Segunda-feira, 26 de Março de 2012

‘FAZ-DE-CONTA’

Geoorge Owen

 

      Esquecido o telemóvel na mala de faz-de-conta, própria dos arranjos excecionais, tocou. Para lá de sensata, a hora. Esquecidos sessenta minutos de diferença entre o relógio dela e o dele. 

_ Estás bem?

_ Nem bem, nem mal. «Meia-foda». Já saiu.

 

       Por não ser mulher de ficar sem entender, quis saber o que era coisa aquela.
_ Nem é, nem deixa de ser.

_ Como assim? Ou é, ou pela metade é à mesma. Menor, talvez.

_ Palpar e esfrega. Ela não quis mais.

 

       Remoeu o porquê. Deles e delas, ouvia semelhante. Diferente o durante e o balanço. Elas não fornicaram, eles tiveram o assim-assim. Para a mulher, copular é penetração. Para o homem derrame fluido, haja ou não entrar e sair, vaivém que no mesmo culmine.

 

        Em que ponto da espiral genética, ou em que meandro cerebral se alojará a diferente leitura que do mesmo faz um homem e uma mulher? Construções da civilização? Registos biológicos distintos no feminino e masculino? Para o homem basta o despejo que mulher receba no rosto ou na pele? Não. Se lhe ligara àquela hora, fora poucochinho o momento.

 

        Por serem múltiplas as vidas, o (des)entendimento no discurso entre os géneros não se restringem ao sexual. Interpelavam-na códigos inúteis. Sabia que ele dizia as mulheres prolixas. Porque românticas, julgava-as frágeis aos violinos quando o fito masculino era estritamente cartesiano – vazar órgão. Que constatava, desiludido, as inúmeras fêmeas que, naquele particular, ombreavam com ele. Porquê? Por não abdicarem da lança que, desde sempre, fez dos homens caçadores? E se a mulher usar arma semelhante na busca de sustento interior? Galdéria ou frívola? Nem um pouco! Reforço da estima que a si dedica e nem sempre atinge o satisfaz. Antes pessoa que lê e se adapta aos sinais enviados pelos tempos. Que cresce. Distingue desejo e amor. Como os homens. Como deve ser. Adestrados uns e outros para a contemporaneidade. No melhor e no pior.

 

        Ao desligarem, retomou o pré-sono. O José de Lima fora encantador. Como o jantar no Blakes. Explicara a escolha da Oude Kerk para a exposição – Saskia, a primeira mulher de Rembrandt, ali sepultada. O românico iria bem com as formas e veladuras que distinguiam a pintura da Olga. Idos da pintura italiana e do Vélazquez recriados. O Garcia Lorca presente nas palavras a óleo. 

_ Uma sorte estar disponível para a data que ajustei. Amanhã levo-a para sentir o espaço.

_ Quero! A que hora me vai buscar? 

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 12:18
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