Sexta-feira, 10 de Fevereiro de 2012

FALTAVAM HORAS PARA OS DEZ

Autor que não foi possível identificar

 

Entrei aos nove, faltavam horas para os dez, no ‘Liceu’ Infanta D. Maria. Obrigada a bata cor de salmão, foi imediato o desgosto que me acompanharia até ao fim – odiava a cor mais o nome, número e turma bordados no tecido rafeiro. Nos idos daquela escola, cada leva anual, sua cor. Tive sorte em não me caber o lilás.

 

Um mês não era passado, falta disciplinar. Motivo: na aula de francês que desde os seis frequentava na Alliance Française, ao repetir o ‘tu’ em classe, tanto apuro tive na pronúncia que soltei assobio no «tiu». A professora não esteve para o que julgava ser graça e puniu-me. Como dizer aos pais que tinha sido levada ao gabinete da reitora por infracção? Contei o sucedido à espera do pior que não aconteceu pelo entendimento do facto. Acrescentei a benevolência com que fora tratada pela maioral ao reparar no apelido meu. Tempos outros que hoje continuam no pior havido. De resto e pela mesma razão, seria vítima d’amores desencontrados entre primo segundo e a professora de Geografia.

 

Os anos correram e mais não houve merecedor de nota, salvo restrições contempladas pela época. À professora de Geografia daria, ao retirar-me dispensa dos exames nacionais, bofetada com luva imaculada quando recebi prémio nacional das mãos do Ministro da Educação pelos resultados obtidos. Seria a vez primeira que apareci na «têvê». Com tão pouco inchei o ego. Envergonhada reconheço a vingança infantil.

 

Debaixo do caderno, nas aulas, tinha o livro não permitido surripiado da biblioteca dos pais. Arrojei surtidas enquanto membro da ‘rádio liceu’ que abria goelas nos intervalos. Músicas proibidas ficavam por minha conta. De novo, chamada à reitoria, adoptava ar de inocência imbatível que o estatuto de membro do ‘quadro de honra’ justificava aos olhos de quem mais legitimava o parecer do que o ser.

 

A discriminação social era regra no D.Maria como hoje nas escolas públicas. O sentimento de exclusão existia e magoava e marcava quem dele era alvo. Crueldade de meio pequeno, da famílias sim e outras não. Pelos ideais inculcados na família, neguei o logro.

 

Ao largar a bata salmão, senti-me feliz. A consciência pessoal fartara-se.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 13:02
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