Alex Colville – Horse and train
Sou desprovida do minímo de jeito para reproduzir anedotas. Mas gosto e rio com vontade quando as ouço bem contadas. Algumas registo para mais tarde lembrar. E nesta silly season, apetecem como recompensa das muitas tragédias: o descarrilamento do comboio espanhol que matou 77 ocupantes e fez centena e meia de feridos é exemplo último. Que os vivos façam do riso alívio das mágoas que afligem.
Baseado numa obra de Goethe
"Angela Merkel decidiu descansar 2 dois, com o marido, num hotel rural, em França, próximo da fronteira alemã, onde na fronteira se registou o seguinte diálogo do guarda fronteiriço com a chanceler:
_ Nacionalidade?
_ Alemã.
_ Ocupação?
_ Não. Venho só passar o fim-de-semana."
Autor que não foi possível identificar
"Dois GNR na berma de uma estrada no distrito de Beja veem passar um carro a mais de 160 km/h.
Diz um para o outro:
_ Aquele não é o gajo a quem apreendemos a carta a semana passada por excesso de velocidade?
_ Era pois, respondeu o segundo. Vamos caçá-lo!
Quilómetros adiante, já com o carro parado, um dos GNR chega-se ao pé dele e pergunta-lhe :
_ A sua carta de condução?
_ Mau!, responde o alentejano. Perderam-na?!"
Georges Chicotot
"_ Carmen, estás doente?... Pergunto-te isto porque hoje de manhã vi um médico sair da tua casa.
_ Olha, minha amiga, ontem de manhã vi um militar sair da tua casa e não é por isso que estás em guerra, pois não?"
Emily Zasada – Beer
"Uma jovem rebelde e muito liberal entra num bar, completamente nua. Pára em frente do barman e diz:
_ Dê-me uma cerveja bem gelada!
O barman fica a olhar para ela sem se mexer.
_ O que se passa?, diz ela. Nunca viu uma mulher nua?
_ Muitas vezes!
_ E então, está a olhar para onde?
_ Quero ver de onde é que vai tirar o dinheiro para pagar a cerveja!"
CAFÉ DA MANHÃ
Na voz de Joaquin Sabina, homenagem às vítimas da tragédia em Santiago de Compostela.
As palavras denunciam absurdos da vida.
Breve a fuga. Sempre curto demais encontro silencioso com o espírito. Também por isso aproveitado cada instante. Fruição. Até na espera do ferry e das sardinhas em Setúbal.
Casal de alemães rondando sessenta e pós sai da caravana luzidia. Elegantes, bronzeados, cedem ao vício dum cigarro com Arrábida em fundo. Gozando da brisa fresca, dos meus cabelos por ela levantados, do sol entre nuvens no seu brincar com sombras e repentes de luz gloriosa, sentia com gosto o temperamento da meteorologia. A mulher aproximou-se e foi o inglês posto ao serviço do diálogo. Comentaria: _ “É rica?”. Perante a minha perplexidade, acrescentou: _ “Esta zona é muito cara. Quem ali circula distingue-se dos algarvios e alentejanos.” Expliquei o critério que preside no ‘Troia Resort’ – pelo custo dos catamarãs, injustamente arredada a população de Setúbal da praia histórica na infância de muitos. Pelos custos elitistas, o português hesita ou é impedido pelos salários e empregos parcos. Seleção obediente a cimeiros interesses económicos tendo em vista lucros crescentes. O homem comparou: _ “ Fosse em Espanha e a costa estaria pejada de hotéis impressivos.” Que não, que em Portugal eram (mal) protegidas reservas naturais. Dei exemplos. Quase batiam palmas.
O casal viera desde a harmoniosa Colónia, percorrera Sul de França e de Espanha, permaneceu no Algarve, os dias últimos em Lagos. Espreitaria a Costa Alentejana e Évora. Do Algarve, em particular de Lagos, opinião do pior. No entanto, estabeleciam diferença profunda com a Grécia onde peregrinaram no ano anterior. Lixo, gentes tristes, pobreza a esmo. Em Portugal, tudo é distinto e garantia o casal confiar na ressurreição económica do país. Inquiridos como viam os alemães Angela Merkel, resposta entusiasta de manifestos apoiantes. Europa forte, defendem.
