Bruce Huffman
Todos os encontros da vida são, de um modo ou de outro, "blind dates", por nunca adivinharmos o futuro. Não são estes que, por ora, refiro. Falo doutros: aqueles que a mútua vontade de um par, entre si desconhecendo presença corpórea, determina. Entre nós, pergunto baixinho: quem nunca os teve? E não, não vale aferrolhar a memória - confessar acasos da fortuna não merece contrição.
Na origem de um 'encontro cego', salvo os arranjados por amigos casamenteiros que a esmo impingem bem intencionadas parelhas, existe o apelo do mistério, a fantasia da ‘alma gémea’, talvez um prévio teclar com o potencial date na teimosa esperança dele ser o «tal», a concretização do mito sebastiânico dum amor para a vida.
O problema destes encontros está no que mais alicia: o ignorado. No devaneio antecedente, o outro é esculpido com cinzel hábil e generoso; quando o frente-a-frente acontece, aí só resta aguentar o risco. Afinal o D.Sebastião toma banho em água de colónia, tem caspa nos ombros, olhar mortiço, mãos sapudas, gagueja de consumição, é prolixo. Enfim, um chato do caraças! Isto supondo não sair na rifa simulacro de 'aluno de Apolo' - marialva com bigodinho -, ginasta empertigado que o «V» do corpo exibe. Pior: usar fio de ouro, vestir calças encarnadas e camisa da Tommy, às riscas, e pullover branco da Ralph Lauren pelas costas. Muito pior somente o visual à padeiro: calças e camisa de linho branco. Que fazer? Alegar queda de tensão e fugir para casa? “Afinal estou grávida e prestes a vomitá-lo?” E se for potencial violador? Haverá disposição para relaxar e suportar a violação como recomedam ginecologistas ou sair de casa com xizato no sutiã ?
Por estas e muitas outras razões, existe recurso infalível - marcar a «escape date call». Numa dada hora, receber telefonema previamente combinado a servir como desculpa fantástica para fugir do ogre. É fácil, barato e eficaz. O ovo de Colombo para uma fuga polida.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros