O namoro com a “Grande Alface” pode recomeçar ali bem junto a São Bento, na primeira à esquerda para quem chega ao Largo vindo do Rato e desceu o empedrado. Chamam-lhe Praça das Flores e nome mais a propósito não poderia ter - cruzada por caminhos que separam gradeamentos de parcelas onde, no Outono, árvores antigas derramam pétalas delicadas que juntas e no tempo do viço são flores. Agora, atapetam escadas e carreiros. Sobram para o passeio que contorna o jardim e quase atrevem entrada na beleza dos prédios modestos.
Nos restantes dois lados do quadrado que a Praça quase delineia, a arquitectura permanece despojada, feita excepção ao edifício encantador forrado a cerâmica com tons tipicamente portugueses, azul e ocre, nesta arte onde temos mestria. E há vozes no lugar, alegrias infantis traduzidas em aniversário denunciado pelos balões à janela, pela porta também enfeitada, pelo entra e sai da pequenada que ri e corre em bandos. Juntam-se ao chilreado que das árvores ecoa e desce e enche de bem-estar almas por ali voando assentadas ou passeantes.
Mas foi amizade de anos e o brunch que na das Flores reuniu três mulheres. Nos passadiços exteriores e dentro do “Pão de Canela”, servidas delicadezas gastronómicas tão variadas como as conversas repartidas por gentes com o bom gosto de não incomodarem terceiros. As três mulheres, duas gerações, puseram em dia o que o espírito decide verbalizar, lembraram épocas idas, reflectiram o hoje. E houve presentes, pois então!, que uma delas, além da profissão, tem criatividade e talento para dar e vender. Porque generosa, ofertou-me peças originais como todas as que lhe saem das mãos. Pela surpresa e de tão lindas, comove sentir que amizades podem ser traduzidas em objectos feitos de ternura. E que dizer da nossa jovem mulher? _ Que é dada ao belo, que projecta perfeições no que faz, formosa no íntimo e no visível.
CAFÉ DA MANHÃ
Arte que tenho o gosto de possuir pela generosidade da designer Maria Fernanda Rocha. Ao longo de trindade de anos, fui surpreendida com a criatividade desta artista. Porque amiga, em ocasiões estas e aquelas, presenteou-me com o afecto simbolizado por peças únicas, criadas em exclusivo para harmonia com a minha personalidade e estar. Tons de fogo e cobres condizentes com dourado se a balança de Outubro a inspirava. Trapos e acessórios meus que disso não passariam se arte afectuosa não lhes conferisse dimensão além.
Na Primavera, jeans e túnicas bordadas pedem azuis. O vestido decotado carece de ornamento entre os seios. Azul como as flores do chiffon, revelando, com subtileza, no oscilar de cá para lá, o recorte do peito. E a mulher sente o prazer do complemento/peça única colada à pele.
Porque dias e noites requerem preto, sandálias apuradas, zebra nos momentos íntimos em que xailes são lingerie que a nudez cobre. Se o instante é social, que se lhe juntem pérolas, sapatos Channel. Nada por dentro, salvo a nuvem de perfume Midnight Poison.
Preto e encarnado. Meias com liga de renda e cetim entrançado. A mulher, das intimidades só ela sabe, experimenta prazer secreto, enquanto a mala de verniz prende nos dedos. Depois, são os colares mesclados, dois «pores»; cinza e sandália prateada brilham no negro.
Roxo, luvas de fina pele até ao cotovelo, laçarote no pulso, seda estampada, fluida, que deixa em liberdade as pernas. Lilás, fúcsias, sedas selvagens, transparências, pedra semi-preciosa em pendente. No segundo, de novo, a pureza da seda acontece. Pérolas, sempre elas as sedutoras.
Para trás? Para a frente? Desiguais num só. O bordado artesanal em cinza progressivamente esfumado até ao preto. Apetece o brilho e o metal da mala de mão cuja alça delicada suspensa no ombro é liberdade. Contrasta o verde de estio alegre, das longas noites e dias, do algodão indiano sobre a pele que o vestido desnuda. Arte e tecido e corpo e irreverência em harmonia perfeita até a noite desaguar na madrugada da mulher.
Estas e outras peças d'arte, aqui.
CAFÉ DA MANHÃ
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