A estranheza maior relatada foi a quantidade de autoestradas cortando país tão pequeno. Teriam vindo da Europa os euros? _ Que sim, que haviam sido mal aproveitados ao privilegiarem comunicações viárias em vez da educação como faria qualquer novo-rico. Avistado o ferry, despedida. Mágoa pelo diálogo interrompido.
CAFÉ DA MANHÃ
Som da fuga
Autor que não foi possível identificar, Graham-McKean, Scott Jacobs
Duas histórias, dois restaurantes de Lisboa. Num japonês, amiga jantava com a família; num sem raça gastronómica, colega jantava com amigos. Ambos com televisões excepcionalmente ligadas na espera do veredicto pela voz de Sócrates. Silêncio de sepulcro chegado ao ecrã o P.M.. Ouvida a declaração ‘The game is over!’, diferentes reacções: no nipónico, desde os clientes aos funcionários com origem na terra onde, pelo nome, dizem o sol nascer, de todos, aplauso vibrante. Depois, risos e festa, copos a mais. No restaurante sem graça nem raça, brindes repetidos. O colega mais companheiros levantam taça de vinho barato e imperiais, declarando à vez:
_ Este é pelo subsídio de férias que já foi! Alguém me empresta dinheiro para o seguro da carripana?
Em coro, resposta: _ «Tás» maluco ou parou-te a digestão?
Continuaram:
_ Este pela entrega ao banco da casa onde vivo!
_ Mais um pela ponte que por baixo me irá alojar!
_ Brindo ao subsídio de Natal em Certificados de Aforro como no governo do Cavaco. «Porra»! Onde terei metido o papel para levantar aqueles tostões? E se têm prazo de validade? Estou «fodido».
_ Outro porque este será o último jantar fora de casa em tempos próximos!
_ Ergo a minha caneca à comédia burlesca em que se transformou a política nacional - faz chorar em vez de rir. Somos uns «bacanos» criativos!
_ E vai o último pelo aumento de impostos que me irá elevar ao grau de teso maior entre os tesos. Nalguma coisa seja primeiro!
Acabaram a celebração com sais de frutos e Guronsan, que as ressacas não perdoam misturas e má escolha do tinto.
Ao acordarem, diferentes reacções dos protagonistas celebrantes perante as declarações de Angela Merkel: _ "As novas medidas tomadas pelo Governo português para reduzir o défice orçamental foram de longo alcance e apoiadas pelo Banco Central Europeu e pela União Europeia. (…) Sócrates esteve correcto e foi corajoso em levar as novas medidas de austeridade ao Parlamento português para votação.” Os do japonês dizem que a mulher nunca soube metade da missa, os do restaurante sem raça juram o ‘tarde piaste!’
Apêndice (des)infectado: hoje, ouvi «cenarizações», derivado de cenarizar que os meus dicionários não reconhecem, e «franchizador». O que aprendo diariamente, deuses! Haja neurónios para tantas aquisições.
CAFÉ DA MANHÃ
Antonella Cinelli
Em certos povos, a história pesa como besta monstruosa. Confirmam-no os alemães que, por obediência ou rejeição do nacional-socialismo, orientam as atitudes. A evidência tem por base dois decotes generosos e um negro.
Vera Lengsfeld, candidata da União Democrata-Cristã (CDU) às próximas legislativas alemãs, surge ao lado de Angela Merkel nos cartazes de propaganda eleitoral. O «nada» da polémica está no «vê» revelador de seios imponentes que ambas exibem. Acrescida a frase "Nós temos mais para oferecer", os conservadores puritanos e hipócritas rebelaram-se. Uns tristes! Fosse o nosso país rural a receber idêntica propaganda, e arriscaria jura sobre a complacência bem-humorada dos eleitores. Podia ser brejeira, nas risonha. E não se inventem desculpas sobra a acutilante consciência alemã dos direitos femininos. Está omissa.
Nascido em Angola, Zeca Schall vive há 20 anos na Alemanha. Também candidato pela CDU às eleições regionais alemãs no estado de Turíngia, tem gerado escândalo aceso nos partidos da extrema-direita. O Partido Nacional Democrático foi longe: aconselhou Zeca Schall a regressar a Angola. A ameaça obrigou à protecção policial do candidato e cidadão alemão. Redime o extremismo a onda de solidariedade e carinho de amigos, vizinhos e colegas.
Apre, que alguns alemães tiram-me do sério! Logo eu que estava rendida ao modo afável que me recebeu.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros