Giorgio Brunacci
Consideram alguns que sem «imaginação» não existe mérito de quem escreve. Traduzo: ficcionar sem qualquer sustento real. Criar de raiz personagens e respetivas estórias. Inventar mundos alternativos à feição do Tolkien no “Senhor dos Anéis”. Ou como Rowling no “Harry Potter”. Supõem, julgo, que nesta criações e outras mais recuadas a realidade que emoldura o autor não contaminou a obra. Nisto, pranto absoluta discordância. Mais – não consigo sequer configurar escritor imune às emoções, acontecimentos, pessoas e sentimentos por ele experimentados. Mesmo quando a ficção surge como irrealidade fantástica, as personagens foram retocadas à custa da tia-avó intrometida, do amigo bom-garfo ou da vizinha com língua viperina.
Não sei escrever estórias sem ligação ao que me constitui. Ao vivido. Ao idealizado. À encenada projeção de dúvidas, gostos e desgostos. Por isto, rabiscadora menor? O discurso escrito tem ardis e mistérios que cativam. Bastas vezes me enrolo no encantamento das palavras e curvo o conteúdo pela fruição de vocábulos vindos dos aléns do pensamento. Retomo o curso, é certo, mas o gozo das artimanhas que as letras sugerem é tentador. Não fique retido considerar despiciente a substância dos textos. Nem um pouco! Pura fantasia o que escrevo? Vezes, sim, vezes, não. Um facto sublinho: em qualquer circunstância, há a verdade da mulher que sou. Por lealdade – sempre ela que tantos amargos de boca me traz e devia(?) ter aprendido a rodear – para com o leitor, obrigo-me a esta reflexão.
CAFÉ DA MANHÃ
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