Quarta-feira, 2 de Abril de 2014

PORQUE A LIBERDA É MALUCA

 

  

Andrew Valko

 

Ficciono, vivo, (re)conto e escondo. De tudo, muito. Como hoje aqui.

 

No chão, pegadas de cetins e rendas. Almofadas selvagens espalhadas no atirar do que está a mais. Enrodilhadas cobertas e mantas coloridas, parte/mancha da decoração. Chinelas de salto médio, pedrarias incrustadas, espaçadas no corredor. Despojos e testemunhas. Viram e silenciaram. Mas lembram. Insistem. Repetem a gula daquele e doutros momentos vívidos vividos. Porque a “liberdade é maluca e sabe quanto vale um beijo”. Muitos beijos em que, insolente, declarou presença.

 

Entre eles, o sempre. Dela, o “nunca mais” ocasional desmentido pela glória partilhada em espaços repetidos. Diferentes. Anos correm, e les vieux amants tão juvenis como no primeiro andamento. Recordam “Le Mépris” de Godard e a tragédia em Capri. Trauteiam a banda sonora de “Un Homme et une Femme” assinado por Lelouch. Nas teclas, o livro dele.

 

Há harmonia que é música ou peça de vida/teatro/filme em construção. Ele conhece os lugares do corpo e da casa. Ainda aberta na cama, ronrona enquanto ele tira o primeiro café da manhã. E multiplicam histórico, afagos, sentires e discordâncias. E riem do leviano débil que cola em vez de dividir. Conhecem o sabor das chegadas e do adeus sem ruturas ou lágrimas. Felizes ‘o cheguei e parti’. No a dois/presença, também.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 09:04
link | Veneno ou Açúcar? | ver comentários (1) | favorito
Sábado, 6 de Agosto de 2011

À BEIRA DOS NOVECENTOS

 

Andrew Valko

 

Sol a rodos, após manhã sombria – do recorte da serra nem vislumbre pelas nuvens cinza que dela escorriam. É comum nestas bandas – muitos transpiram no Sul, outros sorriem pela frescura que, mesmo em noite de cantoria de grilos, pede manta de lã pura em cima dos joelhos se a leitura ou um filme ou amena converseta estimulam o serão. Portadas sempre abertas, que estes breus estrelados requerem panorama inteiro e aconchego quente nos sofás. À mesma, alças e algodões finos (des)cobrem a pele ávida de ar leve pela pressão diminuída que os quase novecentos metros de altitude justificam.

 

Pelo acordar, aberta a porta do terraço superior, no cadeirão em frente da montanha continua a preguiça 'do olho aberto, outro não'. Remata o inspirar da brisa matutina, o copo de leite gelado, a xícara de ‘café das velhas’ tomado com vagar. Não há pressas, urgências não atordoam, a família dorme marcando ainda os ponteiros as sete. A doce música do silêncio embala o começo de mais um dia serrano denunciado pela luz coada.

 

Pelas doze horas, o Sol já nele faz naufragar o horizonte longínquo que, enganoso, parece mesmo ali ao alcance de caminhada breve. Mas não – a experiência andarilha diz que em menos de quatro voltas do ponteiro maior do relógio não é chegado o cimo. Seja como for, e por do longe o perto a gente fazer, é prá amanhã acertado madrugar, mochila às costas, calçado montanheiro e guarda-vento protector do frio que o Sol nascido não logrou tempo para o amenizar.

 

À tarde, é tempo do nada ou de biquíni mínimo sobre o corpo alongado na espreguiçadeira – entre a latada e o pessegueiro ajoujado de frutos em seu crescer, «bucho» aparado à beira, a pele, dengosa, recebe “UVs” amigos e deixa-os penetrar. Livro na mão, câmara a jeito, gozo infinito, é, depois, chegada a hora do duche, dos afagos com creme hidratante, duma sopa e pouco mais. A esperança num amanhã idêntico, mais a certeza de sono fundo pela não parança diária, induzem passagem para benfazeja outra margem.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:29
link | Veneno ou Açúcar? | ver comentários (6) | favorito
Sábado, 2 de Julho de 2011

NEM TODOS OS BEIJOS SÃO

 

~

Andrew Valko

 

Nem todos os beijos são. Alguns, despacho despachando acto. Outros, violino nas telhas ‘antes de’, nas vezes, prova de falta deles e só por isso trocados. Mais existem: aqueles que afloram pele como fatia do chão empedrado na Castilho pelo lilás caído dos jacarandás e fazem tapete que abafam passos andados; escassos os que desafiam corpos a partir dos lábios; raros os que provam mais do que lascívia e (pres)sentem amores medidos pelo invisível. Sem hierarquização porque ausente tabela que cronometre segundos e razões. Veros, todos. Acontecidos. Exclusivos no instante onde foram e das bocas decididas ao fragmento exibido de afecto fundo ou do ‘porque sim’. Dissecar motivos dos beijos mais ocioso do que encontrar agulha em relva densa. E se foi escrito o escrito, devo-o ao António que, a propósito do “Por isso belas”, publicou mais e melhor:

 

“é!
há por aí beijos despudorados!! aparecem em todo o lugar, estão, vão, são!!! e uma luz indicia que de olhos fechados se vê, um rumor explicita que o silêncio diz e uma humidade desponta onde oceanos apaziguam rios... sirva-se à temperatura e tempere-se a pressão, volvem pétalas onde se sente a mão, onde o perfume lembra a incondição, onde a memória se faz lábio, a vivência é boca e o desejo sufoca a sofreguidão
galáxias em forma de coração e alvíssaras a explicação, a um canto a obsessão, a vida tem o condão de prover a imensidão, a intensidade e a verdadeira alegria, em despudorados beijos de ocasião, de catálogo, de recordação, os que trazemos perdidos à espera de uma canção, os que oferecemos à noite e ao alvor já lá não estão, os suspirados sem grito nem sopro ou respiração, os que nos dão de mansinho em mimos de arribação, os que perduram no corpo, nos poros e entranhas e em toda a ilusão, os que demoram a haver e juram não se perder, os que sofremos por querer e os que gozámos sem ter, os outros, os todos, os mais, os que nunca foram ais, os melhores que estão p'ra vir, os que não param de fugir, os que bebemos de um trago num postal por emitir, os que sabemos de cor por tanto não existir, os que demos de mãos dadas e os que roubámos no escuro, os que sabemos tão pouco até não nos afligir, os que inventamos de pronto para não chorar a rir, os que mordemos em panos, escondidos e envergonhados, os que um dia descobrimos se portanto apaixonados, os que p'ra sempre exaltamos quando neles nos casámos, os que se beijo, logo existo, os que dá-mos já que não resisto, os que depois bem verás, os que etecetera e tal, os que nunca saberás e os que descem as paredes, árvores, chaminés e nos recobrem de amor do toutiço até aos pés, os de choquinhos com tinta que denunciam a avó, os do gato shiu à pála da corda ao relógio, os que saíram do armário e que ainda lá ficaram, os à cinéfilo da primeira à última fila e à casinha do projector e mais uns quantos pelo corredor, outros tantos em redor e mais alguns dos sem pudor, os ... e mais quais' ah... os mais, os a mais e os tais, sim, despudorados, sim, sejam “

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 09:22
link | Veneno ou Açúcar? | favorito
Domingo, 7 de Fevereiro de 2010

MÁRIO CRESPO/(DES)COURAÇADO POTEMKIN

 

Andrew Valko
 

Evitei o tema pelo enjoo e nojo que me consumia a objectividade. Breve referência consta no “Mistérios da Praça de Espanha” (4 de Fevereiro). Num comentário, o António, de novo, reflectiu e escreveu soberbamente. Mais não é acrescentado pelo autor que tudo diz com genial ironia «antoniana» (queirosiana, afirmo).

 

“Vamos então ao episódio do Mário Crespo, moderadamente: - com o tempo decorrido e declarações produzidas, digamos que a comoção já passou [e mesmo as virgens ofendidas que o afirmam grande profissional não deixaram caso; [ou seja, o episódio já passou e nem um rato pariu... - é evidente que a história, além de não comprovada (mas quem de boa fé esperaria tal de Mário Crespo?) está muito mal contada: - ao bife, Sócrates palitava ruidosamente os dentes; - e saíam-lhe perdigotos que mais pareciam mísseis contra esse potentado (um novo couraçado Potenkin, este Mário Crespo, também acham?) do jornalismo nacional; [que, além de escritor de excelentes crónicas da banha da cobra sem recurso a um único facto comprovado; [responde pelos entrevistados e termina entrevistas a dizer... o que acha! - vai daí, as "fontes fidedignas" falharam rotundamente a caracterização Primeiral [Sócrates, não o grego, mas o beirão, haveria de tirar um vernáculo que chegaria por certo ao Tribunal de Aveiro, ao Supremo e mesmo ao Constitucional; [aliás, menos que isso nem deveria ser aceite como output de um lauto almoço de amigalhaços da pandilha do Governo; - há também a coincidência de um livro no prelo com as belas crónicas que já toda a gente leu e releu e releu que infelizmente não param de circular pelo correio electrónico das correntes acríticas e dos reenvios acéfalos [ah... esquecia-me do Mário Crespo a tentar misturar-se com o JMFernandes, ex-director do Público, assunto que nada tem a ver a não ser também uma obsessão pela participação activa em iniciativas do PSD, [ou com a (Mário Crespo dixit: boa noite, eu também quero ser a) Manuela Moura Guedes, ex-deputada do CDS, que tem razões para mover guerras sem quartel e sem pudor contra José Sócrates e não se comove por não fazer nada que se pareça com jornalismo... bem, digamos que já dei qualquer coisinha para este peditório, mas compreende-se o desprezo a que tem sido votado o sujeito...”

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

publicado por Maria Brojo às 09:29
link | Veneno ou Açúcar? | ver comentários (8) | favorito

últ. comentários

Olá. Posso falar consigo sobre a sua tia Irmã Mar...
Olá Tudo bem?Faço votos JS
Vim aqui só pra comentar que o cara da imagem pare...
Olá Teresa: Fico contente com a tua correção "frei...
jotaeme desculpa a correcção, mas o rei freirático...
Lembrai os filhos do FUHRER, QUE NASCIAM NOS COLEG...
Esta narrativa, de contornos reais ou ficionais, t...
Olá!Como vai?Já passaram uns meses... sem saber de...
continuo a espera de voltar a ler-te
decidi ontem voltar a ser blogger, decidi voltar a...

Julho 2015

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31

pesquisa

links

arquivos

tags

todas as tags

subscrever feeds