Bascove
Às gruas que também faziam paredes, dela num amanhã talvez. Voluntariosa, era lá mulher para betão interposto nos acordares? Jamais o pequeno-almoço tivera muros. Rádio, sim. Ligado, ainda sonâmbula, em simultâneo com a Nespresso. Um Nokia branco de cozinha. Devia estar suspenso no vão definido pelos arrumos superiores. Prezando a geometria linear, negara descompô-la e colocar o aparelho onde era suposto. Para sempre – ela que na ciência básica aprendera a humildade de nada julgar eterno – apoiado no granito pintalgado de mica que brilhava à mistura com a brancura do quartzo. O feldspato compunha a paleta. E dizem o negro facilidade na pintura… A cor que todas absorve é mais do que o «pintado» pelos críticos nas teclas. Que debulham razões como quem descamisa milho. Sem rubro rei a fazer diferença na festa da colheita. Sem beijocar repenicado nas moçoilas, fugidio nos mancebos. Não-saber construído e à venda para quem mais der no leilão do nome grande inscrito em letra de forma ou vozeado nos ecrãs.
CAFÉ DA TARDE
Anne Bascove
Pululam os salões eróticos. Este fim-de-semana, o Porto anima-se com o realizado anualmente. Novidade: “aulas de sexo para casados”. À primeira, pode surgir como risível. À segunda, dá para pensar. À terceira, é para levar a sério conquanto pedagogias género fast não inspirem confiança. Ainda assim, é ideia que não me desagrada. Quantos pares acasalados, caem nas rotinas desestimulantes do quotidiano? Insinuado o tédio, a vertente sexual ressente-se. Ora, a imaginação, o desejo de surpreender o amado sem ou com acrobacias estereotipadas – se o forem e corresponderem a fantasias do casal não vislumbro problema -, acompanhados de tolerância e compreensão, de nadas muitos, compõem a gratificação do conjugar vida a dois.
É facto incontestado que nestas exposições eróticas, em vez da maioria de homens sós, entram agora casais em número significativo. O espírito voyeur, quiçá esteja presente e julgo não fugir da realidade, em si não é um mal. Todos, de um modo ou doutro, o possuímos mesmo se aplicado à observação de quem se cruza connosco. E se há curiosidades obsessivas apenas focadas no sexo, sem outras o conhecimento humano restaria primário.
CAFÉ DA MANHÃ
Patti Mollica, Bascove, Keith Mallet
Que mania de, com estardalhaço, morrermos longe sem catástrofes ou outras razões naturais como causa! Melhor é ser tragicamente defunto no quentinho português do que exportar protagonistas com sangue fervente na guelra, sem capacidade de resolverem conflitos passionais com tartes de chantilly mandadas às bochechas de acordo com o cenário hollywoodesco de Times Square. Seria mais discreto e evitávamos ficar mal-afamados na ‘estranja’. Fosse americano o assassino, ainda vá – fazia jus à mítica, mafiosa(?) cidade de Nova Iorque descrita no cinema que avultada dinheirama rende por esse mundo fora. Fazermos lá o filme sem garantir direitos de autor, permitir rendimentos aos tablóides locais sem uma chavo p’ra troca, está mal. Pior: choca acordar e ouvir notícias pelas matinas em que a nossa jornalista afirma placidamente que “a vítima foi encontrada morta e já inconsciente” .
A violência é vil em qualquer lugar. As vítimas merecem compaixão e os culpados julgamentos e castigos. O mesmo com os assassinos que rolam nas estradas portuguesas. Semelhante com quem profana dignidades e, em geral, direitos humanos - no Haiti, são muitas as mulheres violadas pelos homens que rondam os campos onde, após a catástrofe, era suposta protecção. Infelicidade é não existir Novo Ano que, chegado o balanço último, altere substantivamente a contabilidade de tristezas e lutos inúteis.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros