Ava Gardner Ava Gardner by Shahin Gholizadeh Ava Gardner Young
Da sedução dizem ser arte. Dom. Talento. Passível de retoques e evolução como a escrita ou a música ou a escultura ou a representação. Envolvendo técnicas que o exercício, e dele a aprendizagem, apuram. Não subscrevo este pensar. A sedução não é arte, é atitude. É um comezinho modo de estar. Seduz quem dos outros quer saber. Ouvir. Arredando artifícios langorosos ou dicas de manuais. Seduz quem não teme a vida, aprendeu a dor e os (des)encantos e a graça de um sorriso. Avareza nas emoções centradas no umbigo pode usar máscara e simular agrados. Sem tardança, virá rajada que o postiço arranca e o olhar sapudo, frio, egoísta, revela.
Quem a si mesmo ama e dos dias recolhe uma a uma todas as amoras maduras, sabe que arranhadela ao estender as mãos à suculência dos frutos é precisa – de futuro, cuidará de afastar pelo extremo tenro os ramos sem abster-se de, amorosamente, sentir na boca o fruto apetecido. E para que existem as amoras se não para serem colhidas? Definharem no arbusto, cobertas de pó e roídas por bicharada imprecisa é desbaratar a perfeição da mãe natura.
Porte que o longe desafia, espírito empreendedor e destemido, valem mais do que saltos-agulha, vestido coleante que o corpo dispa, cabelo sedoso pelo meio nu das costas, pernas de cetim que fecham e entreabrem promessas, lábios gulosos e olhar fundo. Seduz quem a si e aos outros dá por certa disponibilidade perante a vida.
Nota – A propósito, recomendo a leitura de 'De la séduction', Jean Baudrillard (Galilée, Paris, 1979) e Gallimard, Folio Essais 81 (1988 )
Para a Teresa C. um blog não é confessionário com altifalante instalado e câmara ligada em zoom máximo. Havendo cumplicidade com leitores/companheiros do percurso escrito, a vontade levanta um, outro, dos véus de organza. Sobrepostos. Translúcidos. O último de cetim opaco. Este preserva a intimidade suspenso do tecto do ser. Por detrás, as portadas duma vida aberta às escâncaras para o terraço dos afectos e pequenas misérias onde se movem amores/cúmplices, secretos como a família e a essência da alma pedem e ela respeita. Mas há varandas-apetite. Impõem-se quando a ternura pelos leitores que a obrigam a repensar o pensado inventa dedos e arredam parcela duma organza ou dum tule feliz. E, por ser mulher que do tutano das horas quer a espuma e as ondas e o vento que as move, reparte, dos sentidos, sentido irrepetível, ébrio de alegria e luz.
Nota: desejada recuperação próxima para o fotógrafo/repórter João Silva gravemente ferido no exercício da profissão ao serviço do New York Times e hospitalizado em Kandahar.
CAFÉ DA MANHÃ
Cortesia de Anónimo
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