Sábado, 16 de Julho de 2011

SOBRE OS MALEFÍCIOS DO «GARROTE»

Bart Lindstrom, Boris Vallejo

 

Título comprido: Ministra da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território. Para quatro áreas tão distintas condensadas numa só, deve ter assessoria dum regimento de secretários e distintos conselheiros. Que assim seja, apesar do emagrecimento em ministros do actual Governo – versão Junho de 2011 – com a finalidade de poupar uns milhares, mais do dobro seja gasto nos múltiplos subordinados/assessores. Mas nada percebendo de finanças e ficando-me pelo “eu cá acho”, quem mais souber se pronuncie sobre a despesa da corte que ela e outros rodeiam.

 

Primeira medida visível de Assunção Cristas: «desengravatar» os homens que trabalham nas repartições sobre a sua alçada, aceitar vestimentas mais leves e descontraídas de modo a economizar na energia consumida (30%, calculou) pelos ares condicionados. Anualmente, doravante, de 1 de Julho a 30 de Setembro a temperatura nos edifícios que alojam ror de gente estará regulada para 26o Celsius. Bem pensado, melhor feito. Não é acaso o gesto de à saída o trabalhador dar folga ao laço do penduro. Quem sabe a descontracção no trajar desfaz a pose habitual, facilita as relações laborais e melhora a produtividade de instituições onde o ranço do “deixa andar” é, tradicionalmente, lei?

 

Grandes empresas apostam há muito na sexta-feira sem garrote e com vestuário informal. Razão semelhante, apartando o consumo energético, é concluído a regularidade do fato completo, sem colete – era o que faltava! – e os tailleurs das funcionárias como norma absoluta obstaculizarem desempenho eficaz e criativo. É que abuso nas regras, todas somadas, entope e torna pardo qualquer um.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 10:34
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Terça-feira, 1 de Março de 2011

CINCO CARREGOS IMPLÍCITOS

Ben Long, Boris Vallejo

 

Pediu-lhe ajuda nas compras semanais. Por resposta escusa frívola. Foi sozinha, como tantas vezes outras. Demais. Encheu o rodas até transbordar. Cinco carregos implícitos: da prateleira para o carrinho, deste para o tapete da caixa, depois para o automóvel, para o elevador, após, do hall comum para casa. Ele não estava.

 

Pela sobrecarga, sentiu dor no pulso direito, ombro acima em rota descendente - era dextra abusadora da condição. Arrastou os sacos para a cozinha, fechou a porta da entrada e, como se fosse dia sétimo, descansou instantes. Enquanto bebericava chá verde e frio sentada em frente da janela ampla que emoldurava colina sem construção, sentiu-se menor. Meditou nas razões: à custa de paz falsa, suportava em silêncio a revolta pelo carinho medíocre, ausência de partilha das emoções, por lhe caberem tarefas pesadas e solitárias que deviam ser comuns, pelo sexo e rotina pobres. Raras vezes verbalizados os factos por conduzirem a diálogos estéreis quea fatigavam. Sem coragem para confrontamentos decisivos que perigrassem a alternativa da conjugalidade obtida – outras diriam mais-valia  no tempo de ‘homem a tiracolo’ para mulher ser -, desiludida pelos antecedentes de ‘cama, sim, compromissos, nunca’, submetera-se. Reconhecia o erro seu. Vivia a conformação.

 

Ele fora paixão. No presente, amor e amante vago. Deu por si desinstalada num relacionamento com alicerces de junco. Ela tão frágil como eles. Deixou os sacos cheios pejando meia cozinha. Bateu com força a porta. Saiu.

 

Faria insistentes pedidos de «volta-atrás». Ela que não. Regressou, com pré-aviso, para retirar pertences. Não lhe fizeram mossa as tentativas dele conciliar o impossível: a necessidade confortável que para o homem era, a consciência do mais querer bem cheia no peito dela. Caminho solitário? _ Talvez. Sexo de ocasião ditado pelo apetite? _ Sim. Noites desempecilhadas na cama exclusiva? _ Venham muitas! Preferíveis a amores de faz-de-conta afastados do âmago da mulher.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 06:30
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Segunda-feira, 10 de Janeiro de 2011

QUE O MONSTRO ENGULA AS LÍNGUAS

Boris Vallejo e Julie Bell

 

Aberta, oficialmente, a época da caça ao voto. Um Golias treinado, protegido com pesada cota de malha em bronze, Lami, do anterior falso irmão e com menos côvados de poder, mais uns aprendizes de líderes dos filisteus já antes haviam arrebanharado lanças, dardos e espadas. Armados até aos dentes, juntaram sofismas ao equipamento guerreiro. E os ‘David’, coitados, olham ao alto engasgados pelo desespero do advir e bradam a pergunta fatal: _ como derrubar monstro com tantas cabeças? Olham ao redor e na margem do riacho da Verdade encontraram seixos polidos. Com eles encheram saco. Fechado, até ver, até passarem as horas todas do par de semanas que trará o combate final entre os ‘David’ e o monstro caçador das múltiplas cabeças. Nesse momento, aberto o saco de pedras. Dos bolsos, saídas fundas. E porque a sorte protege audazes, delas esticarão o couro. Pontaria talvez afinada. À vista, as bocas escancaradas do monstro em forma de quadrados no boletim de voto. Sem hesitações, é preciso que rodopiem as fundas e os seixos atinjam o alvo. Perplexo, sem estrebuchar, o monstro engolirá as línguas. Feito desfeito se estupidamente inocentes ou maliciosos infiltrados no exército dos ‘David’ optarem pelo seguidismo.

 

CAFÉ DA MANHÃ

  

Cortesia do António.

 

publicado por Maria Brojo às 08:24
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Segunda-feira, 26 de Julho de 2010

À ESPERA DE PERSEU

Boris Vallejo

 

Bela como poucas. Olhar marítimo, corpo-obra de cinzel talentoso. Alta. Cabelos soltos para lá dos ombros. Encandeia pela simplicidade e inteligência. Pelo riso leve. Pelo todo harmónico.

 

Tinha emprego seguro que lhe aproveitava os dotes e a preenchia. Mulher só com filhos. Quando a Medusa, já assassina pelas serpentes no lugar dos cabelos, mãos de bronze e asas de ouro, a lobrigou, teceu estratagema que aniquilasse a mulher. A duzentos km de distância, instituição credível dispunha de emprego em oferta. Salário dobrado, ajudas de custo, bem-estar crescido na pequena família. Aceitou.

 

Passado mês probatório, o responsável chamou-a. Impressionara-o a diligência e criatividade no trabalho. Reunia condições para assinar contrato. Na secretária o documento-selo da situação. Antecipou ter feito reserva para fim-de-semana  em pousada. A dois. Sem estrangular a fala, ela desmentiu:

_ Não mereço ser provida no lugar. A minha dedicação laboral termina sendo requeridas competências outras não incluídas nas profissionais.

E saiu. Hoje, desempregada, sobrevive dignamente pela ajuda dos pais. Conta cêntimos e o rombo na alma.

 

Que venha Perseu com o escudo polido oferecido por Atena espelhando o reflexo de olhar perverso. Que o capacete  de Hades o deixe invísivel. Que calce as sandálias aladas de Hermes. Que decepe a Gorgona e enfie o despojo sangrento na bolsa presentada pelas Ninfas. Que os humanos fiquem libertos das garras cortantes e do olhar mortal das Medusas na forma de homens e mulheres predadores.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 09:50
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