"O Almoço do Trolha" - Júlio Pomar (1946-50)
Do Feio reza a história. Desconheço se Savinien de Cyrano possuía a disformidade inspiradora da peça de Rostand. Factos são o Savinien ter acrescentado Cyrano ao nome de Bergerac e estarem os seus despojos corpóreos sitos no Cemitério do Père-Lachaise.
“Pintor algum jamais desenhará
perfil semelhante ao de Bergerac;
mais bizarro, excessivo, extravagante,
grotesco, caricato e petulante!
Penacho no chapéu, capa e espada,
corajoso não perde uma estocada!
Fingindo um rabo de galo insolente
empina-se e enfrenta todos o Valente!
Exímio espadachim, consigo porta
uma crista esquisita, rubra, torta...
Um nariz! Mas que penca gigantesca,
feia, disforme, polichinelesca!
Todos que veem um narigudo tal
pensam: Ah Meu Deus, que hipérbole nasal!
Não seria melhor tirá-lo? Engano!
Jamais o tira o intrépido Cyrano!”
Aristóteles distinguia o Belo e o seu oposto: o primeiro, como indicador devirtude, o Feio como o mal e o seu sinal. Os conceitos primários de hoje quase cópia daqueles. O Feio dominando aparições dum real feito de sombras e de medos. Associado ao cómico e ao obsceno. À dor. À doença. À fome. À guerra. À exclusão. "É considerado feio o rosto dos excluídos, o trabalhador rural, as mãos embrutecidas do operário. É preciso uma estética de libertação a partir dos oprimidos, que são a maioria da população que não se encaixa nos padrões de beleza", li por aí. E negamos o desagradável. Afirmamos, (…)
Nota - texto publicado, hoje, aqui.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
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Brasileiros