. Chamou a atenção da intelectualidade francesa e Simone de Beauvoir descreveu-a como "uma locomotiva da história das mulheres" e considerada a francesa mais livre do Pós-Guerra. Viria a ser ativista dos direitos animais após se afastar da vida pública. Em Inglaterra (2009) foi eleita como uma das dez atrizes mais belas da história do cinema

 

Alain Delon (Sceaux, 8 de Novembro de 1935) teve como primeiro grande sucesso O Sol por Testemunha de 1959. A sua beleza física transformou-o num símbolo sexual nos anos 60 e 70.Talvez por isso, tenha lutado para ser reconhecido como um grande ator, e não apenas um ‘rostinho bonito’. Em 1997, para tristeza dos admiradores, Delon anunciou que pararia de atuar, dececionado com os rumos do cinema francês. Possui vários produtos com o seu nome, incluindo roupas, perfumes, óculos e cigarros.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

publicado por Maria Brojo às 09:00
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Quinta-feira, 19 de Setembro de 2013

“PAROLE, PAROLES”

 

 

Era o tempo da Romy Schneider. Do cabelo liso acima dos ombros com as pontas viradas para cima. Certinhas. Das fitas largas na cabeça que ficavam tão bem. Era o tempo da Maria Laforêt, do Alain Delon e da Dalida. Da saia acima do joelho que o bom senso media. O tempo do concurso da “Mulher Ideal” a que as suas amigas incentivavam a concorrer. Pelas mãos de fada, pela arte nos arranjos florais, pela perícia na economia doméstica que, com pouco, sofisticava uma refeição, pelo saber-estar social. Foi o tempo do cinema como local de encontro blasé. O tempo da meninice primeira que me soube dourar – o «pé-ante-pé» em camisa de dormir para a sua cama onde me abraçava, esvoaçava beijos e lia contos infantis.

 

Lembro-me de vir à sala para ser exibida no maior apuro e depois entretida algures enquanto decorriam os chás ou as reuniões Tupperware. De a olhar com o nariz erguido, orgulhosa por dar a mão à senhora mais bonita da festa. De me motivar para a aprendizagem da costura, da essência do cozinhar, do gosto e feminilidade no vestir. De limitar as nossas conversas a generalidades, risos, conselhos e pouco mais – e eu ardendo no desejo de saber o que era isso de passar de menina a mulher. Lembro vê-la sonhadora, o livro caído no regaço, enquanto ouvia “Parole, Paroles.” De me aconselhar na escolha do vestido de noiva. De a ter ao meu lado em cada degrau da vida. De a amar, temer, admirar, amar e agora proteger – filha/mãe mimando a mãe/filha. E lembro. E vejo. Hoje e no tempo dos gira-discos e do concurso da "Mulher Ideal". Ofereço-lhe a música aqui em baixo, mãe.

 

Dalida por autor que não foi possível identificar e Alain Delon por Chris Laure

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:22
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Sábado, 24 de Abril de 2010

EXCERTO DE NADA

Peter Hedley

 

Dita do Adamastor. A auto-estrada do Tejo em frente. Veleiros e cacilheiros. Embarcações miúdas. Umas e outras deslizando na serenidade sem faixas e loendros empoeirados separando alcatrão.

 

Na hora do almoço, míngua de apetite que tosta e água satisfaziam, fosse de sol ou neblina a luz. Desequilibrava os saltos na calçada oblíqua dos quarenta e cinco graus inclinados. Olhava os junkies, o vazio de rodados, a companhia do Adamastor reformado do afunda caravelas e tormenta de marinheiros, os verdes selvagens no jardim esquecido que o Tejo marginava do alto. Espaço que anos e anos tornara adulto, tão diferente dos designs arquitectados em ateliês por visionários de uma Lisboa em maquetas, obediente a qualquer forma de modernidade, menos invento do que cópia.

 

Procurava a esplanada na Senhora do Monte ou Santa Catarina do Monte Sinai, assim baptizada por um frei qualquer apostado em fazer das físicas elevações de Lisboa imitações do Aventino, Esquilino porque não?

 

No Antigo Pico de Belveder, nome de palácio, de casta nobre com jacarandás/debruns fronteiros ao rio, engolia o prazer da esplanada como tranquilizante comprimido numa tablete de alumínio.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

 

publicado por Maria Brojo às 10:55
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