Anne Bascove
Sobre violência doméstica, escreveram mulheres. Quero-as em honrado lugar nesta chaminé virtual.
“(…) Assunto que nenhuma mulher pode ficar indiferente.
Mas sim, começa muito mais cedo, começa com o primeiro estalo, com a primeira sova e infelizmente não tem a ver com a educação que se recebeu.
A violência doméstica, e estou a falar da do macho, é transversal a toda a sociedade portuguesa, desde a melhor educação à pior, desde o meio económico mais alto, até ao mais baixo.
A violência doméstica é uma questão de carácter, não de educação, por isso existir em todos os meios sociais e económicos.
Só lhe posso garantir que sei do que estou a falar.
Quanto mais alto o meio, mais calada é a vítima.
Vir falar da violência doméstica no feminino, que também há, como argumento, é profundamente demagógico.
Sair desta teia de violência e de pedidos de "perdão" é extraordinariamente difícil, porque a maior parte das vítimas, sofrem do "síndrome de vítima".
(...)
A educação não altera o caráter de nenhuma criança. Há bom ou mau caráter e a educação, estou a falar da considerada "a melhor educação" não muda o caráter, dá-lhe um verniz que estala na intimidade, às vezes noutros locais, também.
Nos "mais educados" ou de nível económico mais alto, normalmente esse mau caráter só aparece na intimidade, porque "o social" tem ainda um grande poder dissuasor.
As vítimas, são vítimas, e não há nada, mas nada, que elas possam fazer que justifique a cobardice de um homem bater numa mulher, quanto mais matar.
Vá ver o que é "síndrome da vítima", para tentar perceber.
O que há a fazer, é ao primeiro estalo metê-los na cadeia, porque felizmente já é crime bater numa mulher.
Esqueci-me de dizer que violência doméstica sempre existiu, só que de há uns anos, poucos, para cá é crime, por isso aparecer nos media.”
Ika
“(…)Também eu, infelizmente, sei o que é Amar-se (e como amei, talvez, Ame para sempre, não por ser masoquista, mas porque sempre será o Grande Amor da minha vida, aquele em cujas mãos depositei uma confiança cega, aquele que fez brotar vida em mim), alguém cujo prazer máximo é a humilhação do cônjuge, que ofende, que maltrata, até chegar a vias de facto, que nem nos confere dignidade suficiente para nos podermos indignar perante comportamentos ínfimos, desprezíveis, tantas vezes calculados por mentes verdadeiramente fracas e inseguras, cuja conceção de amor passa pela anulação do outro, pela submissão.
A estratégia de inversão das situações é a arma manipulatória de excelência.
A educação é como uma escultora (passo a intertextualidade com Yourcenar) de uma matéria cuja essência não muda, apenas se vê lapidada. E, depois, com a ascensão social verificada via estudos académicos, há quem tenha títulos pomposos e berços de fraca índole, não por serem humildes, pois há tanta gente humilde educada, mas pelo complexo de inferioridade facilmente expresso na arrogância, na vontade de humilhar e de pisar.
Hoje, depois de tudo, creio também tratar-se de casos de profundos desequilíbrios psíquicos e até psiquiátricos...O saco de pancada escolhido é uma pessoa especial para esta gente - é a única perante a qual despem a capa de cavalheiros e assumem a de carrascos.
Mas, claro que também há mulheres agressoras, vis, vingativas, criaturas cuja frustração e má formação as leva ao mesmo comportamento.
Enfim... A minha solidariedade para com qualquer vítima seja ela uma criança, uma mulher ou um homem. E o meu total desprezo perante uma sociedade de cobardes hipócritas que fingem não ouvir os gritos e se mostram surpreendidos com algo que sempre souberam. Não raro é vê-los porem-se do lado do agressor, principalmente, se os seus bolsos estiverem bem recheados. Neste país onde a hipocrisia mancha as faces, a história continua a ser contada pelos vencedores (pensam eles, coitados quando, de facto, são os vencidos da vida, principalmente, quando o que lhes resta de consciência os corrói, mesmo que ao mundo jurem inocência caucionada pelo carro último modelo e fato de bom corte.”
Ana S.
“Estereótipos que implodem no vislumbre profundo da complexidade da vida que, lamenta-se, não encaixa nas nossas verdades ‘ready made’(...)”
CAFÉ DA MANHÃ
Anne Bascove, Norman Rockwel
Se telefonema ou e-mail, supostos actos médicos, dirigido a um médico do Serviço Nacional da Saúde custa, agora, ao utente 3 euros – a suprema hierarquia acaba de desmentir, embora os factos provem o contrário - se as taxas moderadoras, a coberto de descongestionamento dos serviços hospitalares, passam a escandalosas por tanto pagar rico como pobre como soíam maus costumes, se a contenção dos gastos com Centros de Saúde obriga a fechar muitos das oito da noite em diante, se a Universidade Técnica de Lisboa baseada num questionário a dois mil e alguns dos seus licenciados, garante que no final do ano seguinte ao diploma 95% têm emprego embora com salários oscilando entre setecentos e mil e quinhentos euros após cinco anos de sacrifício no investimento das respectivas famílias cobrados sem piedade ou dó, se as desigualdades agravam injustiças sociais a cada dia passado, se bem fez a Jerónimo Martins ao procurar o fisco mais favorável na Holanda, se cada um de nós é espezinhado pelo «sistema» no quotidiano, se os Presidentes de Câmara e de Junta de Freguesia vêm limitados os mandatos enquanto na Assembleia da República somam e seguem até à choruda reforma pelos serviços prestados - presumidos bons, na verdade, genericamente medíocres -, se o trabalhador é humilhado pela negação de direitos elementares, se e se e se mais poderiam ser apontados, uma de duas: ou a nossa obediente atitude é devida a genes que a tradição inscreveu nos genes lusitanos, ou contra maluqueiras encolher ombros é sensato. Já no início dos setenta, Raul Solando desmentia.
CAFÉ DA MANHÃ
Para recordar e aliviar
Anne Bascove
Recebi, muito agradeço, texto anotado: “_ É breve, simples e bem escrito, deixando o assunto descrito, comentado e criticado.” Concordo; daí a publicação.
“Sexta-Feira passada fui a Viana do Castelo e utilizei a A28 do Porto a Viana. Pelo caminho atravessei uns quantos pontos anunciados como portagem electrónica/electronic toll e umas luzes laranja intermitentes anunciavam que eu estava a ser devidamente registado como utilizador pagador. Sem saber bem como aquilo funcionava, continuei o meu caminho, accionando as tais luzes à medida que prosseguia a viagem.
À chegada à cidade perguntei a um amigo com quem almocei como é que aquilo funcionava, qual seria o procedimento, se a via verde era o suficiente, se era necessário fazer um pagamento diferenciado, confessei a minha ignorância. O meu amigo perguntou-me se eu me estava a referir aos «caganissos»... à minha pergunta «cagaquê»? Ele repetiu: «Caganissos, aquelas luzes que piscam à nossa passagem». Acontece que nesta parte do diálogo entrou uma terceira personagem e a conversa ficou por ali. Uns minutos mais tarde e porque se proporcionou, voltei à carga e tentei perceber o funcionamento das tais portagens electrónicas. A personagem recém-chegada perguntou: «Estão a falar dos caganissos?» Aí não resisti e perguntei que diabo de nome era aquele. Ao que ambos me responderam, com a maior naturalidade que «são os caganissos, ou seja, caga nisso, não te chateies que ninguém liga e eles estão entupidos com milhares de cobranças a enviar para os endereços dos donos das viaturas pelo que o melhor era mesmo cagar naquilo».
Percebi duas coisas. A facilidade com que pomos o nosso reconhecido humor ao serviço do nosso reconhecido défice de cidadania e a competência dos nossos responsáveis em adoptarem caminhos e procedimentos conducentes a essa mesma falta de cidadania. Sistemas complexos, confusos, luzinhas que piscam, falta de informação conveniente, pagamento a posteriore em pay shop, maquinetas que podem ser compradas nos correios, carregamentos com quantias mínimas quase sempre superiores à despesa da viagem de um dia e consequente notificação para a residência na falta de pagamento ao quinto dia após a viagem. Percebi ainda, ou tentei perceber, como é que um galego que lhe apetece ir ao Porto via Viana vai a um pay shop pagar uma dívida de cerca de €9, aos correios comprar uma maquineta ou como é que ele é notificado na falta de pagamento ao quinto dia.
Percebi, assim, com propriedade, a razão dos «caganissos» se chamarem «caganissos». Porque realmente parece que toda a gente se caga naquilo.”
in
http://copiaperfeita.blogs.sapo.pt/1673310.html
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
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