Aristides de Sousa Mendes Visto concedido por A. Sousa Mendes
Desgraças não soem chegar isoladas. Ontem, além da goleada imposta pelos alemães à nossa seleção, ficámos a saber que o número de residentes neste retângulo plantado à beira do Atlântico diminuiu em sessenta mil cabeças. O INE fez contas e concluiu que o abaixamento demográfico abrangendo interior e litoral é devido à redução de nascimentos em 2013 conjugado com saldos migratórios negativos. De facto, entre mortes e nascimentos, o país perdeu 23 756 pessoas e fugiram para a emigração quase 130 mil. Jovens, na maioria, que não resistiram à elevada taxa de desemprego e perderam réstia de esperança no futuro que Portugal lhes tem para oferecer. Ficam os idosos com esperança de vida prolongada, muitos sem a alegria de netos que aumentem a família e com o desgosto da ausência na «estranja» dos filhos amados. Aguardam o verão que os devolva se no país destino a vida correr bem. Depois, um ano de solidão escorrendo em lágrimas pesadas.
Comemorado hoje o “Dia da Consciência” em homenagem de Aristides de Sousa Mendes, salvador de inúmeras vidas anónimas, entre elas as de quase dez mil judeus durante a II Guerra Mundial. Das personalidade salvas, constam:
_ Marc Chagall
_ Salvador Dali e Gala Éluard Dali
_ Calouste Gulbenkian
_ Bernardino Machado
_ Antoine de Saint-Exupéry
_ Ian Fleming (escritor das novelas James Bond)
_ Duque de Windsor e a sua mulher Wallis Simpson
_ Família Real Espanhola
_ Jolie Gabor, Magda Gabor, Eva Gabor e Zsa Zsa Gabor
_ Peggy Guggenheim
_ Max Ernst
“Se há que desobedecer, prefiro que seja a uma ordem dos homens do que a uma ordem de Deus.”
Aristides de Sousa Mendes
CAFÉ DA MANHÃ
Graham Mckean
Observando o nosso povo, arrisco: já somos velhos no primeiro «buá-buá». Houvera dicionário «buá-português» e dos recém-nascidos o choro seria lamento – “que não, que não podia ser, que estavam tão bem aninhados no útero, era direito adquirido desde a conceção, não tinham sido avisados do aluguer a prazo do lugar, e era injusto, ou lá se era!, verem-se obrigados a, dolorosamente, encher de ar os pulmões.
No estado adulto e na essência, as lamúrias, não diferem – somos infelizes ou desafortunados pela incompetência do poder político, pelo sobranceiro domínio do dinheiro (quem diz dinheiro diz petróleo ou água num qualquer amanhã). Pouco mais que traças sem agasalho para esmoerem. Sociedade que ignora a justiça, é cruel e arrivista. Só para os graúdos no «ter» a vida é rosa bebé. Nem para esses, vendo bem: uns esmifrados pelo crescimento dos lucros, sem tempo para a família, para eles, para fruírem dos milhões acumulados, enrolados em affairs de carne ou iates ou de contas bancárias que lhes deem a precária ilusão de vivos numa vida amortalhada. Faltam génios como alguns de outrora: um Newton, Churchill, um Mahatma Gandhi, um Einstein, um Eisenhower, Aristides de Sousa Mendes. Inventivos. Corajosos. Determinados.
E há fatia de verdade no reduto da insatisfação. Que não é de hoje - sempre houve e existirá. Fado? Sim por ser natural no pensar humano a ânsia por melhor. Louvável por negar o espírito contentinho no pensar e exigir. Não por que as sociedades são dialéticas e se renovam. Não por nos faltar distanciamento imprescindível para ler os acontecimentos numa perspetiva conjuntural. Não por serem indistintos nos seis mil milhões de terrestres os motores de arranque das mudanças geniais e as hordas de boas-vontades solidárias. E quando os vemos despontar, depressa tentamos aniquilá-los com clichés: lunáticos, excêntricos, incumpridores na peneira do fisco, social ou moral.
Quantos anos de cadáver corroído por biliões de vermes são precisos para atribuir genialidade a quem, na atualidade, a possui?
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros