Terça-feira, 20 de Janeiro de 2015

«GEME-PARA-RIR»

 

Almada Negreiros Gare Marítima da Rocha Conde de

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Almada Negreiros - Gare Marítima da Rocha Conde de Óbidos

 

 

 

Portugal, a ter alcunha no povoado europeu, seria «Geme-Para-Rir». Lugar pequeno, aninhado entre o muro Espanhol e o Oceânico, habitado pelos «gemepararrirense»s, gente de sólida fé na lamúria como amparo e fonte de riso. Povo desconfiado, bonzinho, caritativo, pródigo em «peninhas» - de quem teve a casa assaltada, foi atropelado, é desgraçadinho, se impõe pelo maior currículo de doenças, pouca sorte ou fraca figura. Enfim, alimenta a auto-estima não dos méritos próprios mas dos duvidosos ganhos em comparações menores. E fica satisfeitinho. Quiçá, arriscando risota. Mais sonora se meter marido cornudo, esparrela a incautos, vigarices aos «grandes» atavicamente enchendo os bolsos, as contas suíças ou off-shores à custa dos «pequenos» - vulgo, povão, zé povinho, maralhal.

 

 

 

 

Em «Geme-Para-Rir» é frágil o arrimo ao trabalho -– “se aquele nada faz, o mesmo farei que não sou menos do que ele!” O objetivo de vida é enriquecer à custa da sorte –- mortos os tios da América perdeu-se a fé nas heranças. Maior temor é a doença, seguido da desconsideração pelos vizinhos - pior do que ladrão é ser um zé-ninguém sem pelos bens encher o olho aos demais. Tempos houve em que muitos saltaram o muro Espanhol ou o Oceânico. Do nunca visto traziam notícia. Alguns lá ficaram, engolidos pelo monstro chamado fado; outros trouxeram casa e automóvel,“tudo sofrido”, diziam, “mas aquilo, sim!, é mundo.” Os «gemepararrirenses» creem a lamúria e a cunha como indissociáveis do sucesso -– ter mais que o preciso sem muito laborar. Julgam pouco atinado rir à solta, não vá quem manda pensar fáceis os dias da arraia miúda.

 

 

 

 

O riso constitui uma espécie de reserva semelhante à do ouro nacional. É usado com parcimónia, mas, sendo preciso impressionar o mundo, os «gemepararrirenses» são foliões, originais, «levados-da-breca», vaidosos e pulam para a rua de bandeira na mão. (Des)Assestado o óculo internacional, voltam à pelintrice sorumbática. No museu de «Geme-Para-Rir», estão guardados bens preciosos: os direitos adquiridos. O povo vigia e assanha-se e grita se cuidar deles os pretenderem apartar. Mesmo saindo pela porta do museu mortíferos tentáculos que a presente e difícil vida tentam esganar.

 

 

 

 

CAFÉ DA MANHà

 

 

 

 

  

publicado por Maria Brojo às 08:00
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Quinta-feira, 12 de Junho de 2014

SÓ PARA «MOUROS»

 

                                                                           Almada Negreiros - Gare Marítima de Alncântara

 

Dia de trindade de festanças. À uma, marchas populares deslizando na noite lisboeta ali prás bandas da Avenida. Às duas e a escassas horas anteriores ao desfile de cetins berrantes mais os arcos com seus balões, o espetáculo de abertura do Mundial de Futebol concebido por empresa nossa de Leiria. Às três, o primeiro jogo: Brasil-Croácia.

 

Para «mouro» aficionado de futebol e das coreografias marchantes apreciadas in loco que tenha por costume escolher com antecedência lugar para nada perder da noite rainha de «Lesboua», a opção está difícil: ou Mundial e jogatina ou o meneio apurado das ancas bairristas.

 

Apostando no três em um, configuro lisboeta avançando para as marchas munido de tablet. Possível nos intervalos entre saracoteios, mandar bocas no Facebook, seguir as últimas do Brasil, ou não saiba um português a conjugação do verbo desenrascar de cor.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:52
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Segunda-feira, 14 de Abril de 2014

A HISTÓRIA DO FEIO

 

"O Almoço do Trolha" - Júlio Pomar (1946-50)

 

Do Feio reza a história. Desconheço se Savinien de Cyrano possuía a disformidade inspiradora da peça de Rostand. Factos são o Savinien ter acrescentado Cyrano ao nome de Bergerac e estarem os seus despojos corpóreos sitos no Cemitério do Père-Lachaise.

“Pintor algum jamais desenhará
perfil semelhante ao de Bergerac;
mais bizarro, excessivo, extravagante,
grotesco, caricato e petulante!
Penacho no chapéu, capa e espada,
corajoso não perde uma estocada!
Fingindo um rabo de galo insolente
empina-se e enfrenta todos o Valente!
Exímio espadachim, consigo porta
uma crista esquisita, rubra, torta...
Um nariz! Mas que penca gigantesca,
feia, disforme, polichinelesca!
Todos que veem um narigudo tal
pensam: Ah Meu Deus, que hipérbole nasal!
Não seria melhor tirá-lo? Engano!
Jamais o tira o intrépido Cyrano!””

Aristóteles distinguia o Belo e o seu oposto: o primeiro, como indicador devirtude, o Feio como o mal e o seu sinal. Os conceitos primários de hoje quase cópia daqueles. O Feio dominando aparições dum real feito de sombras e de medos. Associado ao cómico e ao obsceno. À dor. À doença. À fome. À guerra. À exclusão. "É considerado feio o rosto dos excluídos, o trabalhador rural, as mãos embrutecidas do operário. É preciso uma estética de libertação a partir dos oprimidos, que são a maioria da população que não se encaixa nos padrões de beleza", li por aí. E negamos o desagradável. Afirmamos, (…)

 

Nota - texto publicado, hoje, aqui.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 10:31
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Quinta-feira, 24 de Outubro de 2013

MATERNIDADE TARDIA

 

 

Almada Negreiros                                                                   Klimt - Le Tre Età Della Donna

 

Prioridade à carreira, falta de trabalho e de condições económicas neste país/esquife, viver muitas experiências, et cetera - vários os motivos que levam as mulheres a adiar cada vez mais a maternidade. Quais as consequências desta decisão? O que pensamos nós, portuguesas?

 

Desejo de ser mãe versus carreira

A decisão de ser mãe vai muito além do aparentado numa visão imediatista. Quando se tem uma profissão da qual se gosta, como abdicar dela para ser mãe? Como estabelecer o equilíbrio entre a exigência crescente da atividade laboral e familiar?

 

Barrigas de aluguer - "Um problema polìtico"

Autoridades ligadas ao Serviço Público de Saúde declaram que a legalização das barrigas de aluguer «é um problema pouco médico e mais político». Até ao presente, a ordem dos médicos não prevê admitir esses tratamentos.

 

Pagar para engravidar

Entre 2 mil e 3 mil euros é o valor necessário para se iniciarem tratamentos de infertilidade no sector privado.

 

Quero um bebé mas não agora

O adiamento da maternidade dos 30 para os 40 anos é cada vez mais comum. A gravidez torna-se de risco, mas não necessariamente complicada. A ciência deu ajuda e hoje, muitas mulheres até aos quarenta e poucos anos ostentam, orgulhosas, a proeminência de sua gravidez. Bebés saudáveis esperam a hora de nascer e concretizam sonho dos pais. Espera as crianças muito desejadas, meio envolvente de amor e tranquilidade. Nem sempre garante de futuro sorridente.

 

Mulheres não podem esperar pelos 35 anos para engravidar

Foi, há par de anos, o alerta do presidente do conselho de administração da Maternidade Alfredo da Costa (MAC), em Lisboa, relativamente à baixa de natalidade que se tem assistido nos últimos anos. O problema, entretanto, agravou-se.

 

Adiar a gravidez

A idade dos pais e condições económicas, por hora desgraçadamente limitadas, os cuidados médicos e correlacionados que o Sistema Nacional de Saúde não garante satisfatoriamente, são importantes na hora de decidir uma gravidez. Preocupações relevantes no crescer da família.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

- O primeiro vídeo trata em detalhe a obra de Klimt - Le Tre Età Della Donna.

- O segundo vídeo, em linguagem acessível, explica causas da infertlidade e os vários tratamentos disponíveis.

 

publicado por Maria Brojo às 05:39
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Segunda-feira, 7 de Janeiro de 2013

É DO FEIO O TRATADO

Cruzeiro Seixas

 

Do Feio, reza a história das artes e da filosofia. Desconheço se Savinien de Cyrano possuía a disformidade inspiradora da peça de Rostand. Fatos são Savinien ter acrescentado ao nome “de Bergerac” e estarem os seus despojos corpóreos sitos no Cemitério do Père-Lachaise.

 

Ragueneau, personagem da peça, improvisa:

“Pintor algum jamais desenhará

perfil semelhante ao de Bergerac;

mais bizarro, excessivo, extravagante,

grotesco, caricato e petulante!

Penacho no chapéu, capa e espada,

corajoso não perde uma estocada!

Fingindo um rabo-de-galo insolente

empina-se e enfrenta todos o Valente!

Exímio espadachim, consigo porta

uma crista esquisita, rubra, torta...

Um nariz! Mas que penca gigantesca,

feia, disforme, polichinelesca!

Todos que vêem um narigudo tal

pensam: Ah Meu Deus, que hipérbole nasal!

Não seria melhor tirá-lo? Engano!

Jamais o tira o intrépido Cyrano!”

 

Mário Eloy

 

Aristóteles distinguia o Belo e o seu oposto: o primeiro como um indicador de virtude, o Feio como o mal e o seu sinal. Os conceitos primários de hoje quase cópia daqueles. O Feio domina aparições dum real feito de sombras e de medos. Associado ao cómico e ao obsceno. À dor. À doença. À fome. À guerra. À exclusão. "É considerado feio o rosto dos excluídos, o trabalhador rural, as mãos embrutecidas do operário. É preciso uma estética de libertação a partir dos oprimidos, que são a maioria da população que não se encaixa nos padrões de beleza", li por aí. E negamos o desagradável. Afirmamos, socialmente, não existirem pessoas feias, idiotas ou malvadas. Mas não existindo o pouco inteligente o feio e o malvado, como haver o superdotado, o belo e o bondoso? 

 

Eduardo Batarda - Cena Canalha

 

Beauty is in the eye of the beholder”, lugar-comum que exclui o Feio. Feio, do ponto de vista de alguém, nada mais. Nas vanguardas do século XX, surge o triunfo do Feio também como contrapoder. A fealdade portuguesa pela mão do Almada, do Amadeo de Souza Cardoso, dos expressionistas Mário Eloy, Pomar, Júlio Resende, dos surrealistas Dacosta, Cruzeiro Seixas. Nos percursos de Paula Rego, Bértholo, Eduardo Batarda. Todos dando corpo a uma "bela fealdade" contemporânea.

 

Bernardo Pinto de Almeida escreveu: “O Feio é a irrupção do expressivo. Enquanto houver fealdade, há esperança e utopia.”

 

Nota: quase em simultâneo no SPNI e aqui.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:59
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Quinta-feira, 15 de Novembro de 2012

FOI ONTEM, MAS A TEMPO

 

Não quero, resisto à primeira, mas, quando da arte é o tratado, resigno-me e cedo. O Google, esse tentador, assinala o que deve e não. Ontem foi o ‘bem lembrado’ a acontecer.

 

Amadeo de Souza-Cardoso no Google

 

Imperdoável seria a omissão do aniversário de Amadeo de Souza-Cardoso, nascido em Manhufe em 14 de Novembro de 1887 e que a ‘pneumónica’ levou aos trinta e um anos. Aliás, a zona pertença de Amarante, foi também berço doutros que importam na cultura e sociedade portuguesa, quiçá mundial: Teixeira de Pascoaes, Eça de Queiroz, Carmen Miranda, António Mota, Agustina Bessa-Luís.

 

 

 Na estada em Paris, deambulando por Montparnasse e noutros lugares de perdição para o «guesinho» na, à época, capital das artes, tomou contato com o Impressionismo. Mais tarde, aceitou os acenos expressionistas e cubistas. Largou o caricaturista cuja pele vestia. Pintura, daí em diante, seria estar na vida. Cubismo Analítico, modo de expressão.

 

Amadeo de Souza-Cardoso (Procissão Corpus Christi e Cozinha de Manufe)

 

Em escolas e mostras internacionais, conheceu, entre outros valores pictóricos, Modigliani e Antoni Gaudí. Na mesma altura, arrojou exposições motivadoras de novidade e algum escândalo em Portugal (uma no Porto, outra em Lisboa). Do Expressionismo, partiu para colagens conjugadas com outras experimentações plásticas.

 

Amadeo de Souza-Cardoso (Retrato de Paul Alexander e obra sem título), Almada Ngreiros (Retrato de Amadeo)

 

Amadeo de Souza-Cardoso – o ‘bem lembrado’ d’ontem.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

Fernando Tordo & Stardust Orchestra

publicado por Maria Brojo às 10:16
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Sábado, 5 de Setembro de 2009

MENTIRA INSTRUMENTAL

 

A mentira e a verdade - Almada Negreiros

 

Afirmam que “quem não sabe mentir, não sabe viver.” Dizem aqueles que defendem a verdade como prática de vida, dos mentirosos os maiores. Se especialistas subscrevem, quem é a mulher, que a lealdade defende como percurso, para os desdizer? Distinguem mentira de falsidade – a primeira incluindo premeditação, a falsidade como contrário da verdade. No ponto de vista científico, é salientado o carácter instrumental da mentira. A incapacidade de lidar com a verdade transmitida pelo interlocutor, salvo se beneficia quem a ouve.Triste verdade, parece e é. 

 

A ética está contaminada de valores religiosos. Tantas éticas, quantas as religiões. A mentira piedosa que o catolicismo aceita, fundamenta a percepção da impossibilidade da verdade absoluta no comportamento dos indivíduos. A Bíblia está recheada de efabulações. Mentiras, portanto. O evoluir do hábito de mentir, desde que o homem é homem, prova ser útil à espécie humana e respeitar o darwinismo. Socialmente, a mentira, enquanto instrumento, pode acautelar vidas. O médico mente ao doente quanto à natureza da gravidade extrema da situação clínica.

 

Explicam os «psis» que a mentira aceitável não prejudica terceiros. É controlada pelo próprio. Distinta da compulsiva ou da que leva o indivíduo a acreditar na própria mentira. Estas patológicas. As outras necessárias às sociedades. Graus diversos: por exagero, por falsificação ou subtileza – caso do Bill Clinton quando jurou nunca ter mantido relações sexuais com Mónica Lewinsky.

 

Interpela a mulher os especialistas afirmarem-na mentirosa quando se julga leal. Convicta, porém, no dizer e fazer. Frágil como os outros na fortaleza/fraqueza que a desenha.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

Enviado pelo amigo Justo, tempos atrás. Relembrado pelo Zeka que foi ao You Tube e encontrou.

 

publicado por Maria Brojo às 10:29
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