Terça-feira, 18 de Novembro de 2014

A IV SERÁ À DENTADA. E É.

Hugues Gillet

 

Das frases atribuídas a génios da humanidade, uma remete para Einstein: _ “Não sei como será a III Guerra Mundial, mas a IV será à dentada.” Pois aí está a quarta, sendo que a terceira foi dominada pela hostilidade Ocidente – Oriente com o nuclear à mistura. Nesta que, por ora, vivemos, mordidas guerrilheiras (violentas entre religiões) e fosso económico dominam. O mundo soçobra na agricultura – solos férteis para cereais dedicados a monoculturas de espécies produtoras de biodisel (Brasil na linha da frente) – na indústria pela recessão global, nos países em que se divide pelo abismo que dilata a distância entre pobres e ricos. A classe média fenece e, sob o escuro da noite, com vergonha assalta lixos, os pobres recorrem à refeição quente diária fornecida pelas organizações camarárias e humanitárias, os ricos amealham com a desgraça alheia. As solidões e desgraças encontram alívio nas redes sociais que proporcionam a ilusão do esbatimento de fronteiras indesejadas.

 

O ambiente colabora na miséria global: no Outono de 2010, na Cidade dos Anjos, 40ºC , catástrofes (anti)naturais no México que mataram, como soe o costume, os mais pobres dos pobres. Quem o tornou desequilibrado e raivoso? A inconsciência, a ignorância, o laxismo, o ‘faz, depois se vê’ que exauriu o planeta e fez dele jangada à deriva atmosférica.

 

O Pacote 3 e os seguintes foram romances em capítulos quando o conteúdo é telegrama económico: _ “Asneirámos, omitimos os contornos do caos. O povo que sofra e remedeie malfeitorias.” Problema: _ Há muito fora, por todos, subentendido. O descaro, o despudor, o cinismo dos poderes não é exclusivo português. Nem nisto almejamos originalidade. Que, então, a procuremos e se enterre a classe média com honras de estado e tumba própria na Basílica da Estrela.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

 

publicado por Maria Brojo às 07:20
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Terça-feira, 29 de Julho de 2014

PAIXÃO PELO BRANCO ESTICADO

 

Maria Brojo (Detalhe de uma das primeiras telas)

 

Há uma tela por comprar. Sonho-a. Nela fiz esboço imaginário. Olho-a de dentro para dentro. Deteto erros e corrijo-os. É experiência nova. Amadurecida. Segue ordem diferente da habitual: apaixonar-me pelo branco esticado, pela dimensão, no instante, pensar obra, adquirir e, em casa, arrebanhar óleos, pincéis, diluentes e cavalete. Meses voaram desde que na fantasia pairam traços e cores. Alicia o perigo implícito da concretização em muito se distinguir do idealizado – são dialéticos os viveres seguintes que o ser interpelam. Paleta doce ou agreste tem a faculdade de modificar conteúdo e tons que da tela farão o que será. E, pelo “Princípio da Incerteza” da Agustina Bessa-Luís, uma certeza: pintura acordada com o acontecido e o por acontecer.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 00:29
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Terça-feira, 18 de Outubro de 2011

“TOCA, SAM”

Trevor Heath

 

You must remember this,
A kiss is still a kiss,
A sigh is just a sigh;
The fundamental things apply

As time goes by.

"Play it again, Sam" e não alteres o tom. Conserva o andamento e permite-me emendar erros que cometi. Isenta de arrependimento. Deles fruindo pelas doces e voluptuosas memórias do ontem próximo. Pela utopia, pela realidade experimentada, pelo conjecturado futuro. Falhado este, vívido aquele. Assim foi para nada ser.


And when two lovers woo,
They still say, "I love you ",
0n that you can rely;
No matter what lhe future brings
As time goes by.


"Play it again, Sam", a frase que nunca existiu. Se ela aguentou, qualquer pode aguentar. “Toca, Sam” foi o de facto dito por Rick após Ilse sair do bar. Ela de coração partido, ele de copo na mão. Os (des)encontros da vida, erros que o (não) foram e derrubaram futuros. Tortuosa realidade comprimindo a simplicidade dos sentimentos. De quem deixa ou se escusa à luta.

Moonlight and love songs - never out of date,
Hearts full of passion - jealousy and hate;
Woman needs man - and man must have his mate,
That no one can deny.


"Play it again, Sam", como sussurro sob o roncar do avião que levará Ilse. Ao despedir-se, pergunta: _ “E nós, Rick?” Ele não hesita: _ “Nós teremos sempre Paris.” Paris, ou outro lugar, digo. Como Rick no diálogo antológico com uma mulher no bar. Quando ela pergunta o que havia ele feito na noite anterior, Rick, indiferente, responde: _ "Faz muito tempo para que eu me lembre". Insistente, ela indaga o que ele fará naquela noite. Ouve como resposta: _ "Não costumo fazer planos a longo prazo". Também eu.

lt's still lhe same old story
A fight for love and glory,
A case of do or die
The world will always welcome lovers
As time goes by.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 06:57
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Segunda-feira, 27 de Dezembro de 2010

DOIS MESES E DEZ DIAS

David Friedrich e autor que não foi possível identificar

 

Ir do Alasca até à Argentina. Viagem/sonho que empolga qualquer um. Eu, mais uma. Nem são necessárias inovações que à rota acresçam adrenalina – já contem estímulos e ilusões muitas. Percorrer aquele traçado geográfico num carro eléctrico é experiência e tanto que remete para a época e aventura do Willy Fog na ficção do Júlio Verne. A Viagem à Volta do Mundo em Oitenta Dias começa numa aposta ressabiada e termina em aventura que sana porque insana. Pois alguém houve que durante dois meses e dez dias, mais 140 até chegar à cidade mais a Sul do planeta na Tierra del Fuego, conduziu veículo tido por lento e com alcance limitado -  SRZero EV, desportivo, movido a baterias de lítio que almejaram 241 km.h-1.

 

Iniciado o percurso em Prudhoe Bay, no Alasca, mês Julho, foram atravessados 14 países até ao destino. Dificuldade esperada e maior: encontrar estações para abastecer o carro. Ou o cenário muda, ou a energia eléctrica e motora não satisfaz quem mais pretende do que viagens radicais – ‘passeio dos tristes’ incluído.

 

Pedagógica aventura esta do Racing Green Endurance Challenge (desafio de resistência da corrida verde) que pode encorajar cientistas e engenheiros a inventiva combinação de matemática e física e confianças governamentais. Venham elas que necessárias são. É que sustentabilidade ambiental não pode ser frase vã.

 

CAFÉ DA MANHÃ

  

 

 

publicado por Maria Brojo às 08:21
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Segunda-feira, 14 de Junho de 2010

EXORTAÇÃO À LOUCURA

Anna Halldin

 

Compenetrados. Sisudos. Revolvem argumentos. Trocam voltas à lógica até ser perdida a emoção. Mísseis terra-terra programados e com retardador. Julgam não falhar o alvo da conduta sensata. Assentam-se na realidade como se alcatrão betuminoso, semi-fluido, os grudasse. Supostamente fiáveis. Referências de estabilidade e ponderação para quem aspira laudas do vulgo. E vão ficando, colados, rentes ao tédio. Que ignoram, estando parados, pelo “eppur si muove” eterno.

 

Dos loucos mais há para contar. Não apenas os diagnosticados que cirandavam em pijama nos semáforos frente ao Júlio de Matos ou em Rilhafoles. Esses são os puros que inventam vozes e fantasmas e deuses malfeitores. Podem ser Napoleões ou argonautas ou exportados de Mercúrio. Felizes na recriação de si. Anormais!, grita a populaça em procissão carneirada que arruma a fantasia em gaveta cuja chave perdeu. Por isso não sabe nem pode reinventar-se. Caminhar aos ziguezagues seguindo o vento Suão. Mistral, dizem os franceses, Levonte, os algarvios, porque os povos também criam e são loucos como os deuses.

 

Andarilhos da loucura não temem borrascas escondida em cúmulo-nimbos nos céus se intensidade e hibiscos (ir)reais são procura. Correm perigos e não cuidam de impermeável ou «solas» de borracha quando raios cavam brilhos e carreiros até morrerem no chão. Ébrios de prazeres, reis protegidos por séquitos de anjos tão loucos quanto eles. Paraíso outro (ou o mesmo?) sem carecer de reserva pelo fastio da conduta ou cinza nas acções.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 14:29
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Domingo, 14 de Fevereiro de 2010

AMORES SEM VIDRAÇAS OU DIAS


John kacere

 

Fuga breve. Sítio outro. Quentura na alma advinda do íntimo, independente da chegada soalheira como Primavera adiantada no tempo e no corpo. Tiritar anunciado desfeito pelo sentir da pele. Água na manta com brilhos verdadeiros. Novidades à esquerda e à direita. Finalmente, na margem percorrida, o condomínio embargado tapou tijolos e ferro e constrói lugares de bom viver. Envidraçados os, antes, buracos. Demandam a água fronteira. O outro lado. Naquele, abatidas laranjeiras no pomar selvagem com a base dos troncos velhos inundados durando chuvas invernosas. Testemunhadas num par de décadas, menos pelo desconto inconsciente da criança.  

 

Mudar de terra desgoverna rituais quotidianos – abundância no desjejum, coordenadas da cama, longe a escolha liberal da lingerie apetite. Muito mais pontifica. Ainda bem, que do costumado há bastante. Até as ondas da rádio crescem frequência, diminuído o comprimento periódico pelos retransmissores locais. E, acordada a mulher para a luz natural, cai dissertação sobre morte e ritos fúnebres. Sem ajuste ao espírito alegremente iludido. Esforço valente para o botão debitar vozes desejadas. A 'menina da rádio' detecta elo que continua e sabe pela vida vivida. Por ele, interroga-se. "Igual ao pai", ouviu dizer desde cedo. No tempo da rebeldia, negava. No crescer, entendeu semelhanças de atitudes, gostos, nadas/«tudos» fundamentais do espírito.

 

O pai foi e seria eterno amor. Fascínio: a mãe pelo requinte, pela argúcia, feminilidade, prendas domésticas, estar generoso e presença. Sente a avó Mamia e os pais como primeiros namorados, entendidos como aqueles que sentem e retribuem amores. Outros vieram e foram. Nos que ficaram, a mãe perdura. Por isso diz “Amo-a!”. Não conta dos rostos colados e beijos que enlaçam o, há muito, enlaçado.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

publicado por Maria Brojo às 11:22
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Sexta-feira, 12 de Fevereiro de 2010

BRANCO SUSPENSO NO AR


Autores que não foi possível identificar


Primeira pedra no chão. Onze dias passados. Avenida da Índia. Belém. Lisboa."Pavilhão de exposição em cristal e aço como testemunho da evidência do Homem no Universo". Autor: Paulo Mendes da Rocha, arquitecto brasileiro, prémio Pritzker, em 2006. Sugerido por Eduardo Souto de Moura.

 

A “caixa do tesouro’ tem conclusão prevista para Outubro do ano próximo. Sem interromper o eixo pedonal Ajuda-Belém, prolonga-o num passadiço com fim na Estação Fluvial. O ‘museu branco suspenso no ar’ apresentará dez metros de pé direito, parede branca suposta infinita, sala maior que relvado de futebol. Alojada a colecção de coches mais representativa no mundo: 130 viaturas, 54 das quais se encontram no actual Museu dos Coches e 32, das 76, do palácio de Vila Viçosa. No antigo museu - o mais visitado em Portugal - fica um núcleo de coches do século XVIII.

 

Solo projectado livre para não entupir a fruição ribeirinha. Quase cinco metros acima, aos passeantes nada impede o caminho. Preservar e engrandecer zona preciosa da 'Grande Alface' é notícia boa.

 

Ondas de choque se alevantam. Afirmado existir melhor destino para o custo estimado dos 31,5 milhões de euros. O movimento/petição “Salvem os Museus Nacionais dos Coches e de Arqueologia e o Monumento da Cordoaria Nacional!” fundamenta:

- projecto ocioso que impede aplicar verbas urgentes e necessárias em projectos culturais de verdadeiro interesse público;
- o novo museu “constitui um verdadeiro 'terramoto' de efeito ricochete na museologia nacional, pois implicará a obrigação de deslocar os serviços do antigo IPA (actual IGESPAR) da arqueologia subaquática, do depósito de arqueologia industrial, para a Cordoaria Nacional e, por esta via, uma eventual transferência do Museu Nacional de Arqueologia para a mesma Cordoaria, que é Monumento Nacional desde 1996.”

 

Requerido:
- intervenção rápida no sentido de travar o projecto em curso do novo museu dos coches, garantindo assim a manutenção, nos espaços actuais, do Museu Nacional dos Coches e do Museu Nacional de Arqueologia e a conservação da integridade física e técnica original da Cordoaria, enquanto monumento nacional de interesse internacional.

 

Duvido, como princípio derivado da experiência – o projecto do Centro Cultural Belém foi lição entre muitas – dos ‘profetas de mau agouro’ postados em «Restelos». Porque a concha da minha mão deixa escapar verdades, divulgo o novo e seu oposto. 

 

CAFÉ DA MANHÃ
 

 

publicado por Maria Brojo às 08:58
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