Barclay Shaw, Riveter
A nova ordem social tem preceito rígido: estar saudável. Impõe a ingestão de frutos e vegetais de cores garridas – os vermelhos mirtilos, tomates, amoras e framboesas, laranjas, tangerinas e cenouras, kiwis, espinafres e todos os verdes, couve e alface roxas. Quem ao abastecimento de vitaminas no supermercado preferir pílulas da farmácia infringiu a norma da dieta ideal. Traseiro, todo o santo dia, fincado em assento, já pecou. Que se mexa, que a trote vá para o trabalho, dispense o elevador e pela escada trepe ao décimo andar, que substitua o motor pela bicicleta, que aprenda a respirar, que mantenha a coluna direita, que não fume, não beba café ou mais de dois meios-copos de vinho por dia, que dispense bebidas destiladas - a cerveja incluída -, que se besunte com ecrã total para esconder a pele do Sol empinado, não abuse dos duches por surripiarem a indispensável gordura protectora (até agora chamada porcaria), que a água escorra sem mistelas de banho ácidas ou alcalinas, em qualquer caso danosas. E que durma. Muito. O que o relógio biológico ordenar lá do alto do quiasma no hipotálamo. Mas, atenção!, sem cair no vício da sesta, hábito nocivo à saúde das economias com prioridade sobre a das gentes. Daí almoços leves. Frugais: sopa, iogurte e fruta. Parcos em proteínas animais. Sem doçuras. Preferencialmente de pé.
O sucesso das economias necessita de funcionários (escravos?) fortes que não gastem dinheiros públicos em doenças, hospitais, farmácias e dias de baixa. A sociedade obriga a tensão arterial, colesterol, pulmões e demais órgãos afinados por bitolas economicamente viáveis. Depois, as úlceras, as depressões, as insónias denunciam um desgraçado – desgraçado?, qual quê?, um pecador por infringir os mandamentos da saúde, pois fosse obediente e estaria rijo como um pêro! Aguentaria a pesporrência do chefe e a torre de afazeres. Trabalharia sem horário por ter dormido bem. Correria de um lado para o outro porque ao trote ganhara hábito. Estando deprimido, mais teria que enfiar pílulas à sorrelfa sem, publicamente, enviar sinais de ruptura. Saúde traz felicidade. Adeus divórcios, tristezas – a saúde é o bem maior! – e dívidas: numa vida regrada, o indivíduo diminui o consumo. E quem disser abominável a nova ordem social ou é extraviado ou lorpa. Em qualquer caso, candidato a ser triturado pela máquina produtiva.
CAFÉ DA MANHÃ
Cortesia de C..
Barclay Shaw
“Em 2010 o Pavilhão do Conhecimento-Ciência Viva tem muitos desejos por concretizar. Amanhã, quarta-feira, dia 6 de Janeiro, dia de Reis, às 11h, vamos abrir caixas de presentes que revelam a programação do Pavilhão do Conhecimento para este ano sob a forma de DESEJOS.
Este ano quem manda sou eu. No último sábado de cada mês, uma dupla de personalidades de diferentes áreas culturais vai mandar no Pavilhão do Conhecimento e definir, durante um dia, a programação deste centro de ciência.
Este ano vou sair mais à noite. Os miúdos vão voltar a ter o Pavilhão do Conhecimento só para eles durante a noite. De sábado para domingo, as crianças entre os 6 e os 12 anos pernoitarão neste museu, desvendando vários enigmas científicos.
Este ano vou deixar de corar. Em Setembro, o Pavilhão do Conhecimento inaugura uma exposição em que amor e sexualidade são explicados aos pré-adolescentes (dos 9 aos 14 anos) de uma forma divertida mas sem perder de vista o rigor científico. Imperdível também para pais e educadores.
Este ano vou fazer obras em casa. O Pavilhão do Conhecimento vai reformar e alargar as suas valências durante 2010. O público vai poder seguir de perto o estado das obras visitando Esta exposição é obra!. As crianças também ficarão a saber o que se passa num estaleiro e as propriedades de alguns materiais de construção no ATL do Carnaval e da Páscoa, com a actividade Férias na Obra.
Este ano vou convidar mais amigos para jantar. Aproveitando a abertura da nova cafetaria, o Pavilhão do Conhecimento inaugura durante este ano uma série de jantares temáticos inspirados nos ambientes extremos do planeta, com a presença de cientistas e investigadores. Já nos meses de Verão vamos oferecer ciência sobre a mesa aos visitantes, promovendo debates esclarecidos sobre eutanásia, homossexualidade e medicinas alternativas.
Este ano vou viver no limite. A exposição interactiva EXTREMOS Viver no Limite, já patente no Pavilhão do Conhecimento, leva os visitantes aos sítios mais inóspitos do planeta sem saírem do mesmo lugar, mostrando-lhes como há seres vivos adaptados a situações de calor intenso, frio gélido, falta de água, escassez de oxigénio e escuridão constante. Em cheio no Ano Internacional da Biodiversidade.
Este ano vou fazer-me ouvir. Em 2010 o Pavilhão do Conhecimento quer continuar a trabalhar para fazer chegar a cultura científica e tecnológica a todos. Como exemplo disso, no Dia de Reis a apresentação da sua programação será traduzida em língua gestual portuguesa. Haverá ainda uma visita à exposição EXTREMOS Viver no Limite guiada por um visitante surdo.
Em 2010 queremos também ir mais vezes ao cinema, dar mais atenção aos miúdos e aproveitar melhor a cidade. Queremos ir a todas as festas e aproveitar melhor os sábados. Queremos aprender coisas novas e fazer coisas diferentes. Em suma: queremos Mais Ciência, Mais Viva.”
Pavilhão do Conhecimento-Ciência Viva
CAFÉ DA MANHÃ
Barclay Shaw
Pendentes encarnados suspensos nas janelas dos prédios lisboetas. Nadas comparados com as bandeiras febris e nacionais/nacionalistas da era Scolari – aqueles esparsos, estes disseminados no país inteiro em idos de boas e más lembranças. Dizem os primeiros vendidos com o beneplácito do Patriarcado. Euros a troco, não me souberam dizer, de quê meritório. Tentei indagar junto das fontes próprias. Resultado nulo. Mais soube: as cópias made in China distinguem-se das originais pelo inscrito “Feliz Navidad”. Espanholada festiva à mistura com parapeitos lusos é obra!
Séria e à séria é obra outra: Mala Solidária. Dizer anexo na informação inclusa: “Se você é mulher solidária, use-a com orgulho!”. Em parceria com a Tela Bags, a Fundação AFID – Diferença, instituída pela Associação Nacional de Famílias para a integração da Pessoa Deficiente – criou arte andante. Pinturas impressas em tela resistente. Autores: artistas seleccionados, entre os muitos excepcionalmente diferentes, que a AFID representa e contempla. Os fundos gerados com a venda da Mala Solidária revertem integralmente a favor desta instituição.
A que me foi ofertada, verdes musgo, terra e relva, veio de quem, com afecto, entende a mulher que é e, por acaso, escreve. Botas de camurça, tom condizente e arquivadas por falta de paciência para compra de mala condigna, sairão à rua. Com orgulho e gratidão, usá-la-ei.
Nota: a Tela Bags cria malas inovadoras a partir de telas de PVC usadas. Ao aproveitar este material, evita destino certo: o aterro. Explora, criativamente, potencial durável e gráfico.
CAFÉ DA MANHÃ
Na véspera da Consoada, por via do querido Amigo Justo, desejo a todos os leitores do SPNI tempo feliz.
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros