Andrew Bennett
“Alqueva está a bater recordes mundiais de produtividade por hectare, pelo menos em oito categorias de produtos. Milho, beterraba, tomate, azeitona, melão, uva de mesa, brócolos e luzerna rendem, em certos casos, três vezes mais que no resto do mundo, em termos médios, se forem produzidos em Alqueva.
O Expresso cruzou dados do INE e da FAO (Nações Unidas) com a informação da EDIA, que gere o regadio de Alqueva - e também com testemunhos de alguns produtores - e o resultado é surpreendente: média de 14 toneladas de milho/hectare contra 5,5 toneladas a nível mundial. 100 toneladas de tomate contra 33,6 toneladas para o resto do mundo ou ainda 30 toneladas de uva de mesa em comparação com 9,6 toneladas a nível global.
A fama de Alqueva ultrapassou há muito fronteiras e há já investimentos de oito nacionalidades, desde a África do Sul a Marrocos, passando pela França, Itália e Escócia. Espanha lidera claramente entre os vários países que estão a investir no Alentejo. Atualmente de Alqueva sai cebola para a Mc Donalds ou amendoim para a PepsiCo, para além de uvas sem grainha com destino a várias cadeias de distribuição britânicas e de outros países do norte da Europa. Ainda esta semana, numa feira agrícola em Don Benito, na Extremadura espanhola, a EDIA foi abordada por um banco do país vizinho pedindo informações sobre as disponibilidades de terra na área do regadio, com o objetivo de aconselhar clientes seus a investir no Alqueva.
O que diferencia Alqueva de muitas outras zonas agrícolas na Europa, mas também de outras noutros cantos do planeta são sobretudo três fatores: uma terra praticamente virgem, livre de químicos e de fungos, pois durante muitos anos apenas recebeu cereais de sequeiro; abundância de água para regar quando as plantas mais precisam (ou seja, na primavera e no verão) e, não menos importante, uma exposição solar prolongada, o que acaba por ter um efeito multiplicador na fotossíntese das plantas e, consequentemente, na produção de alimentos mais saborosos.
Mas há ainda uma grande vantagem comparativa. É que, mesmo em relação a outras zonas do país, Alqueva permite ter produtos nos mercados abastecedores duas a três semanas antes de toda a concorrência. E se a comparação for feita com outros países europeus a vantagem aumenta à medida que se caminha para norte. De Espanha para cima, muitos dos produtos são obtidos em estufas, com climatização artificial, ou seja, com custos energéticos acrescidos considerados avultadíssimos, o que acaba por se refletir no preço final ao consumidor.”
CAFÉ DA MANHÃ
Jim Warren e autor que não foi possível identificar
Petróleo Verde. Alentejano. Na Área de Regadio do Alqueva já cresce milho, cultura impensável no antes reserva hídrica. Destinado à produção de bioetanol, contribuirá, enquanto biocombustível, para cumprir directivas comunitárias. “ Portugal terá de incorporar como aditivo na gasolina e no gasóleo utilizados nos transportes públicos 5,75 por cento de biocombustíveis (bioetanol ou biodiesel). No caso do bioetanol, a opção pelo milho como matéria-prima principal para a produção de 100 milhões de litros/ano deste combustível vai obrigar à produção de 250 mil toneladas por ano deste cereal.” No total, 15 mil hectares de plantações de milho na área de influência da grande barragem do Sul.
O potencial energético não se esgota no milho: cereais de sequeiro, beterraba, desperdícios florestais. Fossem limpas as manchas de floresta quer pelo Estado, quer pelos particulares, menor seria o pasto que as chamas devoram, diminuído o número de vítimas mortais, maior rendimento nacional e quantidade de combustíveis amigos do ambiente.
Na agricultura alentejana, a revolução vai além – melão branco e verde, meloas. Até mirtilos que regozijam urologistas na peleja contra infecções urinárias! A boa rede viária escoa, rapidamente, os produtos até à mesa do consumidor. Em 2013, dúzia de anos mais cedo que o pensado, fica completa toda a obra. Somente os lanços de Vidigueira e Pisão, Baixo Alentejo ocupam onze mil hectares. Quem predisse a inutilidade do Alqueva emudeça de vez.
CAFÉ DA MANHÃ
Henry Lee Battle
Quando a Terra geme e suspira, acomoda zonas íntimas pressionada por forças. De tensas, afastam placas, qual capa de tartaruga invisível. Colidem ou sofrem torsões. As rochas, que rejeitam elevada condição elástica, eliminam a energia potencial em excesso. Libertam-na como fisga esticada ao máximo que retoma forma comum. E vão ondas por aqui ou ali. Regiões que as apanhem contam sustos e danos. Gentes soçobram. Patrimónios destruídos. Vidas sem eira ou beira que as recolha pela elevada intensidade do arrumo. Catástrofe natural como outras que, igualmente, apagam o construído em anos por mãos laboriosas de quem fenece com a obra.
No drama, que a esperança se aninhe após o luto. Que não sejam também destrutivos espíritos sobreviventes como os nossos assentes numa plataforma mantida em relativo sossego. Mesmo sem tragédias de monta abrangendo milhares de portugueses, resistimos a acreditar no bom advir. A albufeira do Alqueva é exemplo. Muitos tomados por sábios, mas ‘velhos postados no Restelo’ garantiram que jamais a capacidade máxima seria atingida. Foi. É o maior lago artificial da Europa. Cumprido o primeiro objectivo do projecto Alqueva: “reserva estratégica de água, com capacidade para fazer face a três anos consecutivos de seca, com garantia de disponibilidade para abastecimento público, agricultura e produção de energia".
Parecemos grilo comum que, sem polinizar, engole flores. Verdade aberta à excepção de uma variedade da família “Glomeremus”: não tem asas, mede entre dois a três centímetros e possui antenas largas. Trata carinhosamente orquídea onde poise – transporta o pólen e ajuda-a a procriar. Assim fossem benévolos os ajustes terrestres!
CAFÉ DA MANHÃ
“Haiti”
“Quando você for convidado pra subir no adro da
Fundação Casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos
E outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se olhos do mundo inteiro possam
estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque, um batuque com a pureza de
meninos uniformizados
De escola secundária em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada
Nem o traço do sobrado, nem a lente do Fantástico
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém
Ninguém é cidadão
Se você for ver a festa do Pelô
E se você não for
Pense no Haiti
Reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
E na TV se você vir um deputado em pânico
Mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo
Qualquer qualquer
Plano de educação
Que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
do ensino de primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua
sobre um saco brilhante de lixo do Leblon
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo diante da chacina
111 presos indefesos
Mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos
Ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres
E todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti
Reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui”
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros