Terça-feira, 5 de Março de 2013

AMOR EM TERRA QUEIMADA

Antonella Cinelli - Segreti

 

Queria-o para sempre e não lhe dizia. Fora em Madrid, Picasso e Modgliani como patronos, que acendera a paixão. Ao telefone, ele no Porto, ela caminhando, cega, pelos danos da lonjura na cidade um dia renegada agora fermento de pão novo, nunca ázimo, descobria. E palmilhava quilómetros de frio, a pele e a vulva e a fisga do desejo esticada ao limite da mulher. Ele ficara, ela fora. Que não podia, que tinha ensaios e concertos em agenda. Talvez no granito, talvez viajante em pedras distantes. Mas era a fala que lhe trazia a rédea. Gostava. O sentimento de pertença definido por mais um vértice na geometria onde era.

 

No início, assombrara-a o elo intenso e contado e remetido a idos próximos. Ninguém faz o luto de um amor tão depressa, disse. Ele negara. Dela, abespinhara-o a oferta de ombro amigo. _ “Os amigos não fazem ninguém feliz. Só o amor na terra queimada e onde é majestade me interessa. O resto é deserto sem incluir oásis de breves deleites.”

 

Quisera-o, apesar da intransigência. (...)

 

Nota: publicado aqui.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 09:46
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Quinta-feira, 30 de Setembro de 2010

CASADOS HÁ UM ANO E PÓS DE OUTRO

Antonella Cinelli, Liza Hirst

 

Ela tem vinte e nove, ele, trinta. Estão casados há um ano e pós de outro. Sem filhos. Ignoro antecedentes do par constituído, a posteriori, oficialmente – se houve o possível conhecimento mútuo, convivência íntima regular como a idade dos intervenientes indicia, se esporádica e superficial, portanto, insuficiente, se ela valoriza a passividade ou é crente no ‘ele muda’.

 

O caso tem quê de raro como queixa feminina motivadora de divórcio. Ela afirma-se incapaz de copular satisfatoriamente com o marido pela necessidade sistemática dele utilizar dose massiva e costumada de vernáculo inabitual durando o acto. No quotidiano, polido e terno. Na cama, transfigurado em papagaio. Quem lhe partilha o sexo, duma vez, vê todas. A continuidade é prova. E ela rejeita. Mal começa o débito, perde o estímulo. O acto sexual de potencialmente gratificante passa a fita gasta. Fosse ele mais contido no verbo, e tudo iria bem, afirma.

 

Não constando a obsessão contada das parafilias conhecidas, junto-a a outra também sem designação constante dos desvios sexuais – para acto satisfatório, engendrar, verbalizar, forçar anuência a fantasias de ménages a trois ou a muitos.

 

Voltando ao reconto vero. Perante a queixa e atitude desvalida, a pergunta foi óbvia: _ Porque não conversas com ele? Manifestas o teu desagrado, ouves, argumentas, colocas dúvidas não sendo clara a razão da persistência. Resposta: _ Não sou capaz. Jamais poderia ter a iniciativa de um diálogo sobre isto. Não consigo; apenas a ideia me viola.

 

A perplexidade da interlocutora é visível quando ela diz doer-lhe acabar o casamento por razão esta. Insiste: _ Já pensaste como a tua atitude é passiva? Que um casamento constrói-se fincado no diálogo tranquilo? Que numa relação afectuosa não há limites para a sexualidade, salvo estando em causa o desgosto do outro? Tens um desgosto. Conta-lho.

 

Sendo o (des)caso de hoje e não de quarenta anos recuados, como entender a incapacidade de comunicação? Reservas que Freud explicou ou tentou ou devia? Subterfúgio para razões outras e decisivas?

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

Cortesia de Veneno C.

 

publicado por Maria Brojo às 09:41
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Segunda-feira, 25 de Janeiro de 2010

ATÉ QUANDO, OCIDENTE?


Antonella Cinelli

 

A Itália apresenta ‘saldo natural’ negativo – diferença entre nados e mortos. Com a Alemanha, o mesmo. Mais países desenvolvidos, ou em vias de tal, não diferem, substantivamente, do panorama. Quando muito, empatam taxas de mortalidade e natalidade.

 

Por cá, oitavo país do mundo mais envelhecido, o dito saldo também foi menor que zero no último par de anos. Causas? Algumas: a famigerada penúria, bem como a diminuição, sem parança, do número das mulheres em idade fértil. No dealbar dos anos 80, o primeiro filho era nascido, em média, aos 23,5 anos; agora, aos 28,4. Para as mulheres procriarem sobra menos tempo útil e vontade pelos empregos instáveis, progressão na carreira e parcos apoios sociais. Quando tínhamos ‘o rei na barriga’, em 2000, a fecundidade foi promissora e reflectiu o desapertar do cinto guterrista. As políticas económicas, dentro e fora, são condicionantes que importam. 

 

No Ocidente, a imigração atenua o decréscimo da natalidade. “Os imigrantes em idade fértil tendem a ter mais filhos e, porque mais jovens, morrem menos.” Para os nativos daqui, ir além da segunda ou terceira gravidez somente para ricos ou para condenados a miséria hereditária. Sem lado de dúvida, perpetuada como gene maldito até que a excepção aconteça e quebre o ADN de espírito.

 

Mais idosos desfiarão ócios, baralhos e memórias nos jardins. Energeticamente insustentável, continuado o desperdício, a sociedade ocidental entrou em declínio. Por tudo, depende daqueles que a procuram oriundos do mundo pobre. A vida escreverá direito mesmo sendo tortas as linhas.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 06:33
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