Daniel Gerhartz
Ela ouviu e viu. Eu não. Ela rendeu-se às convicções e postura obstinada dele - monopolizou antena; desconjuntou o discurso da entrevistadora em serviço. Ouvi-lhe o relato entusiasta. Contrapus, depois. Fui advogada diabólica ao serviço da análise crítica. Hábito/vício. Viciado? Gosto de pensar que não; todavia, reclamar imparcialidade limpa contrariaria o gosto de me pôr em causa. E sou lá mulher para me negar um prazer? Lados desiguais do triângulo com vértices na que viu, na que ouviu e no Presidente da Madeira entrevistado pela inefável Judite de Sousa.
Ele e duas elas. Está apaixonado por uma (por vezes desmente, nalgumas concorda). Da outra afirma-se ‘não amigo’ – defende impossível amizade entre uma mulher e homem que combina gostar e desejo. A outra afirma-se no contrário pelo bem-querer traduzido em gestos e no júbilo quando lhe vê sorriso na face e na voz pelo bem correr do amor. Entre ambos, ausência de cama ou tapete ou mesa ou bancada de cozinha como apoios dos corpos penetrados. Ele e a postada no terceiro ângulo partilham ideares quotidianos. Das banalidades às inquietações pessoais, nada é excluído durando as horas de encosto ao ouvido. Ligados sem fios. A palavra falada, que do falo e falta dele faz ganho analítico, é instrumento.
Surpreendeu-a ao dizer-lhe:
_ Tem-me interpelado prever o futuro contigo quando estiver em harmonia com a Isabel e existir quotidiano comum. Pela exclusividade de que preciso nos amores, como compatibilizar-te?
Ela, a outra, pasmou. Pela alegre experiência pessoal, desentendeu aquele entendimento de par. Hermético. Rodeado por grades. Postos à distância, alheios. Com prazo, os afectos/tangos de per si dançados hoje. Limite: ‘viver com’. Outro triângulo escaleno.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros