Terça-feira, 31 de Março de 2015

A TRANCA DA BARRIGA

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“Aerobics with Olga”

 

 

“Come filha, come a sopinha toda. A sopa é a tranca da barriga.” Este era dito regional. Uma tranca na barriga é supremo desejo dos que não têm tento no que enfiam pela boca. Entram entradas, entram comezainas diárias que incham e alargam o perímetro abdominal. Dizem indício de obesidade se nos homens ultrapassar 97 cm. Nas mulheres não sei ao certo, mas o que sofrem frente ao espelho é martírio de vida. Para o Vinícius, leve curva da barriga na mulher era essencial. Discordo. Olhamo-la de lado, de frente, e, vislumbrada, voltamos à «fomeca», acrescemos abdominais e penamos e bebemos água e tisanas e engolimos pílulas para, curtos dias após, naufragarmos em sobremesas. A tranca da barriga, hoje, tem nome: banda gástrica. Um horror! Já dei loas pelo peso estável que caterva de abdominais mantinha. O peso aumentou um «nico», mas foi às malvas a caterva.

 

 

 

 

“Trago-o nas palminhas das mãos.” Outro dito popular. Este não aprecio - subserviência a mais. Sugere lamber botas, amoinar, renunciar à própria opinião. Para isto não sirvo - o nariz trai-me e desata a empinar como o do Pinóquio ao mentir.

 

 

 

 

“Aquele é do pomar de Jesus...” Chiste de família que uso bastas vezes. Ingenuidade serôdia, crendice tola. Venda nos olhos que a patetice, a teimosia, não raro a paixão que ao indivíduo surripiam objetividade e raciocínio escorreito. Todos, uma vez, por outra, visitamos o referido pomar. O que não entendo é a associação entre inocência tonta e a idealização de Jesus. Olho vivo para o cinismo humano, a tradição preservou-lhe. Será que o princípio de oferecer a outra face a quem numa já bateu tanto enviesou?

 

 

 

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

 

publicado por Maria Brojo às 08:00
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Terça-feira, 31 de Dezembro de 2013

VAI O VELHO, CHEGA O NOVO

 

                                                     

                                                             

                                                                   Retrato meu pela talentosa pintora Natalia Gavrilyachenko

 

Maria Brojo

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 09:00
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Segunda-feira, 17 de Outubro de 2011

PORTUGUESA, EXEMPLAR

Salvador Dali

 

Inscrição simples – documentos banais do candidato e impressos em dose comedida. Seleccionadas diligências pretendidas, a instituição actua: visita de reconhecimento por técnicos especializados, definidos cuidados a prestar. Tomado como exemplo casal idoso, lisboeta, ele acamado, a mulher, oitenta para cima, ainda ligeira apesar dos anos acumulados e dalguns padecimentos. Difícil mover o diabético, amputado, regular a glicemia, cuidá-lo para que feridas não surjam e alastrem. Por menos de vinte euros, a instituição envia regularmente enfermeiras, acompanhadas ou não de médico, e cuidadoras da higiene do doente.

 

Na última visita do pessoal de enfermagem, detectada pele seca e uma borbulha na perna restante. Mereceu atenção que olhos desprevenidos julgariam sem importância. No dia seguinte, uma médica desloca-se ao domicílio, inspecciona o motivo de alarme constante no relatório da enfermeira, medica e recomenda o que fazer; do mesmo modo, anota ser necessária consulta da especialidade. Novo dia, a equipa técnica verifica se o tratamento obteve resultados positivos e regista tensão alterada. Marcada consulta outra sempre ao domicílio. Fraldas e resguardos fornecidos mensalmente em número suficiente para não existirem faltas.

 

Informação repetida ao logo dos dois anos de assistência: _ “Havendo necessidade, basta telefonema a qualquer hora para ter auxílio aqui em casa.” Desde então, os serviços prestados continuam idênticos na eficácia. Nome da instituição: Santa Casa da Misericórdia. Portuguesa, exemplar.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 13:58
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Domingo, 5 de Junho de 2011

NO CORPO, O PRAZER

 

Arte que tenho o gosto de possuir pela generosidade da designer Maria Fernanda Rocha. Ao longo de trindade de anos, fui surpreendida com a criatividade desta artista. Porque amiga, em ocasiões estas e aquelas, presenteou-me com o afecto simbolizado por peças únicas, criadas em exclusivo para harmonia com a minha personalidade e estar. Tons de fogo e cobres condizentes com dourado se a balança de Outubro a inspirava. Trapos e acessórios meus que disso não passariam se arte afectuosa não lhes conferisse dimensão além.

 

 

Na Primavera, jeans e túnicas bordadas pedem azuis. O vestido decotado carece de ornamento entre os seios. Azul como as flores do chiffon, revelando, com subtileza, no oscilar de cá para lá, o recorte do peito. E a mulher sente o prazer do complemento/peça única colada à pele.

 

 

Porque dias e noites requerem preto, sandálias apuradas, zebra nos momentos íntimos em que xailes são lingerie que a nudez cobre. Se o instante é social, que se lhe juntem pérolas, sapatos Channel. Nada por dentro, salvo a nuvem de perfume Midnight Poison.

 

 

Preto e encarnado. Meias com liga de renda e cetim entrançado. A mulher, das intimidades só ela sabe, experimenta prazer secreto, enquanto a mala de verniz prende nos dedos. Depois, são os colares mesclados, dois «pores»; cinza e sandália prateada brilham no negro.

 

 

Roxo, luvas de fina pele até ao cotovelo, laçarote no pulso, seda estampada, fluida, que deixa em liberdade as pernas. Lilás, fúcsias, sedas selvagens, transparências, pedra semi-preciosa em pendente. No segundo, de novo, a pureza da seda acontece. Pérolas, sempre elas as sedutoras.

 

 

Para trás? Para a frente? Desiguais num só. O bordado artesanal em cinza progressivamente esfumado até ao preto. Apetece o brilho e o metal da mala de mão cuja alça delicada suspensa no ombro é liberdade. Contrasta o verde de estio alegre, das longas noites e dias, do algodão indiano sobre a pele que o vestido desnuda. Arte e tecido e corpo e irreverência em harmonia perfeita até a noite desaguar na madrugada da mulher.

 

Estas e outras peças d'arte, aqui.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

 

publicado por Maria Brojo às 07:43
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Segunda-feira, 30 de Maio de 2011

«AXÁSTE-LO»? _ «AXEI-O»!

Bart Lindstrom

 

Após fim-de-semana repartido entre trabalho e lazer, decisões sérias sobre património familiar, um ouvido na rádio, outro captando sons da consciência, apaguei da memória a campanha das sardinhas, bares e chuvadas e maldizeres. Decidida a orientação do voto, persisto na substância que dos folclores se eleva. Escolhi ideias em detrimento de pessoas que nos média as simbolizam. Ainda assim, averiguei se entre pensamentos e postura havia incoerências. Não as achando, optei e, somente pelo termo achar, veio à lembrança estória que testemunhei. Ocorreu numa missa dominical de aldeia e julgo-a por aqui já contada. Em duas penadas, o resumo: avó arrasta o neto pela mão com o sentido no ritual abençoado que ao neto sirva e ensine. Sendo o garoto pequeno e manifestando tédio, ocorre-lhe como motivo de fuga a urgência dum «xixi». Sussurra à avó a precisão. Autoriza. O catraio sai em demora pouca. No regresso, lamento baixo: _ Não o «áxo»! A avó, lesta, verifica se a braguilha está aberta. _ Despacha-te. Na volta, tão enfastiada como o neto, inquire: _ «Axáste-lo»? Responde o petiz: _ «Axei-o». Deo Gratias dizia o sacerdote.

 

Como antes, como agora, importa a destrinça entre o acessório e o que faz diferença. Fartos estamos de abordagens delicodoces também por via de papelotes com esferográfica anexa. Louvo a míngua de ofertas e recursos que a ‘crise’ justifica para aqueles que, astutos, recusam ficar mal no retrato poupado. O meu «axei-o» tranquiliza-me. Certa estou da sensatez na resposta à pergunta «Axáste-lo»?

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 07:05
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Terça-feira, 5 de Abril de 2011

DO SOLO PISADO POR DOIS NUM

Autores que não foi possível identificar

 

Sam Sheppard. Wim Wenders. Os dois, combinados, ideiam filmes dolentes, planos demorados, sentimentos contidos, sensualidade no falar silencioso do Sam Shepard habituado à escrita boa ou não fosse Prémio Pulitzer. Conheci-o, vergonha minha, apenas no “Paris, Texas”, road movie incomum, também realizado por Wim Wenders e estrelado pela fabulosa Natassja Kinski. Mais tarde, dele leria o editado por cá. Simbiose harmónica entre o escritor, actor, guionista.

 

Vieram à lembrança as referências pela sensualidade na escrita, no celulóide, na voz, nas gentes. Qualidade abrangida por alguns. Se trabalhada soa a fingimento. Se inata é o que deve ser – explosão dos sentidos todos num olhar, num gesto ou trejeito, num morder de lábios ou num jeito sem jeito. Impressão digital que nenhum burocrata legitima, mas fica gravada na sensibilidade de quem vê e reconhece pelo diálogo com profundezas das quais cada um sabe em si.

 

A voz que canta o Café da Manhã, apela à transgressão, clama pele, chão ou cama. Talvez solo pisado dum jardim ou dele banco de madeira onde dois se confundam num.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

Alentejana como não bastasse o bastante.

 

publicado por Maria Brojo às 06:17
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