Autor que não foi possível identificar
No “Campanha Alegre”, coletânea de folhetins, Eça de Queirós relata o estado da marinha portuguesa no final do século dezanove:
“É uma marinha inválida. A D. João tem cinquenta anos, o breu cobre-lhe as cãs: o seu maior desejo seria aposentar-se como barca de banhos. A Pedro Nunes está em tal estado que, vendida, dá uma soma que o pudor nos impede de escrever. O Estado pode comprar um chapéu no Roxo com a Pedro Nunes – mas não pode pedir troco. A Mindelo tem um jeito: deita-se. No mar alto, todos os seus esforços são para se deitar. Os oficiais de marinha que embarcam neste vaso fazem disposições finais. A Mindelo é um esquife a Hélice.”
Isto de flutuar tem que se lhe diga. É generalizado o conhecimento do princípio de Arquimedes que afirma todos os corpos flutuarem porque em qualquer líquido, a água é o mais comum, experimentarem força com direção vertical, sentido de baixo para cima e intensidade igual ao peso dos corpos. Consequência: força resultante nula e os corpos flutuam alegremente.
Autor que não foi possível identificar
Das lendas memoráveis e a propósito, existe aquela de estar Arquimedes banhando-se em tina mais de meia de água, quando sentiu a levez do corpo e os membros inferiores erguendo-se. Cogitava no fazer entregue pelo rei de Siracusa: descobrir se a coroa real encomendada a ourives continha apenas ouro maciço. Saiu do banho, trajou-se, correu em busca dum pedaço de prata e outro de ouro com o mesmo peso da coroa – onde arranjou dinheiro para a ambiciosa experiência não consta da lenda. Sem demora, mergulhou um a um em recipiente a transbordar de água. O pedaço de prata entornava mais água, o de ouro, menos. A coroa real expulsava valor intermédio do líquido. Conclusão: de puro ouro nada tinha. Configurar a fúria do rei, não é difícil. A alegria de Arquimedes também não. Algumas versões mais arrojadas da lenda juram que Arquimedes nem se vestiu a seguir ao banho: correu nu pela cidade gritando “Eureka, eureka!”. Uma Lady Godiva por motivos outros e apeada. Se foram cerradas janelas também fica por saber.
Domenico Fetti
O mesmo Arquimedes afirmou a propósito das alavancas: “ Dêem-me um ponto de apoio e levantarei o mundo”. A verdade é que os larápios conhecem-nas bem demais: um objeto linear e rígido, ponto de apoio, o fulcro, e a alavanca acionada pela força potente faz o resto no assalto. De volta à imodéstia de Arquimedes: para erguer a Terra, além de necessitar de alavanca tão comprida quanto a distância do nosso planeta à Lua, problema divertido é especular qual o fulcro.
Autor que não foi possível identificar
Arquimedes acabou mal, como Galileu e outros que do meditar científico fizeram vida – foi morto durante a conquista de Siracusa por soldado romano desgovernado que o apanhou a desenhar diagramas matemáticos na areia. Tivesse desenhado corações entrelaçados e feridos por seta transversa, é possível que o respirar natural tivesse continuado.
Nota: texto publicado hoje também noutra «chaminé».
CAFÉ DA MANHÃ
Sorrisos. Arredondar para cima os lábios. Luzir o olhar. Do rosto fazer sol a cobrir de alegria os seres. Qual a amargura que resiste ao instante solidário dum sorrir? Desenhar na face brilho espontâneo é jóia entesourada a partilhar com outros. Forçá-lo é hipocrisia que transforma em pechisbeque o oferecido. É luz de candeia mal parida cuja combustão fede.
Há quem condene a expressão livre das expressões pela inconveniência de exibir sentires num mundo afirmado «cão». Alegam fornecer armas aos outros, potenciais inimigos nas sociedades competitivas. Vulnerabiliza o tresloucado que rejeita esconder-se sob a capa da contenção. E depois? Tantos ‘loucos’ pontapearam convenções e por eles a humanidade avançou...
Acolher a verdade dum sorriso que alguém oferece é o apoio em falta na alavanca de Arquimedes capaz de erguer o mundo neste tempo de cóleras.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros