Amelies Welt
Acresce penas ao viver quem, descontando propósitos satíricos, não aprendeu a mentir. Com desenvoltura. Como segunda natureza do visível. Porfiadamente. Debitando asserções que sabe falsas e não hesita em difundir consciente do dolo que pode causar. Além desta Mentira de dicionário, outras há: as mentiras que muitos chamam verdades seletivas. A omissão, por exemplo. Menos grave – afirmam os manuais - do que a verdade maldosa, intencionalmente escancarada como arma de tortura ou burla. “Com a verdade me enganas” é ditado que a ética tem por sábio.
Na encruzilhada da mentira e da verdade, são tecidos enredos que capturam os puros – ainda os há! Excluídas as mentiras sociais como urgências compassivas, raras por definição e distintas da insuportável hipocrisia, há divisões na Mentira: a que atrás de si arrasta culpa e firme intento de evitar repetição, e a derramada pela boca como se fora água corrente deixando enxuto o lugar donde saiu. São os mentirosos compulsivos e os habitués pimpões que dela fazem lixívia para vícios privados. Penduram na corda pública vidas imaculadas.
CAFÉ DA MANHÃ
Amelies Welt
Não fosse ter sido aluna do Infanta D. Maria em Coimbra talvez o título da notícia que remetia para a escola secundária tivesse sido lateral à atenção. Li atenta, habituada ao que tudo vem dali ser relativo a ensino exemplar e posição cimeira nos rankings de sucesso nacionais. Mas não - duas professoras de Biologia suicidaram-se em menos três semanas. Corpo docente e discente, assistentes operacionais optaram por minuto de silêncio.
Sabido é que o exercício de professorado desmente expectativas de trabalho adequadas à função. Os desmandos impostos sob forma de lei que, despudorados, desmentem o outrora garantido, as condições para o labor, o desinteresse dos alunos sem relação com o desempenho do professor, a tonelagem de carga burocrática, propiciam a insatisfação docente. Sem adivinhar razões para atitudes tão extremas, um todo é motivo. Todavia, interessaria esmiuçar causas que, profilacticamente, tragédias semelhantes prevenissem.
Lembro, galhofeira, a época da Maria dos Craveiros - a espiã-mor ao serviço da reitora. Solteirona rígida no pensar, rígida no estar e sabem os deuses onde mais, vigiava comportamentos e audácias que nos aproximassem da cerca onde passavam alunos do liceu masculino. Duzentos metros, era a distância imposta. Chegado o tempo cálido, ou usávamos soquetes, ou beliscava as pernas das alunas para estar segura do cumprimento das regras que mandavam usar meias. De vidro, era dito, ou collants transparentes. Nos corredores do Infanta, a esquerda era para quem vinha dos ginásios, a direita para quem ia. Mulherio adulto e juvenil por todo o lado – ilha na sociedade. Os pais sossegavam por saberem as meninas entregues a boas práticas no ensino e melhores(?) costumes. Quem fora não tivesse envolvimento saudável, saía do Dona Maria para a faculdade como idiota de truz. Aconteceu comigo.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros