Detalhe duma experiência minha a óleo em honra do avô Artur Brojo e duma das casas da família, a "Casa do Prado", sita em S. Cosmado, Aldeias
Do espólio familiar e de S. Cosmado-Aldeias (autor das letras e da música Artur Brojo).
“Do alto da serra,
Olhei pra baixo e vi
A igreja da minha terra
A casinha onde nasci
Vejo além ao longe
Um regato e uma fonte
E uma linda capelinha
Tão branquinha lá no monte
Vejo da minha janela
Toda a casinha singela
Nesta aldeia de encantar
Vejo lindo panorama
Que logo a atenção me chama
Para depressa adorar
Vejo as ovelhas no monte
Correr a água da fonte
Por enormes ribanceiras
As moças ao regressar
Depois do trabalho acabar
Cantam lindas ramaldeiras.”
Enquanto na “Sociedade Industrial” – Amarantes, as lançadeiras iam e vinham, obedeceu ao ritmo e compôs a música do “O meu Amor é Pastor” (poema escrito ao serão do mesmo dia). É considerado património do folclore do Concelho de Gouveia.
“O meu amor é pastor
Já anda a aprender a ler
Já comprou uma cartinha
Para depois m’escrever
Rapazes e raparigas
Cantai cantigas
Batendo o pé
Também canta o meu amor
Que ele é pastor
Ai lariló-lé.”
Artur Brojo tinha profunda consciência da opressão dos trabalhadores pelos donos da terra coadjuvada pela sua experiência fabril (referido em “Maria e Sario”). Embora desse trabalho a quem precisava, jamais explorou o suor alheio. Exemplo duma quadra musicada que, segundo os recontos, criou e o povo a que tinha orgulho de pertencer cantava sob o peso da enxada.
“Ao malhar da borda
Vinho à malha
Se o patrão não paga
Fica o pão na palha.”
Com o primo António Pinho Brojo e o amigo deste, André, nas férias em S. Cosmado, ambos exímios tocadores de viola e futuros catedráticos de Farmácia na Universidade de Coimbra, nos serões da família e por onde calhava, tocavam até de madrugada.
O António, o André mais o Zé Roque faziam serenatas de encantar. O poema seguinte fez parte duma em favor da, ao tempo muito jovem, tia Maria do Céu, vinda ela de férias do Colégio do Sagrado Coração de Maria, na Guarda, onde prosseguia estudos.
“Ao longe
Ao cair da tarde
Quando no mar
O sol lentamente
Se vai apagar
É que eu penso
No teu olhar
Tão meigo e profundo
Que me deixa a sonhar.”
CAFÉ DA MANHÃ
O par de sequências musicais do avô Artur Brojo abaixo interpretadas pelo Rancho Folclórico de Gouveia, possuem o encanto raro da genuinidade que letras e pautas contêm. Poemas belos que o povo mais idoso das Aldeias ainda trauteia. Giacometti, amigo do avô, garantia a ancestralidade dos temas e ficou pasmo quando numa das visitas teve nas mãos os originais em papel datados e assinados. Aconselharia, a bem do património musical português, deixar cair no esquecimento o autor. Pelo amor aos Hermínios, suas gentes e tradições, o avô concordou e assim aconteceu.
Abel Manta Clementina Manta, mulher de Abel Manta
Estando em curso preparativos para romagem a lugar nas faldas da Estrela, preciso é dicionário que desambigue com os locais discursos.
O falar da Beira Alta tem quês e porquês. Destes, especialistas sabem. Os quês são conhecidos daqueles que por lá vivem ou viveram ou se informaram. Algumas expressões populares deleitam pela expressividade ou humor, ainda que, nalguns casos, jocosas ou ofensivas. É de citar pêlo na venta ao querer exprimir mau génio ou frontalidade invulgar de quem perante desaforo não fechava a sanfona (boca). Pêlo na barba tem o sentido de mulher peluda no queixo. Aliás, barba é, na região, também sinónimo de queixo.
Gorgomilo, bofes, bucho significam, respetivamente, garganta, pulmões dos humanos ou do porco, estômago ou enchido feito de partes menores do bicho e enfiado na bexiga ou no estômago do mesmo. As mulheres encarregam-se do pitéu após a matança; atam e põem-no ao fumeiro para ser cozinhado ou consumido em fatias no Domingo Gordo – domingo de Entrudo, o último antes da Quaresma.
No cortelho, lugar reservado ao porco, a pia feita de pedra servia para conter o alimento que faria crescer o animal até Janeiro, mês em que ia desta para vida outra nas salgadeiras dos arcazes (arcas em castanho velho) arrecadados na loja (parte inferior da casa situada ao nível da rua). Pelo balcão subiam os moradores até ao espaço reservado para habitarem.
Almoço, fatia, jantar, ceia design(av)am refeições equivalentes e pela mesma ordem a pequeno-almoço, comida levada pelos donos da terra aos trabalhadores agrícolas entre as onze e meia e o meio-dia, almoço e jantar. Madrugar e dormir cedo eram hábitos indispensáveis a quem iniciava cedo a jorna. A ausência de televisão, de leituras, o frio entrado pelas frinchas dos telhados e das paredes em granito contribuíam para ir à deita mal a noite era descida. Filhos foram engendrados por falta de assunto ou pela quentura das cobertas (cobertores) que enganavam frio de arreganhar (arrepiar). Uns medraram (cresceram), outros morreram justificando a elevada taxa de mortalidade infantil antes e durante o Estado Novo. O ripanço (descanso) acontecia somente ao domingo quando ainda não era sonhada a semana-inglesa.
As matas e os milhos (milheirais) proporcionavam fugidios encontros românticos terminados em sexo. Rondada a futura amásia (amante) com rapapés (lisonjas) pelo candidato que lhe desejava o corpo, tudo acontecia num rufo (momento). Dando o povo conta, o passarinhar (andarilhar) dos amantes era vigiado por olhos curiosos, dizia o par amancebado e jamais esquecia o sucedido ainda que terminasse em casamento o romance. Galgas (mentiras) e nisgas (pedaços de nadas) de vaidade depressa alimentavam falatório e eram pretexto pra mandar pró catano (diabo) quem «argolava» comportamentos. Já bonda (chega)!, diziam. Também as malinas (doenças) de pessoas ou de videiras como a filoxera ou de pinheiros ou das batatas ou de outros produtos da terra que ajudavam à sobrevivência eram tema de conversa.
Das ovelhas, o leite para o requeijão e queijo serranos, o leite basto (leite coalhado com flor do cardo), os chibos (crias das ovelhas) eram petiscos, as mais das vezes oferecidos como paga de favores a famílias, médicos e profissionais dos serviços que as gentes auxiliassem. Lambarices (guloseimas) para lambareiros (glutões) que àqueles presentes chamavam ‘um figo'.
Enxaugar era e é perversão de enxaguar, rastolho tanto podia significar variedade de pêra como assuada (confusão, barulheira). Com nanja (nunca) enfático, perguntas eram caladas.
Mais haveria para referir se a tal chegasse o saber. Mas não chega. Já bonda!
CAFÉ DA MANHÃ
Do espólio familiar (autor das letras e da música Artur Brojo) e de S. Cosmado-Aldeias.
“Do alto da serra,
Olhei pra baixo e vi
A igreja da minha terra
A casinha onde nasci
Vejo além ao longe
Um regato e uma fonte
E uma linda capelinha
Tão branquinha lá no monte
Vejo da minha janela
Toda a casinha singela
Nesta aldeia de encantar
Vejo lindo panorama
Que logo a atenção me chama
Para depressa adorar
Vejo as ovelhas no monte
Correr a água da fonte
Por enormes ribanceiras
As moças ao regressar
Depois do trabalho acabar
Cantam lindas ramaldeiras.”
Enquanto na “Sociedade Industrial” –Amarantes, as lançadeiras iam e vinham, obedeceu ao ritmo e compôs a música do “O meu Amor é Pastor” (poema escrito ao serão do mesmo dia). É considerado património do folclore do Concelho de Gouveia.
“O meu amor é pastor
Já anda a aprender a ler
Já comprou uma cartinha
Para depois m’escrever
Rapazes e raparigas
Cantai cantigas
Batendo o pé
Também canta o meu amor
Que ele é pastor
Ai lariló-lé.”
Artur Brojo tinha profunda consciência da opressão dos trabalhadores pelos donos da terra coadjuvada pela sua experiência fabril (referido em “Maria e Sario”). Embora desse trabalho a quem precisava, jamais explorou o suor alheio. Exemplo duma quadra musicada que, segundo os recontos, criou e o povo a que tinha orgulho de pertencer cantava sob o peso da enxada.
“Ao malhar da borda
Vinho à malha
Se o patrão não paga
Fica o pão na palha.”
Com António Pinho Brojo e o amigo deste, André, nas férias em S.Cosmado, ambos exímios tocadores de viola e futuros catedráticos de Farmácia na Universidade de Coimbra, nos serões da família e por onde calhava, tocavam até de madrugada.
O António, o André mais o Zé Roque faziam serenatas de encantar. O poema seguinte fez parte duma em favor da, ao tempo muito jovem, tia Maria do Céu, vinda ela de férias do Colégio do Sagrado Coração de Maria, na Guarda, onde prosseguia estudos.
“Ao longe
Ao cair da tarde
Quando no mar
O sol lentamente
Se vai apagar
É que eu penso
No teu olhar
Tão meigo e profundo
Que me deixa a sonhar.”
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros